quinta-feira, 30 de junho de 2011

UMA VOLTA - parte 3

Ela sabia que ele não voltaria. Não que ele tenha dito algo, mas ela sabia lê-lo de uma maneira precisa que, no início, o encantava, e agora, tanto tempo depois, o sufocava.

Quando ele não voltou naquela noite, ela sabia, ele tinha ido se acabar em algum lugar. Algum bar bem fuleiro ou algum puteiro mais fuleiro ainda.

Ele era um homem falsamente sofisticado. Ele sabia o que era bom. Conhecia boa comida, boa bebida, boas pessoas. Mas havia algo no submundo das coisas ruins que o atraía de maneira desesperadora. As drogas, as putas, os vagabundos e viciados eram, ele achava, grandes companheiros. Eram pessoas que não esperavam nada dele. Eram seres inofensivos, com quem ele não precisava se preocupar em desapontar. Eram meros coadjuvantes na história cujo único personagem que importava era ele, certo ou errado, mesmo que isso não tivesse mais importância pra ninguém agora.

Ela sabia disso. E isso o deixava louco. Ele não queria compreensão. Ele queria apenas viver qualquer coisa que o fizesse se sentir vivo, mesmo que para isso precisasse morrer um pouco.

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