segunda-feira, 24 de outubro de 2011

TODO DIA

Todo dia, bom dia. Todo dia sol, todo dia céu. Todo dia sim, todo dia não, todo dia calor, todo dia frio. Todo dia boa tarde, boa noite, até logo. Todo dia é assim. Outro dia é passado.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

UM MOMENTO

Foi um encontro inesperado. Já havia passado muito tempo e haviam se esquecido um do outro. Obviamente não tinham se apagado da memória. Essas coisas são assim; a gente vai esquecendo com o tempo até que chega um dia e nem pensamos mais no assunto. É o tipo de coisa que não se planeja, que não se conquista simplesmente querendo. Depende de outras coisas, independe das vontades. E eles haviam se esquecido. Até aquele momento.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

QUANDO AS COISAS MUDAM

Eu não percebi que era importante. Há um tempo de maturação das coisas, um caminho onde você vai e volta com alternativas confusas pelo meio. E assim nem a ida nem a volta são iguais, como uma viagem de destino pretendido, mas incerto. Eu não percebi que era uma viagem importante. Eu achei que era só mais um final de semana.

O suficiente

Discutiam a fórmula do sucesso. A equação que lhes daria alegria e paz, mesmo que soubessem que esta não era uma equação tão simples quanto parecia. Sabiam, ambos, que suas histórias estavam irremediavelmente ligadas, mesmo que não quisessem mais… porque mesmo que não quisessem mais, ainda queriam.

sábado, 15 de outubro de 2011

CAIXA DE MÁGICAS

A menina chegou com uma caixa de papelão e colocou em cima da mesa. Ele olhou surpreso para a caixa, depois para ela. São fotos, ela disse, enquanto estendia a mão para dar a ele uns dois ou três álbuns que tirava de dentro da caixa. E aquilo parecia uma cartola, de onde um mágico poderia tirar um coelho, uma flor ou lembranças com cores e formas impressas no papel brilhante, cheirando à tinta e à tempo.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Falta fatal

Era uma dorzinha esquisita. Espetava assim meio embaixo da costela. Dava um misto de mal estar, vertigem e ansiedade. Ele ficava um pouco chocado quando sentia. Mas não gostava de falar do assunto. Não levava a dor à sério. Já meio que se acostumara a ela. Era algo assim como uma saudade. Na verdade, pensava, devia ser só isso mesmo. O que não diminuía sua impressão de que às vezes a dor parecia uma ameaça fatal.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

MEMÓRIA CURTA

A gente esquece que pode cometer enganos, que pode se magoar, que pode magoar os outros. A gente esquece que pode ficar pobre, que pode ficar doente, que pode ficar triste, independente de nossas escolhas. A gente esquece que vai ficar velho, que vai perder coisas, pessoas, esperanças. A gente esquece que vai morrer e que esta é a maior certeza de todas. E a gente perde tempo com coisas bobas, inúteis, rancores, rumores. A gente devia gastar mais tempo com o amor e as coisas boas. Não deve esquecer que é isso que nos faz sentir vivos. E, se estamos vivos, melhor viver sem se esquecer do que importa.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Tolices

Um dia vou me cansar de escrever para você.

Um dia, que pode ser hoje (acho que não) ou amanhã (quem sabe?), tudo isso vai ter passado. Vai ser passado. É lá que moram as lembranças, inclusive aquelas de coisas que não vivemos, esperanças perdidas, histórias do nosso livro que são apenas ficção, poesia sem sentido, imagens que só eu entendo – e talvez você, coisa que não saberei.

Um dia eu devo me cansar. Será que a gente cansa? Será que o amor é mesmo essa coisa mortal e rancorosa, que queima como um anel de fogo até não sobrar nada?

Um dia talvez eu me canse. Talvez eu descubra um jeito. Talvez eu fique sem jeito diante das coisas dando certo, diante de outros amores, de outras histórias, de outros livros que vou escrever.

Talvez eu fique sem ideias, talvez eu fique ocupada, sem saudade, sem sentir nada quando ouvir aquela música ou vir aqueles lugares, bichos, comidas, lençóis, cervejas, fotos, palavras em caixa alta, alinhamentos estranhos e precisos, filmes preciosos e curiosos, coisas sem sentido.

Um dia talvez faça mais sentido não pensar em nada disso. Não falar mais sobre isso.

Um dia talvez eu supere os silêncios. E me dê conta de que você simplesmente não gosta das minhas palavras como não gosta de pepsi light.

Um dia eu vou perder o impulso de ir até a frente da sua casa e gritar seu nome. E dizer como você é idiota. Como é burro. Como é esquisita essa sua lógica de me tratar como visitante indesejável, que ficou tempo demais na sua vida.

Um dia, com algum esforço, eu devo me esquecer dessas coisas. Vou lembrar de outras. E nenhuma terá traços seus nelas.

Um dia deve haver esse espaço, essa chance.

Até lá… te arranco, letra por letra, linha a linha, em poucos espaços e parágrafos. Despejo nas palavras o rancor que não ouso sentir nem usar. Ele não me serve, assim como as palavras não te servem. Elas não estão aqui a seu serviço nem às suas custas. Elas só me fazem companhia; exercício solitário de quem tenta se livrar do que sente do único jeito que sabe.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

VAGA-LUME

Você me encanta e me desaponta. Faz uma ponta. Não tem vocação, talento ou desejo pelo papel principal. Não quer mais do que pode. Não sabe o que pode. Limita-se. Desiste. Insiste na sorte. É bom com ela. É bom com todos. Te falta maldade. Brilha mais que pode. E sua luz fulgaz me confunde.

Alô?

O que você queria? Uma boa notícia todo dia?

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

PAR OU ÍMPAR

Esse parecia só mais um daqueles momentos. Já sabia, era sempre assim - ela ficava um tempo quieta, parada, calada. E o mundo parecia não se mover ao seu redor. De repente acordava e colocava todo mundo para correr. E de novo as coisas voltavam a funcionar de acordo com sua lógica louca, cheia de cores e valores muito ímpares. Ele via isso acontecer e não podia fazer nada. Era só mais um daqueles momentos. Par ou ímpar.