domingo, 10 de julho de 2016

Seres semelhantes

Foi naquela noite, enquanto eu subia a rua, olhando para o chão com as pálpebras pesadas, tentando não pensar em nada mas inevitavelmente conversando com as tags pelos muros e os padrões geométricos do chão, que tive uma impressão assustadora. As pessoas que passavam por mim descendo a rua no sentido contrário pareciam todas iguais. Homens, mulheres, independente de gênero e cor, todos pareciam absolutamente iguais. A parábola da minha história tornava-se real de uma maneira surreal. Já fazia um tempo que eu reparava nisso, na verdade. Já fazia um tempo que as pessoas todas que eu conhecia assemelhavam-se. Inclusive as pessoas novas, que eram praticamente cópias das pessoas mais antigas.

[24 de março de 2016]

epifania

por duas vezes essa semana você me ligou no meio da madrugada e eu não atendi. mas isso me fez sorrir de manhã.

desde domingo algo mudou completamente. foi como a queda de um muro e a ruína de muitas incertezas. novos horizontes que apareceram através dos escombros.

desde segunda fico tendo esses flashbacks. a luz avermelhada que tinha a noite. o ar tão frio que quase molhava a pele. o chão cheio de vestígios. as vozes ao longe, fade out no meio da bruma e da escuridão, morcegos voando, o som metálico que ecoava dos arcos atingidos pelo kraftwerk.

de lá pra cá, entre palavras, onomatopéias e desencontros, penso sobre o sincronismo sincero do acaso. não há nada como essa epifania.