terça-feira, 31 de maio de 2011

PERDA DE MEMÓRIA

Perdi meu chapéu e minhas luvas. Nunca saía com nenhum deles. Ficavam aqui, dormindo preguiçosamente na gaveta de baixo e na prateleira de cima. Me olhavam com misericórdia toda vez que eu abria a gaveta ou pegava o boné. Agora, veja só, perdi. E agora eles andam por aí, em outra cabeça, em outros bolsos, mãos ou gavetas. E minha história boba com eles termina assim, sem querer.

CORES INESPERADAS

E então, quando surge algo fora do esperado, a gente pode reagir, como é de nossa natureza. Ou pode apenas aceitar, como costuma ser com mais facilidade da sua.

E a noite pode ser fria, quente, longa, infinita. Pode ser só mais uma noite de segunda. Uma noite de cores sóbrias, quase sérias e óbvias.

Por um mero detalhe, porém, as cores desta noite não são quentes, mas são vivas, sinuosas, confusas, misturadas. São cores de masala, inebriantes e inesperadas. Algo que só funciona assim: com vontade e cautela, com cuidado e violência, com o ritmo natural e sem lógica que a vida tem.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

TEMPO PERDIDO

perco meu tempo perdendo você.
perco a hora, a compostura.
me perco no caminho.
me perco tentando encontrar.
e só encontro quando deixo de procurar.

PREVISÃO PARA A NOITE DE HOJE


Céu claro, praticamente sem nuvens, é efeito da massa de ar frio que invade a cidade de SP agora que o sol desmontou a guarda. A tal massa, danada, vai derrubar as temperaturas dos infelizes termômetros de rua a números cruéis de um só dígito. Melhor pensar em algo quente para fazer hoje a noite.

(informações do Climatempo, reinterpretadas livre, mas seriamente).
30/5/2011

domingo, 29 de maio de 2011

WICKED GAME

If you're gonna use me, babe, you better watch out cause I'm good in this game. If you're gonna treat me, baby, like you use to treat your bad asses friends, you better think again cause I can be bitchy like a beautiful and angry cat. And baby, I must tell you, you're gonna be scratched like never before in your little life. You will live. Oh sure you will be just fine and won't have a scar or anything. But you will remember, babe, that some scratches we have to be brave enough to dare and wise enough to avoid. That's why I say: if you're gonna use me, babe, you better bet high cause I don't play cheap. 

sexta-feira, 27 de maio de 2011

CANINOS SUSPEITOS

amanhecia e a mudança da luz repentida deixou a garota confusa. há pouco sentia um pleno controle da situação. mas agora tudo parecia um pouco diferente. perguntava-se se um dia voltaria a ser um pouco mais firme sobre as coisas que pensava. 

AQUAVIT

gosto dos desenhos no teu braço. gosto do teu braço. gosto quando você me olha como um homem mau. quando cerra os dentes com mais maldade e dureza na pele do que realmente sente o coração tatuado com letras delicadas no teu peito. gosto do gosto que você deixou na minha boca. foi como uma bebida exótica, dessas que você toma num país distante uma só vez na vida e nunca mais esquece. 

COISAS QUE PASSAM

acordei com a chuva inesperada. esqueci que no rio de janeiro também chove. esqueci que já é fim de maio. meu sono passa, a chuva passa, o tempo passa. por que não você?

QUANDO ELA PARTE

ela vai embora e estranhamente o silencio desaparece. poderia ser o contrário, mas não. todos os barulhos da cidade parecem ter acordado com sua partida. ele pensa nisso. pensa nela e sua cabeça se enche de pensamentos que não tinha quando ela estava ali. e embora ela volte, embora ela devolva, embora ela se entregue, ele sabe: é na lacuna de sua partida, no silencio que ora partilhavam e nas coisas que não fizeram que reside, de fato, o amor estranho que sentem.

sábado, 21 de maio de 2011

PROBLEMA DE LÓGICA

te chamo e você não ouve. te chamo e você não atende. te chamo e você não entende. me calo e você volta porque as coisas acontecem de acordo com sua falta de lógica.

WHEN YOU LOOK ME

Hey Mad Dog, it’s funny how these things go. Just saw your father and thought how you’ll be just like him someday. Just thought that as I’d know him, just as though I know you. And you know, I’m clueless, don’t know anything, except for that sweet and sharp sadness in your eyes.

IMPACIENTE

me falta paciência até para o horóscopo. até para as coisas gostosinhas, óbvias de plantão. me falta.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

VERTIGO

gostava da vertigem que os homens altos lhe davam.

PRESA

eu fico. mas meu coração parte.

QUANDO COMPLICA

Sentiu que as coisas iriam complicar. Sabe aquela sensação de que se você der mais um passo tudo pode explodir? E no meio da tarde ensolarada começa a tocar sound & vision, como se David Bowie pudesse imaginar lá de seu planeta distante como as coisas andavam complicadas por ali.

CONSELHOS INÚTEIS

não queria seus conselhos. queria só o seu amor...

PRIMOS IRREDUTÍVEIS

Não entendo porque quando três é um elemento irredutível não é primo. Não entendo como podem ser os números, inteiros, primos ou irredutíveis, infinitos. Não consigo mensurar a infinidade deles. Mas gosto de saber que eles não acabam, incontáveis como as estrelas, irredutíveis e primos por afinidade, possíveis e raros como um encontro na Colômbia.

SONO CUIDADO

Quando abriu os olhos ele estava lá, olhando pra ela. Fazia tempo, ele disse. Mas ainda era cedo, ele disse. Então ela fechou os olhos de novo. E ele ficou lá, olhando, sem dizer mais nada.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

CAT FIGHT

Ganhou uma gata preta a quem chamou de Dorothy porque era escura e brilhante como um pedaço de veludo azul. Ela cantava imitando Isabela Rossellini para entreter a gata, que a encarava com seus olhos amarelos cheios de desdém. Agora dormiam juntas. Era gostoso, especialmente nessas noites frias. Amanhecia arranhada e ralhava com a gata, que a encarava com seus olhos amarelos cheios de desdém.

COISAS IMPORTANTES

Ele dedicou uma música ao sol. Ele fazia isso. Me dizia sempre coisas que me custavam muito para entender. Falava sobre o prazer de estar vivo e poder em mais um dia fazer algo decente. Ele dizia que isso era importante. Dizia que eu era importante porque eu conseguia dizer coisas importantes para as pessoas, mesmo sem querer. Ele tinha essa mania, de achar tudo importante.

O QUE NÃO VEJO

Havia nos olhos dele qualquer coisa que eu não conseguia entender. Eram olhos cuja cor eu não conseguia distinguir. Tinham um brilho que não pude dizer se era de tristeza ou de maldade. Eu queria que ele me dissesse o que pensava, mas ele não dizia, ele só me olhava. Ele olhava e via tudo. Eu tentava, mas me sentia cega.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

CORES DE SEGUNDA

é só mais uma noite. faz frio. não importa. ficamos mais velhos. ficamos mais livres. livres de nós mesmos. somos nós outra vez. e somos novos de novo. somos sós, mesmo juntos. somos tudo o que sobrou desta segunda. mesmo que de segunda mão. somos uma segunda demão, que brilha, que desbota, que nos escapa à meia noite e vira terça.

Quando não há

Me pergunto se você gostaria de saber. De receber, de repente, o que escrevo aqui à esmo, mesmo sendo pra você. Me pergunto se você gostaria, se saberia, se haveria valor, pelo menos algum, pra isso. Pro que sinto e transformo nisso, formas disformes, sem sentido exceto para mim. E talvez para você. Mas você me acha complexa. Diz que não entende o que digo. Ou o que eu tento ou gostaria de dizer. Porque talvez eu não diga. Talvez eu não diga bem. Ou na hora certa, do jeito certo. Tudo bem. Sei agora que não há outro jeito. Nao é da minha natureza acertar o timing com você. Nao é da nossa natureza fazer sua historia juntar com a minha todos os dias. Meu karma, seu destino, nossas possibilidades só acontecem assim: improváveis, impossíveis de se repetirem, conto de fadas sem príncipe, sem princesa, sem final feliz.

SÓ ISSO

sou triste, sou feliz. sou pobre. e sou rica. sou saudável. e sou doente. sou egoísta, mesquinha, arrogante. e suave, verdadeira, delicada. sou mentirosa. e sincera. sou grossa, rude, estúpida. sou frágil. indefesa, menina. sou perigosa, ameaça, problema. sou complicada. sou simples, vítima, ingênua, problemática. pirada, inconsequente, masoquista. e cruel, calculista, obstinada. sou medrosa. e ousada. sou tímida. e escandalosa. sou lerda. intensa. desatenta. e sempre alerta. sou ouvinte. e falante. sou desesperada. e irritantemente insistente. e paciente. e descontroladamente ansiosa. sou engraçada. e melancólica. ausente e nostálgica. surpreendente. e óbvia. esforçada e cansada. teimosa e resistente. superficial e infantil. madura, intensa. sonsa e pedante. sou tanto. e sou nada. sou muitos. sou só. e acho estranho quem não é.

VÍCIOS E MEMÓRIA

peguei da estante agora aquele livro que você me deu. ele estava soterrado por outros e eu acabei me esquecendo dele. não sei porque, mas às vezes as coisas se acumulam assim, quase rebeldes, sem a mínima chance de controle. o livro estava com a capa amassada. ficou com cara de descuido, mas nem foi. a verdade é que os objetos também têm vícios e memória. como nós. e agora eu tenho esse livro de capa amassada, como a me dizer que não o cuidei bem. vou lê-lo com carinho e pensar em você, a quem eu talvez também não tenha cuidado direito. um dom que não tenho... vou lê-lo como minha forma de me desculpar, me redimindo a uma história que eu não sei como termina. como essa nossa, descuidada e viciada.

that night

you're trouble. and I tremble. stumble. you have a kingdom. I'm just a joker. you play the cards. you call. I bet. I loose. but win you in a rainy night. you call, you fold. I stay in, I win. we win. and sleep tight, me in your t-shirt and arms. you in my skin and bones. an endless dream.

domingo, 15 de maio de 2011

PITANGUEANDO

Pitangueira carregada. Vigiada pelo mar, observa os convidados que chegam na ilha para o casamento. E não dá a mínima. Dá frutos. Frutinhas vermelhas, vibrantes, ácidas e gostosas. Pitangueira boba.

sábado, 14 de maio de 2011

LIMBO

a dúvida é o limbo. é onde você enfrenta, por escolha própria, os monstros da sua imaginação, da sua leitura dos fatos. se você tem dúvida, não vence. e se não tem, não avança.

Pé direito baixo

O dia estava estranho. Já tinha feito frio, tido neblina, sol, calor e agora aquele vento exagerado, com chuvisco e tudo. Viam a transformação do clima de uma casinha, no alto da montanha. Pensaram que dali estariam isolados do mundo. Bobagem. De repente o tempo muda, o vento muda e não somos mais as mesmas pessoas exatamente por isso. Não há isolamento possível.

Experimentavam então dividir isso. Dividiam o momento como se ele fosse comestível, como se pudessem cheirar o fundo do copo e encontrar as mesmas referencias estranhas – notas de baunilha no nariz, um sabor forte e impreciso no fundo da língua. Um gosto bom de coisa nova e familiar ao mesmo tempo.

Quando a ventania começou, sentiram uma nostalgia estranha, de outras pessoas, de outros sabores, de outras coisas que não pertenciam àquele tempo. Queriam estar ali. Queriam-se. Mas não estavam conectados com o tempo lá fora, transfigurando a paisagem na janela, onde o céu descia lentamente e empurrava as nuvens para baixo, como a pressionar o dia, deixando seu tento baixo e opressor.

Estavam ali agora, diante um do outro, em silêncio, pensando nas mesmas coisas. coisas que a gente não diz pro outro de repente. Coisas que a gente guarda ou transforma em música, poesia, crônica ou num pensamento dentro de um taxi que vamos esquecer em seguida e aí perdê-lo para sempre.

Estavam ali um com o outro e estavam lá sozinhos também. Eram dois e eram vários.

O dia lá fora seguia confuso, agora com o sol ameaçando aparecer de novo. Ali dentro a mudança era delicada como a mudança de cores no arco-íris.

You know I’m such a fool for you

I was ordering the CDs. As an attempt, maybe, of putting some order in my own life, such a mess for a while now.

It’s easier than it feels but it’s incredible hard somehow, in the sense of really doing it: put order into a chaotic mess made by no one else than ourselves.

It’s quite challenging, actually, once inevitably you’ll find yourself surrounded by things you don’t wanna deal with. Side effects, you know? There’s no other way of trying to sort out some things unless you mess up some pieces that you need to move and, as a consequence, some pieces around them.

And then, when you look at yourself, you are all spread out on the floor, trying to find pile “L”, overwhelmed by lots of albums you were not thinking about anymore. And you got surprised with the oddity of the pile “B”, gigantic. And you sneeze because of the dust hidden lazily and sneakily under the previously non-sense-ordered piles. And you think of all that dirt side of the job you’re now obliged to complete.

You can find me shallow and lazy and maybe a bit crazy for having this kind of behavior. It looks such an easy task for you to keep up things exactly were they belong to. Not only ordered but also impeccable – at least that’s the impression I have when I look at your pretty little things and objects and pictures and lined bottle beers…

But somehow, now, I don’t really mind if you think I’m shallow, lazy and crazy for having such a messy way of life. I kinda like it. And also I guess I don’t feel guilty anymore for failing in keeping a more organized and well handled things. Guess I discovered I have a problem with boundaries, delimited spaces, timelines. Guess I experienced the extremes and could never go back to the center and stay there. The balance for me, somehow, is not steadying myself in the middle anymore.

While I get tired of piling the fucking dusty CDs, a never-ending-task as it appears now to be, I think of saying all these things to you in one of those meetings we’ve never found a way to have. And then this song starts playing on the radio – and I feel completely stupid for being listening to the radio having so many CDs surrounding me on the floor – and this song lyrics suddenly gets my goofy and distracted effort of focus. It says you know I’m such a fool for you… and I agree.

I’m such a fool for sharing these thoughts mentally with you… I feel like I’m begging you to let me in and always feel you won’t ever allow me to.

I feel fool for trying so hard letting go of the unsuitable pieces… and just can’t convince myself that they’re not important anymore.

Anyway I’m such a fool for you. But that’s ok. Guess I can live with that.

terça-feira, 10 de maio de 2011

POUCO

tenho pouco de você. tenho cacos, fragmentos de histórias, como essas que escrevo. tenho aquele dia, em que te vi de ponta cabeça e nem sabia com tudo depois viria a ficar de ponta cabeça também. e aquela vez em que dançamos merengue descalços, observados pelo incrédulo homem-aranha na parede. e a vez em que tentei desamarrar as suas botas de zíper.

tenho pouco de você. não houve tempo... não fomos àquele clube de salsa, nem fizemos aquela viagem sem destino. você não me preparou aquele chilli. não me deixou dormir no seu colo enquanto víamos aquele filme da barbra streisand. e eu acabei não te fazendo a proposta de terminar toda a discussão com um beijo cinematográfico.

engraçado como o pouco que tenho de você parece tão maior mas mais frágil do que não pudemos ter.

LUA MINGUANTE

ele perguntou: como está o seu coelhinho agora? ela respondeu: perdeu as orelhas... e parte da cabeça! ele riu. ela suspirou: ai, e agora vem esse gato de riso dissimulado. comeu as orelhas e a cabeça do coelho e ri maliciosamente, como se nada tivesse acontecido. "cada vez mais interessante", diria o coelho.

Um dia de verão, uma tarde de outono


há tempo de sorrir e tempo de chorar. e é muito bom poder fazer as duas coisas quando tem vontade. sem vergonha, sem pudores, sendo verdadeiro com o que sente e com as pessoas que estão à sua volta.

MODO MEU

tenho meu próprio modo impróprio de fazer as coisas.

domingo, 8 de maio de 2011

PLAYING ALONG

these things happen... and they're more and more fragmented everyday.

GOSTOSA



ter mãe legal é legal. e ter mãe gostosa é mais legal ainda.
(eu e minha cabeça de menino...)

LIMITE

olha, não sei bem o q vc pensa disso. eu, particularmente, acho meio patético... uma mensagem no meio da madrugada. mais uma. dessas grandes e complicadas. ou apenas pretensiosas - será q vc pensaria isso de minha mensagens tolas?

hoje eu vi no cinema um documentário do lemmy. reforcei minha convicção de que lemmy is god. só faz sentido em inglês... funny. acho q vc entenderia isso.

te escrevo enquanto ouço feist. acho q aí é que está o erro. há essa música LIMIT TO YOUR LOVE. foi por isso que comprei o cd hoje, na galeria, pouco antes de entrar no olido para ver o lemmy.

havia esse festival de cinema - documentários de música. puta ideia. mas eu só vi o lemmy. vi as botas dele, pensei nas suas... vi os exageros dele, pensei nos seus. e no meu. não pude parar de pensar. prova expressa é q te escrevo...

e ouço feist. cantando chorosamente. amaldiçoo minha condição e gênero. preferia não ser menina agora. preferia não ser tão pequena. preferia poder ser tão superior a isso tudo a ponto de escrever tais coisas e simplesmente não te mandar. mas não resisto. não suporto. mando. me arrependo. espero. e nada acontece... enlouqueço de novo esperando. esperando algo. esperando que talvez alguma resposta, de alguém, de algum lugar, de algum modo, chegue a mim dizendo quando é hora de parar.

te parece loucura? seriam as mulheres todas umas loucas? eu me acho tão diferente das mulheres q eu conheço... mas poderia ser eu mais mulherzinha, patética, louca do que agora? puta falta de auto controle...

não vou mandar a mensagem... e vou me arrepender do mesmo jeito. vou achar, qualquer que seja a decisão, que me falta coragem - seja para resistir, seja para insistir. me falta guts. quero loucamente esquecer, apagar, desistir. e não consigo. não posso ignorar. achar que tudo bem. que qualquer que seja o que eu faço, o que você faz ou desfaz, ou não faz... qualquer que seja o resultado, o que ele pode trazer não me satisfaz, não resolve... onde está esse limite que custo tanto a encontrar?

SENTIDOS

nada de novo. madrugada. barulho. bagulho. medalha. migalha. lemmy. eu. você. ele. nós. muita gente... todos nós. ninguém. é tarde. ou cedo. há tanto depois que agora parece nem fazer sentido.

DEIXO

deixo passar. deixo estar. deixo a ver. deixo de ver. deixo de cometer os erros. não faço o que quero. espero. espero passar. passa. e deixo passar de novo.

OUTROS

então venho para a cama só. penso em você a noite toda. te busco em outros. não acho. acho outros. eles são divertidos. não são você. não são nada. são apenas outros.

REPETIÇÃO

tem ideia de quanta coisa repetida há aqui, te dizendo over and over and over as mesmas coisas bobas que você ouve sem entender o que significa?

sexta-feira, 6 de maio de 2011

VENTO FORTE

acordei com o vento zunindo na janela. penso nele lá fora, bagunçando tudo.
não há motivo para ele aqui. já está tudo fora do lugar.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

MERGULHADORA

Há quem goste de nadar no raso. Eu não. Eu gosto de profundidade. O que me assusta é justamente a superfície. Adoraria saber lidar com os ventos, as ondas, as marés. Mas não. Eu, na superfície, não sou ninguém. Gosto de entrar no mar de mãos dadas com alguém que sabe o que fazer. Eu não sei. Fazer o quê? Sou um bicho confuso como o tubarão baleia.

MEDO

medo? não, obrigada.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

PARABÓLICA

Mil sinais. Cada um diz uma coisa. Nenhum diz coisa alguma que eu consiga entender.

AS PERNAS DELA - 2

Suas pernas longas, de músculos marcados, como as de um boxer, aquele cachorro de cara engraçada, me deixam confuso. Suas pernas longas como as segundas-feiras, me deixam ansioso. Suas pernas longas, de ciclista apressada, se afastam de mim. Suas pernas, longas como o tempo que passa rápido como elas.

terça-feira, 3 de maio de 2011

MAU

escrevo muita coisa ruim. quem consegue ser bom o tempo todo?

EGOCÊNTRICA

ficção é bom, mas eu curto mesmo uma autobiografia.

GROOVE

estavam precisando de cadência.
estavam perturbados como uma canção da pj harvey.

ALMA QUE MAREIA

minha mente inquieta, meu coração ansioso, meu riso nervoso, minha alma completa.
de você.

minha cabeça fria, meus batimentos lentos, meu olhar atento, minha alma vazia.
de você.

SEM GRAÇA

só porque não sei fazer piadas não é motivo para você rir.

CÃO MAGRO

gosto de você inteiro. não se gabe.
gosto de coisas inteiras.
de ouvir faixas inteiras, discos inteiros.
de ler livros, revistas e jornais inteiros.
de comer o prato inteiro, normalmente maior do que minha capacidade de comê-lo. mas meu apetite é voraz e não aceita nada pela metade.
então, obrigada. não aceito apenas um pedaço.
prefiro a fome de estar só.

SEMELHANÇAS

ela queria ser uma pessoa comum.
ele insistia em dizer que ela era especial.

SEM PALAVRAS

a pior resposta é esta implícita na ausência dela.

INSTINTO

escrevo como me apaixono. sem saber como vai ser a história.

essa sua mania de comprar pepsi...

eu não encomendei você. não sonhei com você. não planejei você na minha vida. na verdade, acho que eu nem mesmo desejei você. você veio e me atropelou. me jogou do outro lado da rua. te odiei. mas você veio e me ajudou a levantar. me deu a mão, me deu um beijo, disse que tudo ia ficar bem. perdeu a paciência algumas vezes. me mandou à merda. gritou comigo. se mandou pro samba. mas depois sempre dava um jeito de aparecer se misturando com os outros e de repente já estava aqui de novo. acho que às vezes me incomoda você ser assim, tão de todo mundo. acho que é porque parece que me sobra menos. você diria que digo isso porque sou egoísta. talvez eu seja. mas digo isso só porque você assim, tão de todos, parece que não é pra mim. é bobagem minha, mas é assim que eu sinto. e pense bem: a gente não é mesmo de ninguém, então porque eu deveria me importar? então você acha que eu fujo, que eu preciso pouco de você, que eu não falo tudo o que eu devia dizer. não é verdade. eu não fujo, é que eu tenho outras coisas para fazer - eu também sou muito assim, de todos... -, não é que eu precise pouco de você, eu preciso muito mas é de um jeito que eu não posso te exigir se nem eu consigo dar, não é que eu não diga tudo o que eu devia dizer... é que às vezes me faltam palavras.

FRACASSO FELIZ

não tinha talento para nada. nem para o tédio ou a tristeza.

Eu preferia

Eu preferia um cartão postal, mas me chegaram novas contas. Preferia um telefonema amigo, mas não param de me ligar da net. Preferia uma mensagem sua, mas você deve andar ocupado.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Osama e Obama

O mundo anda por demais estranho. Não sei mais no que acreditar. Sinto-me enganada. Não consigo achar que a hostilidade seja solução. Às vezes tenho vontade de brigar, ainda. Mas me lembro do quanto isso me faz mal. E minha reação, que devia ser contrária, em prol do bem, é apenas apática.

Sinto-me estranha vendo as pessoas celebrando a morte de um homem, por pior que ele seja. Sinto-me estranha diante das mentiras e das verdades, principalmente porque já não sei mais qual é uma e qual é outra. Sinto-me estranha por não acreditar mais em vilões nem em heróis. Sinto-me estranha por não acreditar mais em ninguém.

INSISTO

eu insisto, digito a tecla errada, bato no delete, digito de novo, deleto de novo. não sei mais quantas vezes posso fazer isso. as teclas me olham com escárnio. mas prefiro o escárnio delas à sua indiferença mais insistente que minha teimosia.

OUTROS VENTOS

Enquanto eu choro, há um monte de gente rindo. E no dia em que eu estiver rindo, vai haver outro monte de gente chorando. Que posso eu fazer além de viver a minha vida? Você certamente está vivendo a sua. Que posso eu fazer se há tantos caminhos pra gente escolher e às vezes a gente pega o certo, às vezes pega o errado e independente da escolha, às vezes ele vai ser tortuoso e complicado. Vai haver vezes em que vou querer sumir ou querer que você suma. Vai haver vezes em que a grama mais verde não será a minha. Mas certamente haverá muitas vezes – como já aconteceu, então tenho provas! – em que a grama mais verde será a minha. E se não for, será de alguém que quer dividir sua grama verde comigo e vamos tomar juntos o sol da tarde que é carinhoso e faz a gente achar que está sonhando, de tão leve que a gente se sente. E haverá outros dias absolutamente corriqueiros. Dias de trabalho, de esforço, de fazer coisas chatas, de ficarmos presos no trânsito. Dias nublados ou frios ou chuvosos. É fácil ser feliz com vento de popa, me disse uma vez um amigo. E me lembro de um dia em que estávamos nós dois na popa de um barquinho, num dia morno de céu muito azul. Me lembro: era dessa felicidade que ele estava falando. Ela é real. Então não posso esquecer: navegar é preciso. E é preciso saber lidar com os todos ventos.

SOMBRA DE UM PENSAMENTO

e isso é o que sobrou de mim. uma sombra cheia de você.

LUA NOVA

tímida a lua esses dias. está nova e se esconde na nossa sombra. está lá, tramando voltar a crescer já já.

NOÇÃO NOCIVA

eu não acredito em ócio criativo.

achados e perdidos

eu tava distraída olhando as nuvens. não entendi sua mensagem sagaz. eu olhava ali distraída, perdendo o meu tempo, como você perde o seu com o meu. pensando em como é fácil a gente se perder. e como é difícil a gente se encontrar.

domingo, 1 de maio de 2011

Faquir

Ele escreveu, sem nenhuma outra alternativa. Transformou aquilo em algo que outros pudessem entender o que ele mesmo já não entendia mais. Traduziu sua dor em palavras, ora suaves como uma nuvem branca, ora pesadas como uma tempestade. Esvaziou o peito com os dedos na máquina de escrever. Cada letra no papel um prego na sua pele fina de garoto. Fome de saber aquilo tudo.

Careta

Ah, essa sua cara feia... logo de manhã! Não sei o que posso fazer. Não sei se o problema sou eu, se é o dia lá fora, bonito demais pra você. Ou se é apenas fome.

Às vezes a gente esquece

ÀS VEZES A GENTE ESQUECE - A pomba atravessou a rua toda correndo. Esqueceu que sabia voar?