sábado, 14 de maio de 2011

Pé direito baixo

O dia estava estranho. Já tinha feito frio, tido neblina, sol, calor e agora aquele vento exagerado, com chuvisco e tudo. Viam a transformação do clima de uma casinha, no alto da montanha. Pensaram que dali estariam isolados do mundo. Bobagem. De repente o tempo muda, o vento muda e não somos mais as mesmas pessoas exatamente por isso. Não há isolamento possível.

Experimentavam então dividir isso. Dividiam o momento como se ele fosse comestível, como se pudessem cheirar o fundo do copo e encontrar as mesmas referencias estranhas – notas de baunilha no nariz, um sabor forte e impreciso no fundo da língua. Um gosto bom de coisa nova e familiar ao mesmo tempo.

Quando a ventania começou, sentiram uma nostalgia estranha, de outras pessoas, de outros sabores, de outras coisas que não pertenciam àquele tempo. Queriam estar ali. Queriam-se. Mas não estavam conectados com o tempo lá fora, transfigurando a paisagem na janela, onde o céu descia lentamente e empurrava as nuvens para baixo, como a pressionar o dia, deixando seu tento baixo e opressor.

Estavam ali agora, diante um do outro, em silêncio, pensando nas mesmas coisas. coisas que a gente não diz pro outro de repente. Coisas que a gente guarda ou transforma em música, poesia, crônica ou num pensamento dentro de um taxi que vamos esquecer em seguida e aí perdê-lo para sempre.

Estavam ali um com o outro e estavam lá sozinhos também. Eram dois e eram vários.

O dia lá fora seguia confuso, agora com o sol ameaçando aparecer de novo. Ali dentro a mudança era delicada como a mudança de cores no arco-íris.

Nenhum comentário:

Postar um comentário