segunda-feira, 31 de maio de 2010

Maturando

Ele nunca tinha visto alguém envelhecer assim, tão de perto. Seus pais, seus avós, seus irmãos. Ninguém envelhecia perto dele de uma maneira que ele realmente conseguisse ver. Mas o cachorro, que era preto, ia ficando branco. O cachorro, que latia tanto, ia ficando surdo - e por consequência, mudo. O cachorro não enxergava mais como antes. Batia a cabeça em lugares inesperados, agora com muito mais frequência. O cachorro sim, estava tão perto dele, tão ligado a ele, tão adaptado aos seus hábitos e horários que, o cachorro sim, ele conseguia ver passando pelo tempo e envelhecendo com ele.

Faz frio

Faz frio. Meus pés não têm os seus. Faz frio. Não sinto falta. Mas sinto frio. Sinto muito. Não sinto medo. Faz frio. Não sinto nada. E nada é mais frio que isso.

Quase tudo

Encontraram-se finalmente. Quase não deu certo, como em outras tentativas. Foi bom. Ela gostou, ele também. Mas a vida, acelerada, atropelava ambos. Não praticavam os mesmos lugares, horários, pessoas. Tinham muito em comum dentro deles, mas pouco em comum fora. Talvez por isso os encontros eram tão raros. E sentiam neles quase tudo o que podiam. O problema era o quase. Quase tudo às vezes era quase nada.

domingo, 30 de maio de 2010

Um coração

Ela sonhava com um coração para levar no peito. Pendurado num cordão. Uma jóia simples. Bem desenhada. Suave. Que significasse que seu coração dentro do peito ainda batia. Mas para que significasse isso, esse coração teria que lhe ser dado. Era preciso que alguém que fosse esperto, corajoso, visionário visse que ali – em seu colo, sobre o peito, acompanhando o pulsar do coração – cabia um coração pendurado num cordão. Mas era uma espera infeliz. Não havia quem imaginasse isso. Não havia quem olhasse aquela mulher e visse ali uma menina, em busca de um coração. Foi então que se esbarraram. Ele era estranho, mas tinha um poder que ela não sabia explicar. E tinha os olhos de uma cor que ela não conhecia, mas que lhe encantava. E ele ouviu suas histórias. E riu delas. E não se assustou com elas. E lhe contou as suas. E ela riu. E ele achou aquele riso o mais lindo do mundo. E lhe beijou. E viu que aquele beijo seria infinito, que ele queria que fosse infinito. Que infinitas fossem as vezes que aquele beijo fosse possível. E prestou atenção em suas histórias. E quando seu coração bateu mais forte, ele lembrou-se do coração no cordão. Lembrou-se do seu desejo de menina. E deu-lhe numa caixinha azul um coração de prata, pequenino, raro, único, como o sonho dela. E ela, que não acreditava mais em sonhos, viu-se então às voltas com aqueles momentos em que a fábula fica sem graça porque a vida real é muito mais legal. E toda vez que a fé nisso lhe faltava, ela apalpava o coração pendurado no cordão, pulsando no ritmo acelerado que batia dentro do peito seu coração.

sábado, 29 de maio de 2010

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Referências

No lugar de referências, reticências. E, resistências à parte, há prazeres reticentes que são mais completos. Questão de ponto de vista. Questão de ponto de partida. De ponto de interrogação. De pontuação. Questão de referência...

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Saber ser

Num surto ela contou tudo. No susto o outro ouviu mudo. Gostavam-se mas não sabiam-se. Queriam-se mas não entendiam-se. E ela estava cansada. E ele estava assustado. E concluíram que às vezes é assim: não basta querer, é preciso ser. E nem sempre somos o que queremos.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Devo, não nego

pergunta atrevida: O que uma mulher da sua idade (seja ela qual for) deve saber?
resposta metida: uma mulher da minha idade DEVE saber tudo. mas eu, em qualquer idade, POSSO não saber nada.

Uma pequena parte

Você parte. E eu, parte pequena disso tudo, fico. Fico partida. Destruída. Distraída. Fico torcida sem partida, sem ter por quem torcer. Fico sem ter. Você partiu. Eu fiquei. Você sorriu. Eu chorei.

Gentil

Você tem um cigarro? Não tenho. Está sozinha. Sim. Posso te fazer companhia? Melhor não. Você é sempre assim, tão curta e grossa em suas respostas? Sim, sou. Puxa, mas eu só queria ser educado, conversar um pouco... Desculpe, não estou interessada. E você está interessada no quê? Na parte em que você diz adeus. Ok, ok, então adeus... mas antes, só mais uma pergunta: porque tanta hostilidade? Temos conceitos diferentes de hostilidade, meu caro, esteja certo que estou sendo gentil com você. Nossa, por que? Me desculpe, combinamos apenas mais uma pergunta.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Deserto

Bebo água e não mato a sede. Te beijo e não mato a sede. Te beijo mais e mais e mais. Te bebo. E não mato a sede.

Meio a meio

No meio da tarde aquele homem fala. No meio do caderno escrevo coisas sem sentido. No meio do peito um vazio incompreensível. No meio de nós dois uma distância insuportável. Não sou mais inteiro. Sou apenas meio.

domingo, 23 de maio de 2010

Aviso de partida

Escrevo para avisar que vou encerrar o assunto.Vou recolher minhas intenções. Suspender minha âncora e finalmente navegar para outros mares. Não vou voltar. Esse porto não era mesmo o meu lugar. Foi ilusão de minha parte achar que era aqui que eu deveria ficar. E que você abrigaria meu amor. Não sei de onde tirei a ideia de que com você seria possível. Não sei porque imaginei que aquele beijo que eu não esperava, que aquela proposta indecente na noite enlouquecida, que o mergulho naquelas águas azuis e nervosas significavam o início de algo novo e único em nossas vidas. Foi único, de fato. Mas foi só aquilo.

E agora, tanto tempo depois, percebo que só eu penso nisso. Só eu não esqueço. Só eu espero aqui, covarde, sem forças para tentar mais.

Pois minhas forças realmente acabaram. Meus desejos de te ter e te cuidar e te tratar com reverência e dar a você tudo que tenho, meu amor, meu tesão, meus caprichos, minhas histórias, minhas manias, minha companhia no café da manhã, minha mão em sua perna no cinema, minhas pernas enroscando-se nas suas no meio da madrugada, quando a temperatura cai... meus desejos minguaram como a lua, tantas luas depois.

Então parto. Você está avisado. Não haverá mais despedida. Até para isso não temos mais tempo. Nosso tempo passou. Minha carência de você venceu. Deu a volta nela mesma. Tentou escapar uma vez e falhou. Mas agora, não. Agora não há espaço para falhas. Não há mais lugar para compaixão, apego, medo, preguiça, pequenez, solidão, esperança, melancolia, nostalgia.

Gastei todas as palavras que eu tinha com você. Não há mais nada que eu possa dizer. E você, que nunca me diz nada, que segue calado, distante, dissontante do meu mar; você, que já não me serve mais como dupla,  como amigo, amante, nem mesmo como desilusão; você já não me serve mais.

Vou jogar fora as milhões de coisas que escrevi pensando em você. Vou me livrar de todos os sonhos. Vou acabar com a caixa de pandora e despachar, inclusive, a esperança.

Vou decretar em minha partida que aqui houve uma baixa: você não vive mais em mim. E toda vez que houver uma lembrança que passe por você, vou acelerar a velocidade da história para que passe bem rápido.

Há coisas que são para sempre. Há sentimentos que são para sempre. Há pessoas que são para sempre. Você, não. Você escolheu o anonimato da minha história. Vai ficar para trás. Para sempre.

Divórcio

Quero acordar, mas ainda tenho sono. Uma parte de mim quer ir. Outra quer desesperadamente ficar. Uma parte que pulsa te quer. A parte que pensa quer esquecer. Minhas partes estão vivendo uma crise no relacionamento. Não sei se há conserto. Talvez haja litígio. Vai haver briga para decidir quem fica com os discos do Bowie.

sábado, 22 de maio de 2010

Coisa de cinema

Ela tinha visto isso num seriado de TV. Ele gostou da ideia. De vez em quando, inesperadamente, ela a puxaria pela cintura ou pelo pescoço, ou ainda pelo braço bruscamente, não importa, ele a puxaria contra si e lhe daria um beijo daqueles de cinema. Um beijo que a fizesse sentir que ninguém mais lhe beijaria daquele jeito. Um beijo para escandalizar quem estivesse passando na rua. Um beijo para fazer sumir o mundo em volta. Um beijo demorado, apertado, violento, doce, absurdo. Único. Cinematográfico.

Muita gente

E entramos pela madrugada. Embriagados. Engraçados. Inconvenientes. Lendários representantes de histórias que nem sabemos de quem são. De vidas que não nos pertencem. De pessoas que fomos e não somos mais. Que amamos e não queremos mais. Que são eternas responsáveis por quem somos, mas que não cabem mais em nossas vida. Quisera eu que a madrugada não fosse tão elástica. Que não coubesse tanta gente. Que fosse apenas minha.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Estava num cansaço atroz. Irritava-se com tudo. Com o telefone tocando sem parar. Com as pessoas falando alto. Com os micro esbarrões no elevador. Irritava-se em ter que resolver as coisas. Apegou-se à comodidade da solidão, que não lhe pedia nada, que não lhe pressionava com o tempo, que era larga, feia e deliciosa como uma camiseta velha.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

alice

na minha história, alice vai fazer uma tattoo. vai falar com o chapeleiro, que também é tatuador, escritor, pintor e doutor nas horas vagas. alice quer tatuar um ás de espadas no peito porque ace of spades é sua música favorita de todos os tempos. o coelho tenta fazê-la mudar de ideia. mas o gato coloca uma pressão. diz que alice vai ficar sensacional com um ás de espadas entre os peitos. alice ri do gato, diz que ele não entendeu nada, mas no fundo gosta de como o gato entende as coisas. olha de uma maneira quase safada para o chapeleiro e diz: vamos nessa. o chapeleiro coloca as luvas, molha os lábios e sorri enquanto alice desabotoa o vestido e o gato olha para o outro lado, desdenhando seu próprio desejo.

confissão

às vezes eu fico impressionada com a minha insistência. fico perplexa mesmo com o tanto que o tempo passa e eu continuo com esse sentimento ora quicando, ora dormente lá no fundo. me impressiona, juro, essa capacidade imutável disso que sinto. sinto tanto. é tão grande e absurdamente descontrolado, que nem consigo nomear. não sei o que é. é tão contraditório, tão ridículo, tão inconveniente de tanto que insiste, e insiste por tanto tempo, que eu simplesmente desisto. e independente disso, continua aqui.

Sopa de letrinhas

Depois de você nunca mais pude tomar sopa de letrinhas. Me lembro das coisas que você escrevia pra mim na beiradinha do prato. TE AMO. TE QUERO. MA BELLE. STELLA. REINA. Sempre uma palavra ou frasezinha nova, em línguas diversas. Nunca repetia. Seu vocabulário me impressionava mais que seu amor.

Descompasso

Às vezes fica tudo tão lento que mal consigo acompanhar.

Historinhas

Ele tinha uma historia com ela. Ela tinha outra historinha com outro. Esse outro nem pensava mais na historinha com ela. Mas ela estava na historinha com ele pensando no outro. Confundiam-se no pensamento dela. Complicavam o que era para ser apenas uma ou outra historinha.

delete

Se eu pudesse apagar o que sinto como apago o que escrevo...

terça-feira, 18 de maio de 2010

Outra vez, repito, outra vez

Eu vou dizer. Vou repetir. Mais uma vez. Não vou poupar. Não vou calar. Não outra vez. Mas vou dizer. Repetir. Tudo de novo. Vê se presta atenção. Vê se não desperdiça esse amor. Vê se entende, de uma vez por todas. Porque como você vê, o problema não é repetir. O problema é dizer.

Cores frias

Minhas cores estão apagadas, quase mortas, desidratadas, com falta de você.

Ausência presente

Sua presença simples era, na verdade, majestosa. Sua visita enchia a casa de cores e sons inexplicáveis, inesperados, exasperados. E sua ausência agora era uma câmera sem filme, registro do nada, imagem fora de sinc, reverberando na casa oca, fazendo eco, incomodando como um músculo dolorido. Sua ausência agora doía. Uma dor quieta e angustiante, como a abstinência.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Excesso

Ela menina. Ele mais velho. Um encontro de almas clichê e poético, como Bethania declamando Pessoa. Ele via por trás de seus olhos infantis suas curvas de mulher. E toda vez que ela se esquivava ele morria um pouco. E toda vez que ele morria ela tentava impedir sem sucesso. Simplesmente não tinha habilidade com plantas, peixes e amores.

domingo, 16 de maio de 2010

Zum-zum

Vou dormir sorrindo, sonhar com você zunindo, brincando de abelha na minha orelha. Vou acordar feliz e sentir saudade - por um triz seu zunido não era ouvido de verdade.

Brinde

Apostaram uma dose de tequila para cada resposta errada. Ela estava na terceira. Ele na quarta. Foi quando ele fez a pergunta que ela mais temia. E assim que a resposta-mentira saiu de sua boca ela soube que a brincadeira iria terminar deliciosamente mal.

Noite quieta

Via a noite chegar em silêncio. As palavras não podiam lhe dizer nada naquele instante. Ali, sentindo a brisa fria da noite, esperava que aquilo passasse, que o vento levasse, que a história chegasse, que nada mais importasse além do silêncio da noite.

Despedida

Ficaram atentos ao silêncio. Nele era possível entender tudo. Não havia mais nada a ser dito, não havia mais nada a ser feito. Palavras ali só iriam desconjuntar a harmonia do adeus, que era triste (sempre é) mas, tácito, doía menos.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Combustão

Leio-te. Intoxico-me. Sinto-me sumida, perdida em devaneios. Sinto-te indo, sumindo, perdendo-se de mim. Aí vejo-te. Lembro-me. Memória insistente, sentimento dormente que não morre, apenas descansa até queimar de novo.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Antes de Paris

Antes de Paris, não era ninguém. Antes de andar como louca, beber como poucas, amar loucamente e ver-se à frente com aquela que não sabia existir dentro daquele pequeno corpo, pequeno esforço, mas um tremendo alvoroço na forma de uma mulher, que ainda há pouco era menina. Um pouco antes de Paris.

Detritos cósmicos

Seus sinais são como rituais. São pequenos hábitos, mini manias, algumas esquizofrenias que só existem num universo restrito, de melodias e detritos, num cosmo que é só seu.

Perdendo-se na vontade

Ele ligou, combinaram um encontro. Não deu certo. Vamos tentar outro dia. Outro dia é muito vago. Ele sumiu, ela também. Ele pensava nela, mas não ligava, estava enrolado. Ela sabia. Ele está enrolado, não vou ligar - pensava ela, ainda pensando nele. E assim, ainda com vontade um do outro, perderam-se um do outro.

Parte

Sabe, já sabe, sempre sabe, mesmo que ninguém diga nada. Entende, surpreende, sugestiona, questiona, provoca e adora. E adormece. E desperta. E parte. Leva uma parte e deixa outra a suspirar. Porque não é possível que saiba tanto e que saia sem arranhões, sem senões, sem aquelas emoções todas que sabe provocar.

domingo, 9 de maio de 2010

Tenha-me

Vou ouvir o que tens a dizer, o que tens a oferecer. E eu, que tenho a esquecer, a ouvir, a saber - e muitas vezes não sei, não ouço, não esqueço - apenas sou. E o que sou é o que tens.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Além de lá

Ele deixou que participassem da sua vida. Deixou que entrassem, que bagunçassem tudo, que transformassem tudo o que tinha em outra coisa. Que descobrissem juntos, outros sons, tons, milhões de detalhes que, amontoados aos poucos, notava, faziam dele agora um homem completo.

Ventania

Segue ventando. Ele vê, pela fresta da porta encostada, as folhas caindo das árvores. Vê com elas o tempo passando, caindo também, em pequenas porções, como num relógio de areia. Sente a boca seca. Vontade daquele beijo que nunca mais passou.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Morre

Você me esqueceu, mas eu não te esqueci. Passa o tempo e estou aqui. À sua espera. A esperar o que já nem sei mais o quê, porquê. Incrível como as vezes seu rosto desaparece e não penso em mais nada por vários dias. Mas de repente você surge, em detalhes infames, testemunhas da minha fraqueza diante do que você não me deixa ignorar, não me deixa esquecer. E me esquece. Não se lembra. Me faz morrer.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Somos

Entra pela porta, como se entrasse em meu aquário. Sou sua sereia, sou sua. Sou algo que nem sei. Sou ar, poeira, migalhas de estrelas. Sou nada. E ainda assim, parte do universo. Parte do seu universo. Estou aqui, você aí. De algum modo há um pouco de mim em você, hoje, assim, porque apenas somos. E, quanto a isso, nada podemos fazer, apenas ser.

Perigosamente leve

Se quiser saber de mim, me procura, insiste, não desiste, não me deixa sumir. Se me quiser perto, me queira, me force, não me deixa desistir. Se não quiser que eu minta, não insista, me goste e só. Minhas palavras são erradas, são insones, insolentes. Minha vida está errada, perdida, insistente. Insiste em ser assim, independe das coisas, de você, de mim.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Não sei

Ouço os peixes, mas eles não estão aqui. Ouço passos, mas eles não me interessam.

Ateu

Ele não acredita no que diz. Não sabe quando se engana. Na verdade sabe. Só não sabe porquê. Não sabe por que a noite está longa, por que sua fé está curta, porque o que quer está simplesmente errado, incerto, indefinível.

Não sou eu

Preocupe-se com o que é seu. Não comigo. Não olhe por mim. Não me olhe. Não me diga mais nada, porque de nada vai adiantar. Me desculpe, não me orgulho, não tenho as respostas. Não tenho nada que lhe sirva.

Dance, dance, dance

Dançavam feito loucos, feito punks, com os braços para cima, como se não houvesse mais ninguém. Olharam-se uma vez. Um segundo. E tudo mais virou canção.

sábado, 1 de maio de 2010

Seu retrato

Não o via havia meses. Mas sonhava com ele. Haviam tido duas noites. Duas intensas noites. Noites de causas e efeitos. E ela não conseguia esquecer.Distraía-se. Bebia de outros copos. Sentia outros calafrios. Mas ele seguia ali, com seu sorriso de garoto, fotografado na sua memória reveladora, insistente, inconveniente. Foto fora de foco, que só ela entendia.