sexta-feira, 30 de julho de 2010

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Crônica da dor

Sentia dor. Era forte e indefinida. Doía-lhe as costas, partes do quadril, uma dor difusa, que ressonava na coxa e eventualmente atingia a panturrilha, chegando no pé. Sentia os dedos dormentes. Nos dias de sol quase nada doía. Nos dias nublados tudo ficava mais sensível. Havia dias bons e ruins, fáceis e difíceis, como para todos. Mas mesmo em seus melhores dias sentia a dor ali, escondida, à espreita de seu bem estar. Senti-a ali pronta para dar o bote, pronta para derrubá-la, maltratá-la, fazê-la sofrer mais. A dor lhe era tão silenciosamente constante que já fazia parte dela, como um braço, uma perna ou um orgão importante. Não era como um apêndice, desnecessário. Nem como a visícula, que não faz assim tanta falta. Nem mesmo como um rim, que tem gêmeo. Sua dor era única, como uma digital. Carregava seu DNA. Funcionava como seu corpo, seu humor, sua resistência, sua saúde. A dor refletia o que era sua vida: incerta, à deriva de outras, à espera de outros, sem controle, sem direção, sem definição nem expectativas. Só doía e só. Não ia embora. Era eterna. Era crônica.

Ventos do norte

Ele lhe ofereceu amor. Gratuito, legítimo, sem motivos. Ela queria aceitar, mas não sabia o que fazer com aquilo tudo. Ele tentou explicar. Ela tentou entender. Havia tanta harmonia e calma... mas o barco não saía do lugar. Faltava-lhes a ventania. E não sabiam fazer ventar.

Fácil

Marcelo Freitas me disse e registro para nunca esquecer: é fácil ser feliz com vento de popa.

Um grão de areia

Pensando sobre essa história do amor ser outra coisa - todo grão de areia da praia um dia já foi coral. A gente acha que é uma coisa e alguém acontece na vida da gente, muda tudo, bagunça tudo, e você nunca mais é o mesmo. Isso não é amor - o amor é outra coisa!

Arpoador

Ali, sobre a pedra, olhando o mar de cima, sentindo a violência do vento no rosto, bagunçando seus poucos cabelo e chacoalhando suas muitas dúvidas, sentia-se pequeno. Via a imensidão lá de cima, imaginava a imensidão lá de baixo. E todo o resto sem fazer muito sentido diante da imensidão daquele momento.

Perdas e danos

Perdi. A hora, a cabeça, a oportunidade. Perdi esperanças. Sinto ter perdido mais coisas do que realmente tinha. E penso - como é possível perder o que não temos? Perdi meu tempo... E mais que tudo, me perdi no espaço em ti que eu procurava e não me permitistes encontrar. Você me perdeu, mas nem deu falta. Perdi o jogo, mas não para você. Perdi para mim mesmo. E me orgulho. Há batalhas que precisamos perder para seguir vivos. Perdi o rumo. Mas encontrei novos caminhos.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Um copo de culpa

Bebeu do próprio veneno. Intoxicou-se. Viu acontecer mas sentiu-se indefeso, impassível... como se fosse impossível reagir. Culpou-se pela falta de esforço. Engoliu a culpa goela abaixo, sem gelo, sem pausa, num só shot. Tinha um gosto amargo, mas estranhamente não lhe pareceu um veneno. Talvez o antídoto.

O ar que respira

Ele ficava mudo diante dela. E ela sempre tinha a impressão de que falava demais. E falava mesmo. Mas ele não se importava. Ela não sabia. Ficava desconfortável. Queria ficar mais perto. Queria ficar colada. Queria ficar sob sua pele, como na canção... Ele não sabia o que ela queria. Ficava desconfortável também. Não com a falta que lhe faziam as palavras, nem com a abundância de palavras dela. Ficava desconfortável porque ela estava ali, muito livre, escancarando sua vida, falando alto e sem prestar atenção no volume. Ele se encantava – via nela uma fada. Mas não se sentia parte da história.

terça-feira, 27 de julho de 2010

3:13

Já passa das três. Não é mais noite e nem ainda é dia. Já passa da hora de você ir embora. De sair daqui. De sair de mim. De sair e bater a porta com força. Com a força de quem não vai mais voltar. Já passa das três e você continua aqui insistente, calado, quieto, como se nem fosse me incomodar. Mas já é muito tarde e não posso mais... me incomodo... não quero mais! Já passa das três e mesmo assim ainda quero.

Fear is what keeps us alive

So I was there and I wish I could die. Not as though a tragic thing. I wish I could die and feel forever the way I feel when I'm flying, when I'm kissing, when I'm loving, when I'm with you, when I feel loved, when I feel cared, and important, and safe and free... I wish I could live and don't feel so small, so human, so weak worrying about all these stupid little things so insignificant in face of all the things I could die to feel forever. I wish I could feel less courage 'cause maybe then I would only feel.

Te procuro

Te procuro em mim. Mesmo sabendo que não vou encontrar. Mesmo já tendo sido advertida de que as coisas acontecem na hora certa. Te procuro em mim como se estivesse muito perdida. Como se não soubesse onde nasce o sol. Te procuro e não encontro. E nem quero encontrar. Te procuro por instinto, como fazem os porcos atrás das trufas. Sou pior que os porcos, sou como os donos dos porcos que os usam porque são bons, mas os matam quando os bichos encontram a trufa muito fácil e devoram-na sem a menor piedade. Sou como os porcos e os donos deles: te procuro das maneiras erradas. Mesmo sabendo que nunca vou encontrar.

Vos

Se así lo es, que sea. La suerte echada, como se dijo al cruzar un río. Se así es una otra cosa, que sea. Que no me duela mientras me río.

Saudade é hábito

Então eu me habituo. Chego, fico, acho tudo estranho, não me encaixo... Depois relaxo e é sempre assim - as coisas acontecem ao redor e vêm em ondas, como no mar, sem que eu peça, sem que eu queira, sem me darem tempo de me acostumar. Mas me acostumo mesmo assim. Começam a fazer parte de mim sem que eu nem perceba. Se enrolam nos meus hábitos antigos. Depois partem. E mesmo que seja eu a partir, partes de mim ficam aos pedaços. Então é hora de mudar os hábitos. Hora de buscar outras saudades.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Medo de verdade

A verdade é que não importava a gravata, a história, a tatuagem ou o cabelo roxo. Não importava se os mundos colidiam. Porque o que queriam era mesmo colidir, fundir, derreter. Mas e para dizer tudo isso? Porque será que a verdade, dura ou doce, é sempre tão poderosa? Ela tinha medo das verdades que viriam dele, de todas as semelhanças que ela via e ele não. Ele tinha medo das verdades que viriam dela, de todas as coisas que ele não esperava, que ele não podia supor, que ela faria (talvez não por mal) sem se importar muito com ele, com seus amigos, com seus pais e irmãos... Propôs dizerem a verdade e agora estavam mudos de medo.

Faz tempo

Gosto quando você me entende assim, tão fácil. Você foi me aprendendo. E eu te aprendendo. Agora já sabemos tanto um do outro que é meio ridículo você saber tudo o que eu penso, o que eu gosto... você tem um mapa de mim. Mas curiosamente não se apega. Desdenha um pouco meu pretenso valor de tesouro.

Diferenças verdadeiras

Ele seguia o Obama. Ela, o Dalai Lama. Ele usava gravata roxa. Ela tinha uma mecha roxa no cabelo. Ele gostava de história medieval e ela tinha um dragão tatuado no ombro. A ponta da asa do seu dragão, de escamas bem marcadas em vermelho e preto, cruzava o côncavo da saboneteira e subia-lhe discretamente até a curvinha do pescoço. Aquilo provocava uma reação estranha nele. Sentia um formigamento nos joelhos e as mãos suadas. Não estava certo do que sentia, mas toda vez que a via, algo nele queria sorrir. Ela notava, mesmo que ele tentasse esconder. Ela notava também as semelhanças que tinham, inclusive o fato de que ele via apenas as diferenças. Então ela resolveu falar de um assunto que ambos entendiam e apreciavam da mesma maneira: a verdade.

domingo, 25 de julho de 2010

Mudanças

Me deparo toda hora com questões de origem e destino. Gente que é daqui mas está em outro lugar. Gente que é de outro lugar, mas que não pára em lugar nenhum. Eu também não paro. Mas se pararmos para pensar, veja, ninguém para. As coisas estão sempre em movimento. O planeta, o universo, não? Tudo mudando lentamente. Embora a gente viva dizendo também que está tudo muito rápido. Eu até outro dia dizia que não gostava de mudança. Mas de que adianta? A mudança é inerente. Senão tudo para. Este "para", por exemplo, era desnecessário mudar. Para quê serve uma reforma ortográfica que derruba acentos? Sei lá. Talvez até as palavras precisam mudar.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Amigos?

Eram amigos há algum tempo. Mas muito amigos mesmo há pouco. Era uma amizade meio louca. Intensa e de vez em quando tensa – como se qualquer coisa pudesse acontecer. Era como se pudessem ser não só amigos, mas também amantes, mas também distantes. E em outros momentos eram tão irmãos... Era um mundo de possibilidades num pequeno espaço de um dentro do outro. Bom, se o tempo já não é mais o mesmo, se as famílias já não são mais as mesmas, por que é que as amizades seriam, não?

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Não pare

Não gosto
Não tenho que gostar
Não sei
O que sei
Te digo
O que não digo
Me mostre
O que não sei
Me ensine
E se eu não quiser,
Conquiste
E seu eu não pedir
Não pare

Branco

Às vezes não me sai. A folha me olha e está tudo aqui, emaranhado. Mas por algum motivo não me sai.

Reflexos

vejo na fração do momento
meus reflexos lentos
em teus olhos sonolentos

Verifique se o mesmo encontra-se parado

A gente se acostuma com tudo. Com o que é bom porque é fácil e agradável. Se acostuma até com o que é ruim porque mudar às vezes é difícil. Mas, acostumados ou não, a gente muda. Pode até ser uma mudança lenta e involuntária, mas a gente muda e não tem como ser diferente. A gente muda porque o mundo muda. E muda todo dia. E quando olhamos no espelho - repare! - existe sempre um pedacinho, quase imperceptível, que já não é mais o mesmo.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Imaginando finais

Ela entrou atrasada na sala de conferência. Ele viu e pensou:
a) meu deus, que deusa!
b) nossa, que medo!
c) que horas termina essa coisa chata?
Ela percebeu os olhos dele nela e ficou imaginando:
a) hmmmm, será que gostou?
b) que diabos esse cara tanto me olha?
c) ixi, quem é esse? Será que conheço?
Esbarram-se no intervalo. Ele não resistiu e perguntou:
a) você parece tensa. Está tudo certo?
b) desculpe o atrevimento, mas não pude deixar de notar você.
c) oi, será que a gente já não se viu por aí?
Ela, educada, respondeu:
a) me desculpe, mas não posso conversar agora.
b) será que eu te conheço? Olha, acho que eu me lembraria...
c) você é gentil, mas não tô muito a fim de papo... me perdoe a sinceridade!
Depois do intervalo, voltaram para a sala e entre um café e outra para manterem-se acordados, olhavam-se disfarçadamente e com curiosidade.
a) Que cara atrevido, ela pensava.
b) Que mulher estranha, ele pensava.
c) Vou falar com ela de novo, ele confabulava.
Quando o seminário terminou ela, atrasada como sempre, saiu rápido da sala. Ele, distraído como nunca, não notou.
a) Desesperado, ele correu até o estacionamento e a encontrou entrando no carro.
b) Ao notar sua ausência, ele pensou: melhor assim, preciso desligar esse meu radar...
c) Ele andava com a cabeça no mundo da lua, mas as coisas andavam acontecendo mesmo assim. Sentia que iriam se encontrar de novo.
Parada no trânsito, ela não conseguia parar de fantasiar sobre aquele encontro estranho e pensou quase que em voz alta:
a) os melhores encontros são esses mesmos, bem estúpidos e casuais.
b) porque será que essas figuras estranhas sempre cruzam meu caminho?
c) será que eu dei a ele a resposta certa?
Mais tarde, cada um de volta no seu mundo, pensavam um sobre o outro e concluíam que era divertido imaginar o final daquela história improvável.
a) O amor pode estar em qualquer lugar.
b) Mas às vezes, de onde menos se espera é dali que não sai nada mesmo...
c) Mania besta essa da gente querer sempre adivinhar as coisas. Elas só acontecem quando a gente se distrai.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Sem jeito

Tua pele morena, tua boca pequena, tuas mãos em mim como estrelas no céu. Teu rosto infantil, teu humor sutil, teus olhos acompanhando os meus a acompanharem o que fazemos juntos. E fazemos de um jeito suave, sem pressa, sem restrições. Fazemos de um jeito único. Teu jeito em meu jeito, juntos de um jeito só.

Onde você esteve?

De repente uma avalanche de perguntas lhe pegou de surpresa. Não esperava por isso. Não estava acostumada a ser cobrada, interrogada, amada com aquela sofreguidão. Não estava acostumada com ciúme, com obsessão de outros pela sua figura. Sentiu uma vontade urgente de correr, voar, desintegrar. Ao mesmo tempo gostava daquela busca. Estava curiosa para deixar-se invadir. Mas aprender a dividir era um processo bem mais difícil do que havia imaginado.

Turning point

Aquela história já estava confusa. Personagens demais. Muita gente, muitos nomes, um entra-e-sai sem fim. Chegadas e partidas mais frequentes do que podia lidar. Uma trama emaranhada na outra. Mas sentia que apesar da confusão, estava chegando naquele ponto em que as coisas se definem. Era meio tenso.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Errados

Ele fazia sempre tudo certo. Movia-se da maneira certa. Vestia-se da maneira certa. Falava no tom. Caprichava nos modos. Ela apenas observava. Acompanhava de longe seus movimentos precisos. E preparava-se para desmontá-lo. Queria vê-lo bagunçado, sem chão, sem roupas, sem medos e sem defesas. Queria vê-lo errado para ter certeza de que era feito de carne e osso. Queria saber se ele errava. Sabia que sim, mas queria ver como era.

Concisão

Você me pede concisão e não percebe que o que lhe ofereço é bem mais que palavras...

Carta para Isabel

Querida Isabel,

Bem vinda ao mundo!

Hoje é dia 13 de julho (na verdade, hoje é dia 12, mas esta carta será lida para você amanhã, no dia de seu nascimento) de 2010 e estamos todos muito felizes com a sua chegada.

Você é a primeira neta, primeira sobrinha, primeira filhota deste casal especial que Marinho e Diciana formam. Ou seja, além de muito aguardada, você, mesmo antes de nascer, já é muito amada.

Estão todos imaginando você... como será que vai ser a Isabel?

Eu acho que você vai ser uma pessoa muito legal. Acho que você vai ser bonita como seus pais. Vai ser meiga como sua mãe. Dedicada e amigável como seu pai. Vai ser dura na queda e esperta como sua avó Arlete (a Dona Encrenca). Vai ser inteligente e corajosa como seu avô Cassiano. Vai ser carismática e amorosa como seu tio Moisés. Vai ser alegre e contagiante como sua tia Andréa (que não é sua tia de sangue, mas é de alma). Vai ser muito querida como são seus avós e tios maternos. E eu espero que você seja uma menina com toda a sorte e a felicidade que eu tenho, que saiba aproveitar as boas oportunidades que o mundo lhe trouxer, e que saiba contornar todos os obstáculos que surjam em sua vida sempre da maneira mais suave possível.

Acho que você nascer no dia 13 de julho é um bom presságio! Este é o Dia Mundial do Rock, sabia? Pois eu já estou encomendando com o seu pai que lhe mostre, assim que você nascer, uma música dos Beatles e outra dos Rolling Stones, as maiores bandas de rock do mundo. Esse também é o dia do cantor! Quem sabe você não vira cantora?

Mas que seja de rock, hein? Por favor! (brincadeira, minha linda. Meu desejo é que você possa ser nessa vida aquilo que você quiser!)
Dia 13/7 é também o Dia da Nossa Senhora da Rosa Mística, que na verdade, é uma interpretação da Virgem Maria, mãe de Jesus, que teria feito aparições nesta data para levar mensagens de fé a pessoas com missões religiosas na terra. Não sei muito sobre isso, pois não sou muito religiosa, mas sou uma pessoa de fé, então vou rezar muito para que a Nossa Senhora da Rosa Mística e todos os anjinhos possíveis venham trazer você a este mundo com muita paz e tranquilidade.

Nesta data também, em 1930, um francês marcou o primeiro gol de uma Copa do Mundo. E futebol, você vai descobrir, é um assunto muito sério por aqui. Pena que nós, neste ano de 2010, acabamos de encerrar uma copa onde o Brasil não foi muito bem... e isso, inclusive, é uma coisa boa para você aprender: nem sempre dá para ganhar. Mas sempre é possível aprender com as derrotas, portanto, bola pra frente!

Querida Isabel, há muita coisa que eu gostaria de lhe dizer nesta carta, mas você ainda é apenas um bebezinho recém-nascido, então acho que vamos ter muito tempo para pôr o papo em dia. Por ora, encerro esta carta por aqui, desejando-lhe muita saúde, muito amor e felicidade. Ah, e muitas brincadeiras, sorrisinhos e essas coisas gostosas de criança que daqui a pouquinho você vai aprender como são boas – aproveite muito todas elas, porque é incrível como passa rápido!

Assim que for possível, vou te visitar. E enquanto não puder ir, vou pensar em você todos os dias e te mandar o meu amor mais puro e verdadeiro. Um amor desses que a gente sente só por pessoas especiais, pessoas que fazem parte da gente. E é assim que sinto sua chegada – um novo pedacinho da família, um novo pedacinho de mim.
Seja bem vinda, pedacinho lindo!

Um beijo muito grande, de sua tia amalucada, mas muito feliz - e mais louco é quem me diz!

Mona

Tudo de novo

Ele acordou querendo dormir mais. Os olhos pesados, abertos mas funcionando mal, como se estivessem fechados. O corpo cansado, dormente, desacordado. O coração pequeno, maltratado. A hora quebrada. O dia errado, emaranhado ainda na noite anterior. Mas ela sorriu, o sol saiu e o dia abriu. E ele começou tudo de novo.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Cigarros

Ele lhe disse certa vez que ela era sua garota. Que não fazia sentido se fosse diferente. Ele disse que iria cuidar de sua gripe, velar seu sono, trazer-lhe aqueles docinhos árabes melados e duros que só ela e mais ninguém gostava. Ele disse que lhe daria colo e atenção e carinhos sem cócegas nos pés. Ele disse tudo isso e saiu para comprar cigarros.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Luz

Era alta, magra, elegante. O nariz adunco lhe dava seriedade. O cabelo curto lhe dava um ar sofisticado e misterioso que era quase desmentido pelo sorriso de menina. Mas tinha um péssimo gosto para roupas. Nada combinava muito. O sapato era feio, o cinto inadequado, a saia não valorizava suas formas. A blusa era bonita mas não falava com o resto. E ela, linda e alheia a tudo isso, desdenhava a própria casca. E inexplicavelmente era isso o que chamava a atenção para a sua luz. Ela brilhava e nada mais tinha importância.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Roteiro adaptado

Pensou na história simples. Mocinho e mocinha se encontram, se olham, se estudam, se gostam, mas não têm certeza. Os movimentos rápidos dela confundem os sentidos lentos dele. Ele avança uma casa. Ela avança três e recua uma. Ele fica perdido. Aí ela sorri. E ele se acha. E a história complica.

Palavras salgadas

Ouvia a pessoa falar, falar e falar. E o pensamento lá na água do mar.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Sentidos únicos

Duplo sentido é que eu queria sentir. Me livrar de vez e, para tanto, viver o que vai me libertar. E me lembro que não há nada me prendendo e que, portanto, pode haver duplo sentido em tudo.