domingo, 30 de maio de 2010

Um coração

Ela sonhava com um coração para levar no peito. Pendurado num cordão. Uma jóia simples. Bem desenhada. Suave. Que significasse que seu coração dentro do peito ainda batia. Mas para que significasse isso, esse coração teria que lhe ser dado. Era preciso que alguém que fosse esperto, corajoso, visionário visse que ali – em seu colo, sobre o peito, acompanhando o pulsar do coração – cabia um coração pendurado num cordão. Mas era uma espera infeliz. Não havia quem imaginasse isso. Não havia quem olhasse aquela mulher e visse ali uma menina, em busca de um coração. Foi então que se esbarraram. Ele era estranho, mas tinha um poder que ela não sabia explicar. E tinha os olhos de uma cor que ela não conhecia, mas que lhe encantava. E ele ouviu suas histórias. E riu delas. E não se assustou com elas. E lhe contou as suas. E ela riu. E ele achou aquele riso o mais lindo do mundo. E lhe beijou. E viu que aquele beijo seria infinito, que ele queria que fosse infinito. Que infinitas fossem as vezes que aquele beijo fosse possível. E prestou atenção em suas histórias. E quando seu coração bateu mais forte, ele lembrou-se do coração no cordão. Lembrou-se do seu desejo de menina. E deu-lhe numa caixinha azul um coração de prata, pequenino, raro, único, como o sonho dela. E ela, que não acreditava mais em sonhos, viu-se então às voltas com aqueles momentos em que a fábula fica sem graça porque a vida real é muito mais legal. E toda vez que a fé nisso lhe faltava, ela apalpava o coração pendurado no cordão, pulsando no ritmo acelerado que batia dentro do peito seu coração.

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