quarta-feira, 29 de junho de 2011

Começo, meio e fim

Ele a viu na porta do bar ao lado. Não lhe pareceu bonita à primeira vista. Mas era vistosa, gostosa se olhasse melhor, bonita se prestasse atenção. Era uma mulher sensual. Tinha um jeito de mexer nos cabelos e morder o lábio inferior que era quase uma provocação.

Sem perceber ele não parava de olhar para ela. Ele fazia esse tipo de coisa; saía sozinho e ficava na porta daquele boteco, tomando uma cerveja e fumando um cigarro, então de repente se pegava encarando alguém sem querer. Era por bobagem, uma camiseta ou tênis que lhe chamasse a atenção, o semblante de alguém vagamente familiar, qualquer coisa.

Não era esse o caso agora. Agora ele estava hipnotizado pela garota de calça vermelha, marcando suas coxas e quadris de falsa magra. A calça tão justa que ele podia ver a marca da calcinha quando ela virava de costas, inquieta ali na calçada. E ainda assim ela ria e se movia de maneira tão confortável que mexia com a cabeça dele de um jeito espiral.

Ela notou que ele estava olhando e olhou de volta fixamente por alguns segundos, depois desviou o olhar como se tivesse sido um engano. Ela tinha um olhar ladino, duro e doce ao mesmo tempo. E ele gostou do que sentiu - um calor repentino da virilha para baixo - quando o olhar dela encontrou o dele de novo.

Ele desviou o olhar assim que ela o encarou de maneira mais evidente. Não sabia bem porque, mas quando ela o olhava assim diretamente, parecendo sem medo, aquilo o deixava desconfortável. Ele gostava mas não sabia como olhar de volta. Sensações espirais...

Ele a queria. Ia lá falar com ela. Ela estava com duas outras mulheres, não seria difícil de abordar. Já tinha feito isso antes. Estava inseguro e nem sabia porque. Estava incerto de ir na hora certa. Não queria ser inoportuno. Não queria errar. Não queria desapontá-la.

Ela parecia ter desistido dele. Sentou-se de costas e continuava rindo com as amigas na mesa alta ali na calçada. Tomavam vinho. E agora ela tirava a blusa, tinha calor meu deus... Usava uma camiseta branca colada no corpo e por algum motivo injusto seus seios não transpareciam na camiseta, mas era possível ver que eram redondinhos e cabiam perfeitamente em suas mãos.

Ele olhou para baixo, para as próprias mãos, e pensou no que faria com elas se levasse aquela mulher para sua cama. Será que uma mulher como aquela iria para a cama com ele? Sentia-se impróprio. Ele ali, de bermuda e tênis, fumando maços de Malboro e bebendo cerveja no bar pé sujo. Ela no bar ao lado, sentada numa mesa bonitinha, de bancos altos na calçada, bebendo vinho e fumando Free Box.

Ela levantava para fumar. Saía de perto das amigas, provavelmente ecochatas antitabagistas. Ele mal conseguia olhar para elas. Ele mal conseguia olhar para outra coisa que não fosse ela. E ela olhou de volta de novo e sorriu. Ele sorriu discreta e lentamente. Ia desviar o olhar, reação atávica àquele calor na virilha de novo, mas resistiu e ficou ali, sorrindo de volta, feito um bobo da corte, sem dizer nada. Ela deu um trago longo e prazeroso no cigarro, olhou de leve para o alto e lançou no ar de maneira quase lasciva a fumaça venenosa. Virou de costas, jogou o que restava do cigarro quase inteiro no cinzeiro alto do bar chique, e voltou para a mesa com as amigas chatas. Tudo pareceu ter durado horas, mas agora dava-se conta que tinha sido tudo muito rápido. Sensações espirais.

De repente começou a chover. Uma chuva leve, não exatamente uma surpresa com aquele tempo instável. Ela colocou a blusa de volta. A chuva apertou e aí ela correu com as amigas para debaixo da cobertura na calçada. Ele via sua bunda redondinha naquela calça vermelha e ficava com vontade de morder com força, como se fosse uma maçã do amor.

As mesas do bar se rearranjaram e ela se sentou de frente para as amigas, de frente para ele, mas sem que ele pudesse vê-la direito, como se as chatas fizessem uma barreira.

Chega, aquilo já estava passando dos limites. Ele ia lá falar com ela logo. Seu coração estava disparado. Esperou um pouco. Fez um trato com a chuva - assim que parasse, ele ia. - A chuva passou. Ele foi. Puxou ela de lado, perguntou o nome, o que fazia ali, essas coisas. Ela sorriu, respondeu e devolveu as perguntas, mostrou-se interessada. Ela gostava dele. Certo disso ele a puxou pela cintura, pediu desculpas por ser tão direto, mas confessou que não podia mais esperar. Ela olhou nos olhos dele daquele jeito difícil de novo e ele sentiu um misto de medo e vontade que fazia o calor da virilha se espalhar pelo corpo todo. Ela não desviou o olhar, nem o rosto, nem a boca, parada ali, entreaberta, esperando a reação dele. Tudo em câmera lenta, sensações espirais, vertigem.

Ele sentiu como se fosse sugado pelos olhos dela, que agora eram ternos como os de uma garotinha. Ele aproximou seu rosto do dela, sentiu seu hálito adocicado de vinho e beijou a boca dela com fome, como se aquele pudesse ser o último beijo que daria naquela mulher inacreditável que estava ali, entregue nos braços dele, de boca aberta para ele, salivando e sugando a boca dele de volta, parecendo gostar ainda mais que ele daquilo tudo.

As amigas pagaram a conta. Iam embora. Perguntaram se ela ficaria bem. Claro. Tudo estava ótimo. Ele se sentiu orgulhoso. Convidou para tomar uma cerveja. Ela estava bebendo vinho antes... tudo bem, ela disse, uma cerveja de saideira. Ela tinha senso de humor. Era rápida nas respostas. Quando chegaram na casa dele ela sabia quem eram as pessoas nos pôsters espalhados pelo apartamento. Ela conhecia os filmes, os músicos, ela gostava do Marlon Brando naquele pôster do Godfather, ela sabia quem era Tupac Shakur. Ela era realmente gostosa. E ele nunca entendeu como ela saiu tão fácil daquela calça apertada. Ela estava muito à vontade. O tesão dela parecia ainda maior que o dele. Ele ficava quase intimidado. Às vezes se sentia a presa ao invés de se sentir caçador, que era como gostava de se sentir. Isso incomodava e ao mesmo tempo seduzia. Mas ela se entregava. Deixava ele comandar a brincadeira. E isso o levava à loucura.

Treparam a noite toda. Ela fez tudo o que ele quis. Delicada, elegante e vadia. Ele quis que ela dormisse lá. Tudo bem. Ela dormia de maneira angelical. E quando esfregava o corpo dela no dele, começava tudo de novo. Ela dizia que ele era incansável, mas a verdade é que ela era assustadoramente gostosa, provocante e incansável.

Choveu durante a madrugada e a chuva caindo, ora forte, ora devagar, alternava com eles os gemidos e os silêncios de prazer noite adentro.

Ela era uma delícia, um bolo de chocolate que ele não queria mais parar de comer, mesmo se sentindo tão saciado e já tão sem energia restante para mastigar. A pele dela era deliciosa e o conforto que sentia em ter suas costas encostadas em seu peito relaxavam seus músculos instantaneamente. E dormiam assim, amontoados.

De manhã ele acordou com sede. Ela não quis beber água. Vê-la nua, espalhada pela cama, naquela meia luz da manhã, recusando a água, fez com que ele se sentisse um homem mau. Iria comê-la de novo. Ela não ia dizer não. Ela olhava para ele com aqueles olhos ladinos de quem queria muito dar para ele de novo. E depois ela iria, finalmente, ter sede. Iria colocar de volta sua calça vermelha apertada, quase imprópria para aquela hora da manhã, iria dar-lhe um beijo e iria embora, porque era assim que as coisas funcionavam.

Ele perguntou, quase sem poder conter a pergunta, quando se veriam de novo. Ela apertou os lábios num gesto de dúvida. Ele pediu o telefone dela. Ela deu. Ele perguntou se podia dar um toque para que ela gravasse o dele. Ela disse que sim, mas ele duvidou por um instante que o número estivesse certo. Chamou e o telefone tocou na bolsa lá na sala. Ela sorriu e ele se sentiu tolo. Foi com ela até a porta, deu-lhe um beijo terno e disse adeus para sempre. Não voltariam a se ver. Há histórias entre pessoas perfeitamente cabíveis e completas numa única noite.

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