terça-feira, 14 de junho de 2011

Sobre a paixão e o amor

Ser uma pessoa apaixonada – sinto que isso é uma coisa boa, mas às vezes é também um inferno. Meu coração gosta de ser inquieto, raramente fica tranquilo. Me apaixono todo dia e a paixão pode durar 15 minutos ou quinze anos, quer dizer, isso não é uma regra, apenas os limites que eu conheço. Eu até queria ter um coração mais dedicado, mas acho que é da natureza dos corações apaixonados ser um pouco volúvel.

Gosto de histórias de amor e elas sempre começam com paixão. Talvez seja esse o motivo de me apaixonar fácil. Gosto do poder transformador que a paixão dá às pessoas. O coração disparado, a sensação boba de alegria por absolutamente tudo (ou nada!), o esforço que a gente faz para tentar ser melhor só pra ver se conquista o outro, sem nem perceber que isso faz a gente melhor MESMO. Ou pior, nos casos extremos. Apaixonar-se é levar um susto a cada instante, é um salto de paraquedas com aquela sensação de queda-livre interminável. Um inferno. Mas eu gosto.

Curioso como a gente tenta se defender desse sentimento por medo de sofrer. Talvez seja instintivo – na iminência da dor, é natural haver uma urgência por defesa. Tudo o que tira a gente do eixo é potencialmente assustador. E a paixão faz isso, fato. Tira tudo dos eixos.

Há pessoas que são resistentes às paixões. Admiro essas pessoas. Elas são duronas. Se bastam. Não necessariamente são mais felizes, nem mais completas, mas certamente são mais tranquilas. É isso que acho valioso e admiro nessas pessoas que raramente se apaixonam – essa tranquilidade. Não há tranquilidade na paixão, fato.

Quem se apaixona, sabe. Os minutos livres acabam. Todo minúsculo momento livre dos seus pensamentos será ocupado pela razão do seu afeto. E assuntos relevantes como o trabalho, a dieta, a economia, a paz mundial, o mundo de modo geral, ficam irrelevantes ao competirem com a frivolidade da sua paixão.

A paixão é uma inquietude. Sua irrelevância é proporcional ao seu poder. Ninguém é melhor ou pior pessoa porque se apaixona. Mas é inegável que as paixões provocam o que há de melhor e de pior na gente. Paixão gera interesse, gera esforço, gera entrega e doação. E gera ciúme, expectativas, desapontamentos, violência. E faz a gente aprender coisas importantes, sejam elas agradáveis ou não.

Apaixonar-se é aprender uma nova língua. É conhecer outros códigos, habilitar novas condutas, ouvir com atenção redobrada, ver com outros olhos. É um esforço louco de querer ser mais para poder ter mais do outro. É comer com fome a comida preferida.

Decepcionar-se ou falhar são percalços do caminho. Podemos viver com ou sem eles. Apaixonar-se, não. Apaixonar-se é loteria – começa na sua mão mas não depende só de você. Depende dos números, da sorte, das regras, depende de como você escolhe jogar. Se nada der certo, tudo bem, segue a vida. Mas se você ganhar... tudo muda e a única certeza é que vai dar o maior trabalho.

A paixão não é necessariamente necessária, mas ninguém discorda que é como o açúcar – não precisa, mas o mundo é tão mais gostoso com ele.

Se eu pudesse escolher, não sei se escolheria poder apaixonar-me ou não. A paixão me perturba tanto quanto me encanta. Me alimenta ao mesmo tempo que me cansa. Me faz pensar, o que é bom, mas também me faz pensar demais, o que é ruim.

Sei lá. A paixão é uma dúvida. O amor, não. O amor pode até não ser uma certeza, mas certamente é outra coisa.

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