sábado, 18 de junho de 2011

TRILHAS SONORAS DE AMOR PERDIDAS

Esta noite perdi vários amores. Ganhei outros. Ganhei outro. Misturei as historias. Pensei num homem. Pensei em vários. Pensei em mulheres. Pensei nas mulheres importantes para mim – coisa na qual nunca tinha pensado e nem pensei propositadamente, exatamente naquele momento, mas ainda assim, por causa de tudo o que vi e ouvi e senti.

Começo a historia assim, verborrágica e exagerada, como gosto. E como não gosto de ser. Mas não tem outro jeito. Medi o dia hoje desde ontem. Planejei não planejar nada disso. Pensei em não pensar sobre o que sentiria hoje. E virei a esquina e dei de cara com o que não queria pensar. E dei uma volta de 360 graus e dei de cara com a primeira opção, com aquele primeiro lugar em que procurei (rápido demais) e não achei aquilo que eu viria a descobrir mais tarde que estava exatamente lá, porque lá era o seu lugar desde o início, mas que, de tão óbvio, eu não percebi. Ou ignorei. E só vi depois, como às vezes acontece. Mas é assim. Essa volta imensa que a gente dá antes de contar exatamente o que a gente quer contar.

Felipe Hirsh e Guilherme Weber escrevem, encarnam e declamam nesta noite inesperada um monte de coisas que eu já disse, que eu quis dizer, que eu não tive coragem para dizer, ou viver, ou lembrar, ou escrever... ou ouvir...

Esta noite eu vi com uma amiga (inesperada e tão esperada) uma peça – logo eu, que não gosta de gostar de teatro – chamada “Trilhas Sonoras de Amor Perdidas”. E minha amiga, atriz formada, encontra-se completamente engolida pelo texto e pelas músicas e também pelas atuações e questões técnicas e igualmente irrelevantes e vistosas que a gente não consegue ignorar. É tipo um tsunami. E corremos e nadamos loucamente tentando sair dele sem saber se essa é mesmo a melhor decisão.

Durante três duras e doces horas os poucos personagens em cena desfilam, comentam, discutem e ouvem, cheios de tesão, paixão, amor, ódio, dúvida, fome, resignação, numbness e misturas de idiomas, palavras e canções e sensações que você não consegue viver, ver ou ouvir em outra língua. Um excesso... E eu, louca por combater o excesso, não consigo combater o excesso em falar sobre isso... Excesso de reticências, de pausas. E paradoxalmente, excesso de canções e filmes e momentos fúteis de nossa história, que parece tão ridícula diante de outros momentos da história... tão distante de Guernica, de Beatles, de tudo o que até então era referência que é até difícil de acreditar que Pearl Jam tem mais de 20 anos e que nós já há algum tempo desafiamos as casas dos 30, 40, 50, 60 anos... tudo em excesso, até a longevidade – afinal, quem acredita que os Stones estão todos (ou quase) vivos? Que Ozzy, Leonard Cohen e Clint Eastwood ainda são homens absurda e bizarramente desejados até hoje por pelo menos umas três gerações de mulheres desajustadas e incríveis, como Jane Birkin, Sophia Lauren e Diane Keaton?

A história da peça de hoje é um patchwork de várias histórias e de muitas histórias nossas. Uma conexão surreal das pessoas que éramos (ou pensávamos ser), das nossas lembranças e reminiscências, das lembranças que temos de coisas que vivemos ou coisas que não tivemos coragem de viver, mas que conectam-se conosco de uma maneira muito profunda, com uma sensibilidade muito à flor da pele – ou será que isso foi só comigo e com minha amiga aniversariante? Ahhh, vai saber...

O que sabemos é que os tempos são outros e não perco mais meu tempo falando sobre coisas que não me interessam. Ninguém me paga para uma ou coisa ou a outra. Escrevo porque preciso tirar de mim essas coisas todas – impressões e emoções que obras, músicas, pessoas e tantas coisas incompreensíveis e imensas me trazem. Quando uma coisa assim me atinge, é bem difícil de controlar. Me desencadeia uma série de lembranças e emoções exageradas. Tão exagerado que me faz pensar naquele filme que a gente vê da própria vida naqueles dramáticos 5 minutos antes de morrer. Exagero, né? Nada a ver falar de morte – mesmo ela sendo parte da vida e de eu andar dando de encontro com ela toda hora, no jornal, na notícia, na música, no livro, na peça, no feriado cancelado e depois descancelado, na vida de modo geral... E penso, atavicamente, naquela canção do Jorge Drexler que diz que “morrer também é lei da vida”.

Hoje eu fiz acompanhada (e bem) uma viagem que teria feito sozinha, à uma terra distante e dissonante sem nome e sem precisão no mapa. Percorremos um trecho relativamente longo de memórias de pessoas, lugares, canções, filmes, personagens e referências de coisas que fomos, que somos e que nem imaginamos ser. Muito estranho quando a gente vai pra um lugar assim, meio que esperado, mas que de repente mostra-se totalmente inesperado, e ele se transforma em mais um daqueles momentos que você acha que nunca mais vai esquecer. E às vezes se esquece. E às vezes lembra dele, como um momento fulgaz e esquecido, que você achou que nem nunca mais ia lembrar. E de repente lembra e acha que nunca mais vai esquecer. Como uma música, cuja letra de repente você aprende e foi tão fácil e há tanto tempo que, um dia, sem saber direito o porquê, lembra e tantas outras coisas passam a fazer sentido – ainda que só façam sentido pra você.

Como ignorar a gentileza e as coincidências e as saudades depois disso? Sou só eu ou estamos todos meio sensíveis ultimamente? Não sei... sou só eu ou perdemos todos um pouco dos sentidos e das trilhas sonoras óbvias de nossas vidas? Não sei... Sou só eu ou de repente todo mundo começou a usar novos formatos? Não sei, mas talvez não seja só eu, talvez seja realmente um outro tempo. E é sempre bom a gente encontrar quem consiga contar as histórias desses tempos. Foi bem legal ver essa história hoje e compartilhar aqueles tempos. E esses tempos também. Parabéns, Sutil Cia. De Teatro e Angelita, pelos seus aniversários. Que sorte tenho eu em celebrar com vocês os primeiros minutos de um novo pedaço de história.

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