quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Ideias solitárias

Acho a solidão uma coisa superestimada. As pessoas não aprendem a estar sós, então não há jeito de saber bem como é isso – e quando não se sabe como as coisas são, a primeira reação é a de medo. E o medo da solidão é generalizado. Estar com outras pessoas é bom, é complexo, é emocionante... a gente se encanta com o outro, se decepciona, espera uma coisa e encontra outra. Mas estar só é uma descoberta lenta. Aprendizado de coisas miúdas, exercício de delicadeza de ourives. Será que é assim, na leitura desses sinais sutis e longos, que finalmente aprendemos a lidar com esse sentimento exagerado de fragilidade que a solidão nos imprime? Será que é nessa hora que nosso relógio de amor próprio finalmente dispara avisando que há outras maneiras de fazer as coisas? Não sei se é finalmente nessa hora que colocamos a verdade à luz do que já sabemos, do que conhecemos, do que nos disseram, nos ensinaram, do que duvidamos e questionamos. Ouvi outro dia que há versões da verdade. Achei tão estranho... pra mim a verdade sempre foi a verdade e qualquer coisa diferente disso era mentira. E me cansei das mentiras. Medi a distância que me custava separar a covardia de contar uma mentira da covardia de contar uma verdade e reparei que o trajeto da mentira podia até ser interessante, mas era mais longo, mais sinuoso, obscuro e perigoso. E nada disso é muito diferente do trajeto da verdade, pelo menos não necessariamente, com exceção de uma coisa: a mentira depende de fatos, tempos, às vezes pessoas... e a verdade não depende de nada, senão de você mesmo. A mentira se justifica. A verdade, não. E me cansei das justificativas. Comecei a ver melhor as coisas como elas são. Estar com pessoas é ótimo para compartilhar essas coisas que vemos, embarcar um pouco na viagem do outro, que vê as coisas de outro ângulo. Mas nem sempre há o outro. E ainda assim, há pessoas o tempo todo – gente que você carrega com você, no pensamento, no sentimento, no tesão, na raiva, no ressentimento, no excesso ou falta de compreensão. Estar só é, na verdade, lidar com toda essa gente toda dentro de você. É sozinho que a gente aprende que não há abraço todo dia, não há sempre beijo de bom dia, não há sempre dorme bem e sonha comigo. E é sozinho que a gente aprende que essas coisas são raras e fulgazes, porque para estar feliz, completo, não importa apenas ter alguém do lado, mas sentir-se agradecido, emocionado, amado e amando sem piedade familiar, sem obviedade, mas justamente surpreso por amar com maldade de amante, com cumplicidade de amigo de pescaria. É experimentando a solidão que se pode ver com mais clareza o que te faz bem e o que te faz mal. O que falta ou sobra em você ou no outro. E o quanto esse equilíbrio é complicado, às vezes impossível. Então não basta ter vontade de estar junto. É fácil superestimar a solidão. Mas se olhamos bem de perto, a solidão é absolutamente opcional. E proporcionalmente essencial.

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