sábado, 18 de agosto de 2012

A ÁGUA QUE HIDRATA É A MESMA QUE AFOGA

Era raro ter sede. Quando criança, o pai se preocupava porque sofria de pedras nos rins e tomava com prazer mais de 5 litros de água por dia. Chamava a filha de camelo e insistia para que tomasse líquidos. Quando viajavam, a menina magricela era capaz de andar quilômetros sem beber nem uma gota de nada; só tomava algo quando alguém lembrava que era hora de beber água. Até hoje era assim; era raro beber água em quantidades normais para uma pessoa adulta. Tomava um copo aqui, outro lá, de manhã e depois do almoço, para diluir o café que gostava amargo; depois da corrida ou do jogo de tênis. Mas a verdade é que não gostava de água. Não gostava dela não ter gosto - e, como todo mundo, sabia que era péssimo se ela tivesse! - E quando tinha sede, comemorava; sabia que era saudável beber água, invejava quem tinha o bom hábito, não se sentia capaz de cultivá-lo; depois de virar um copo, fazia careta, como se aquilo fosse remédio que o corpo pedia, independente de gosto ou prazer. Às vezes de madrugada, quando acordava suada e perturbada por um sonho recorrente, que envolvia ondas grandes e salgadas de um mar tempestuoso, perguntava-se se as coisas tinham relação. Mas em seguida, depois de tomar um copo d'água sem gelo e sem graça, acalmava-se, voltava a dormir e esquecia o assunto.

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