quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

2010, o ano do futuro, do presente e da história

Eu achava que 2010 era um ano a anos-luz de mim. Nasci na década de 70. Cresci ouvindo Ziggy Stardust e vendo 2001: uma odisséia no espaço (que meu pai tinha em VHS, gravado da TV, em sua pequena e poderosa videoteca – num tempo em que não havia essa coisa de coleções inteiras de clássicos do cinema como brinde de assinatura de jornal). Nos anos 80, quando já não havia mais Elvis, Lennon e Elis Regina – e o mundo ficou estranhamente mais triste, violento e com umas modas de roupas, drogas, música e até literatura muito duvidosas – foi quando comecei a entender melhor como as coisas funcionavam. Mas ainda não existia computador assim, como uma coisa comum em todos os lugares, como vemos hoje. Internet? Telefone celular? Caixa eletrônico? Gente, nos anos 80 havia coisas incríveis e muita diversão, mas a gente mandava cartas, telegrama e mal existia o fax! Então, pensar no mundo de 2010 parecia uma coisa muito distante, outro século, uma coisa do futuro! Nos anos 90 a coisa começou a pegar para mim. Era muita informação, muito hormônio, muita gente, muita referência, muita coisa nova, muita gente me dizendo o que fazer e eu muito certa de que tinha certeza de tudo, menos do que me mandavam fazer. E mesmo com essa confusão toda, de algum modo as coisas foram se ajeitando e os anos 90 me pareceram passar meio lentamente. O ano de 2010 ainda parecia uma coisa muito distante, ainda muito num futuro que eu imaginava, graças ao cinema e à velocidade com que as coisas aconteciam na tecnologia e comunicação, uma coisa muito futurista. Sabe aquela imagem das pessoas todas usando uma roupa prateada? Pois é. Eu imaginava as pessoas ficando cada vez mais iguais, cada vez mais idiotas e produzidas em série. Putz, os anos 90 foram compridos... até a contagem regressiva pro milênio foi lenta. E até um pouco decepcionante, visto que estavam todos esperando pelo bug do milênio e ele não aconteceu. E entramos nos anos 2000 assim, cautelosos, achando que estava tudo bem e de repente foi como chegar ao topo da primeira descida da montanha-russa – aquela maior de todas, quando temos pela primeira vez aquela sensação de velocidade desenfreada, um vento violento na cara, o estômago descolando do lugar, a ausência da gravidade e aquele sentimento alucinante de queda livre – e de repente todos tinham não só celular e computador, mas também estavam todos conectados, 24 horas no ar, 7 dias por semana, por sms, skype, trocando fotos, gostos, experiências pessoais de maneira aberta e quase irrestrita. Tudo aconteceu muito rápido nos anos 2000. Não sei se foi coincidência da era da tecnologia e conhecimento com o momento da minha vida, mas nos anos 2000 nunca estive em tantos lugares e nem conheci tantas pessoas e me conectei e mantive contato com elas como dessa época em diante. E enquanto 2010 vinha chegando numa velocidade vertiginosa, as coisas também iam mudando na minha vida de maneira vertiginosa. Experimentei empregos novos, conheci outros mercados, outros costumes, outras línguas, experimentei ficar junto, ficar só, jogar “tudo” pro alto e vários outros significados para “tudo”. Em 2008 eu me lembro de ter literalmente visto o ano passar por mim e transformar-se em 2009, nas areias de Copacabana, um momento tão clichê e popular que eu não imaginava que poderia ser o maior momento de comunhão que eu já havia visto na vida, ali, materializado em centenas e centenas de pessoas vestidas de branco, indo buscar no mar uma coisa que ninguém sabe explicar direito, mas que funciona como uma espécie de bênção, um beijo da mãe, como a nos dizer “vai, filho, vai ser feliz”. Aí eu entendi melhor essa necessidade que temos em querer cortar o tempo. É importante mesmo. É como uma pausa necessária para respirar, tomar fôlego. E aí sair correndo de novo porque correr é muito divertido, mesmo que nem sempre a gente consiga acompanhar o ritmo do outro ou fazer com que acompanhem nosso ritmo. E quando eu menos esperava, me dei conta: estamos chegando ao final da corrida de 2010. E 2010 não foi exatamente um ano futurista. As pessoas não estão todas iguais, de roupa prateada. Bem, algumas até estão, mas até isso dá diversidade ao momento. Ao contrário do que eu imaginava, as coisas não estão muito mais organizadas nem exatamente melhoradas, mas pelo menos temos cada vez mais conhecimento, mais acesso, mais instrumentos. E ao contrário do que eu imaginei também, as pessoas não estão se imbecializando. Sempre vai haver as que estão, mas há tanta gente legal, tanta gente boa e bem intencionada, buscando fazer coisas para evoluir. Me dei conta do quanto sou arrogante por subestimar as pessoas. E do quanto sou feliz por ter quem me mostre isso e me ensine que todos temos coisas boas e ruins dentro de nós – e o que importa é o que você faz com isso. Refletindo sobre achar que 2010 era um ano distante e dele ter chegado assim, “repentinamente”, me dei conta de que ao final de cada década, ao final de cada ano, aquele foi o momento mais importante da minha vida, porque paro para pensar nessas coisas todas que já me aconteceram. E vejo que as pessoas à minha volta são as mais importantes do mundo, porque sem elas não há história para contar, não há nada. Mesmo que a cada ano sejam pessoas diferentes. Porque nos momentos em que estamos sós – importantes momentos para também pensarmos por nós mesmos, refletirmos um pouco sem a influência do resto, mas apenas ouvindo e sentindo o que vem da nossa própria alma –, estar só não será uma coisa solitária e triste porque temos em quem pensar, porque nos lembramos da história que só é possível escrever a muitas mãos. Por isso que eu sempre digo que é muito bom poder ter companhia até para estar sozinho. E me dou conta de como é bom encerrar cada ano com pessoas especiais, mesmo que eu não esteja com elas no zerar do cronômetro, elas estarão comigo e eu abraçarei em pensamento cada uma, com aquele abraço apertado que vocês sabem que eu tenho (ou podem facilmente imaginar), e vou desejar com toda a força que existe em mim que cada um seja feliz. Dizem que o que mais importa é ter saúde. É verdade, mas de nada adianta estar saudável e infeliz – acho até que estas são duas coisas antagônicas... – e já conheci muita gente doente e feliz, que me ensinou que a gente é mais do que um pedaço de carne, mais do que uma máquina poderosa onde tudo tem que funcionar perfeitamente bem para que a gente fique em pé todos os dias e leve uma vida “normal”. Então, meus amigos de agora e de sempre, novos, velhos, virtuais, viscerais, superficiais, daqui e de todo lugar, confesso a vocês que 2010 chegou pra mim lentamente e acabou muito rápido. Tão rápido que eu confesso que não sei bem o que esperar de 2011. Concluo mais esta década da vida achando que esse nosso mundo é muito bom, embora tão maltratado. Concluo mais este ano agradecendo por ser feliz e por conseguir entender que a felicidade é uma coisa efêmera e que tem que ser conquistada com empenho, todos os dias. Para 2011 desejo a todos o que desejo também para mim: coisas simples como beijos, abraços, sorrisos, banho de mar, comida gostosa, música boa, sono tranquilo, paz de espírito. Pensei em mandar esta mensagem apenas para meus amigos mais próximos, mas refletindo mais uma vez sobre o quanto 2010 demorou para chegar e o quanto sua chegada surpreendente virou o mundo de cabeça para baixo e mudou completamente nossa relação com as pessoas e a comunicação com elas, resolvi publicar o texto aqui e convidar quem quisesse a cumprir o desafio de ler esse texto longo e talvez até desinteressante, visto que não é literatura, crônica, novela, propaganda, post nem nada além do que minhas impressões sobre o tempo. Se você está feliz com sua jornada até 2010 e está refletindo sobre como será 2011, talvez possa ter gostado de viajar nas suas experiências enquanto lia sobre as minhas. Obrigada pela companhia e seja bem vindo a mais um ano da nossa história.

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