quarta-feira, 20 de junho de 2012

Pensando no escuro


A lâmpada do banheiro estava queimada. Ele já havia se oferecido para trocar um cem número de vezes, mas a casa era dela e ele não achava certo trocá-la sem sua permissão. E ela nunca permitia… dizia que havia se acostumado, que sua casa era tão iluminada e como só ela usava aquele banheiro, deixava a porta sempre aberta – os visitantes usavam o lavabo e ela nunca tinha hóspedes.
Fazia sentido, ele pensava. Mesmo assim lhe parecia estranho ter que usar o lavabo se não quisesse ir ao banheiro no escuro ou com a porta aberta.
Ela era uma pessoa estranha. Saíam há cerca de três meses, mas tinham uma atração louca um pelo outro, então não conseguiam maneirar. Viam-se quase todos os dias, sempre na casa dela, e, três meses e pouco depois, continuavam no mesmo ritmo intenso. E ele jamais tinha tido um envolvimento assim, do tipo avassalador. Gostava da sensação, porém notava-se chegando perto daquele momento inevitável de estragar tudo. Pegava-se observando as coisas, os hábitos, as pequenas imperfeições da garota; essas coisas que a gente só observa muito de perto. E lembrava-se, no escuro, que de perto ninguém é muito normal.

Nenhum comentário:

Postar um comentário