sexta-feira, 29 de abril de 2011

Desconstruindo Harry

Notes for a novel.
Opening possibility:
Rifkin leda... fragmented... disjointed... existence. He had long ago come to this conclusion: All people know the same truth. Our lives consist of how we choose to distort it. Only his writing was calm... his writing, which had, in more ways than one... saved his life.

(Woody Allen)

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Pê e Bê

pequena borboleta branca
pequenina brancura bela
pequena beleza branda
pequenina pureza bela

quarta-feira, 27 de abril de 2011

FIM FIM

Enquanto eu esperava na porta, um menininho chamava a mãe, ocupada com outra coisa. Ele queria mostrar as imagens dos pássaros. Eu estava de olho naquelas imagens. Vários passarinhos da mata atlântica em fotos ampliadas e coloridas. Havia esse passarinho azul chamado Fim Fim. Contei pro menininho que esse era o nome dele. Ele sorriu e fizemos amizade. O Fim Fim é azul como seus olhos. Então agora você é meu fim fim. O menininho certamente iria rir disso.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Agnóstico

me falta deus
meus pensamentos ateus
me roubam espaços meus
me falta eu
não há mais nada meu
nada que eu seja que não seja seu

SEUS ERROS

Não há muito o que fazer quando tudo já está devidamente despedaçado. Não há o que fazer quando você sabe que não é capaz de fazer o que poderia mudar tudo. Talvez então seja porque você não quer mudar tudo. Porque obviamente é muito mais fácil a gente enxergar os defeitos quando eles estão espelhados no outro.

EMPATE

Armou o time de maneira inteligente, estratégica, divertida. Mexeu com a torcida. Entrou em campo uma equipe vibrante e ajustada. Tudo parecia tão simples quanto correr pro gol. Mas não houve espaço para jogar. A defesa adversária, fechada e precisa, marcou sem dar espaço, sem deixar lacuna, sem vacilar. Não havia jeito de avançar. Há vezes assim. O resultado não é fruto apenas de talento ou eficiência. Vencedora mesmo é sempre a oportunidade.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Notas do dia seguinte

Falou demais, como sempre. Deixou uma impressão errada, achava. Na verdade não sabia o que pensar, mas não importava, porque não tinha controle sobre isso. Faltava-lhe quietude. Queria menos, mas os excessos estavam-lhe à flor da pele. Falava como quem vira o copo, engolindo as palavras num só trago. E agora sentia a ressaca do silêncio.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Se fosse

Sonhava com o dia em que ela iria embora. Imaginava uma discussão maluca, dessas em que voam vasos e cacos espalham-se dramaticamente pela chão da vida. Via-a indo. Saindo de sua casa, de sua página, de sua vida. Via-a saindo de si. Mas não tinha coragem de pedir-lhe que fosse.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Poeira preta e branca


Kika, bijuim, preta... essa senhora da foto era de uma única cor. Uma coisa interessante em ver um bicho todos os dias – ou em intervalos curtos e constantes – é vê-lo acumular os anos nos pelos que vão embranquecendo. Num cão preto, então, isso é brutalmente notável. Mas a constância do acompanhamento acaba por camuflar um pouco a percepção, então notar como de repente o cachorro preto embranqueceu não é uma coisa tão simples, que se faça naturalmente sem surpresa. Ao contrário: vasculhamos a cabeça por 16 anos tentando encontrar em vão aquele pedaço da história em que começamos a notar que de repente já passou tanto tempo e que agora não são mais só os bigodes, mas também as sobrancelhas e as orelhas. O cachorro preto embranquecendo. Antes reluzia de viço. Agora reluz porque é ouro, uma parte, um pedaço. Um pedaço velho e meio cansado. Um outro pedaço já. Uma coisa diferente, porque nem os bichos, nem nós, nem as pedras podem continuar iguais. Já já seremos todos poeira de estrela.

Seu pedido

Toda vez que penso que você se foi, vejo-te voltar. Poderias rastejar, implorar, explicar que se enganou, pedir desculpas, dar-me uma rosa. Poderias então confessar que me quer, que precisa, que sente falta, que seus dias não são mais tão divertidos se não sabes de mim. Poderias dizer que todos sentem minha falta, mas que você sente mais. E mesmo que você dissesse tudo isso, e se dissesse muito mais, apenas para confessar tudo o que não disse até hoje, mesmo assim eu bem que poderia não voltar. Mas você não diz nada. Você não pede. E não vou voltar até pedires. Não vou pedir que me queiras. Que queira de novo como quis naquela noite em que a lua estava cheia e estávamos todos loucos pelo dia louco, intenso, divertido que tinha sido. Um dia em que cada minuto teve sua imagem gravada, como em fotogramas. Instantes de infinito inesquecíveis. Se me pedisses, talvez eu voltasse. Não me pedes. Não volto. Mas também não posso ir. Aquele dia ocupou tanto espaço em mim que me perdi na imensidão da lembrança dele.

Sobre a desconstrução

Eu saí. Mudei. Vaguei. Sorri. Chorei. Senti-me livre como nunca havia sentido. Senti-me só como nunca havia sido. Estive feliz como poucas vezes estive de forma tão inteira. Estive triste. Experimento tristezas novas. E cada uma delas me ensina algo. E nenhuma delas me ensina como sentir menos dor. Ou menos falta.

Eu saí. E sabia que tudo seria diferente. E mesmo não estando pronta para o movimento, eu saí, porque sabia que jamais estaria pronta. Ninguém nunca está pronto para as perdas, para o luto, para o furto de momentos inesquecíveis e grandiosos, ou mesmo momentos insignificantes que de repente aparecem em lembranças inesperadas, surgidas nas horas mais impróprias.

Eu saí porque algo em mim precisava crescer e não achava mais espaço. Não me importei em fazer sentido. Meus cuidados foram todos para que houvesse a menor quantidade de dor possível, visto que eu já sabia que ela viria em doses cavalares.

Velando seus sonhos

Dorme. Descansa tranquila. Dorme que estou aqui, apenas olhando. Dorme que teu sono tranquilo me inspira. Me deixa a imaginar se sonhas, se sentes que estou aqui a te olhar. Dorme porque quando acordares já vai ser outra hora. E talvez seja outra casa, outra cama, outra pessoa a velar teu sono. Dorme. Vou dormir também e dar um jeito de invadir seu sonho de mansinho. E vamos correr até cansar, como um dia já fizemos quando estava sol, a grama verde e as figueiras dando frutos verdinhos que você estranhamente gostava de comer. Dorme. E vou te beijar a orelha de leve para não te acordar. Me despedir de mansinho e bater a porta de leve. Dorme e toda a segurança do mundo estará em seu sono porque não há nada que te impeça de sonhar.

(numa noite de janeiro de 2011, enquanto kika dormia)

terça-feira, 19 de abril de 2011

Metades

Mais uma vez ele começou pela metade. Ela percebeu logo. Mas aprendeu a ficar calada. Sua ausência de crítica era discreta, quase inquieta, mas deixava transparecer seu cansaço diante do inevitável – não há como mudar alguém, de verdade. E mesmo que houvesse... para quê? Ela gostava dele assim, pela metade mesmo. Os amores inteiros transbordavam nela. Não podia com eles. Quem sabe um amor pela metade?

Diferenças brutas

Ele era rude. Às vezes mal educado, até. Ela gostava daquilo nele. Era uma coisa incômoda, quase uma vergonha alheia porque claramente era demais. Mas com a mesma naturalidade ele olhava e sorria de um jeito terno. Seus trejeitos eram forçados, mas era sexy de um jeito que a fazia derreter. Ela gostava disso. E paradoxalmente gostava ainda mais de quando ele era rude. Talvez porque todo o resto ela pudesse entender, copiar até. E aquela rispicidade quase cruel, não. Aquilo ela não poderia repetir. Não sabia sentir igual. Às vezes pensava que tinha a ver com o medo. Ela sabia o que era sentir medo, mas isso nunca a tinha impedido de fazer nada. Talvez fosse essa a diferença.

Maldades

Te fiz chorar e não me desculpei. Frustrei seus planos. Acabei com o futuro que você achou que ia ter. Não tive seus filhos. Não me transferi para o seu nome. Nunca me deixei ser sua. Pelo menos não mais do que poderia fugir ao meu controle. Em alguns momentos não estive inteira ali, com você. Em alguns momentos estive em outro lugar, com outras pessoas, fazendo coisas que você nem imaginava. Coisas que você até poderia gostar. Mas não era você quem precisava estar ali. Não que você não pudesse. Você poderia qualquer coisa. Mas não era você. Ou não era eu, não sei. Minhas maldades também me doem.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Limites depois

Ontem pensei em você. Escrevi um roteiro inteiro na minha cabeça com diálogos rápidos e ácidos, onde eu te dizia coisas surpreendentes. Tive vontade de te ligar e contar sobre essa idéia. Já era tarde. E eu nem estava em casa... mas pensei mesmo em ligar, contar tudo, por que não?

Mas há um limite, acho. Um momento em que a gente percebe: é aqui. Eu nunca sei bem qual é esse limite. Fico com a impressão de que mudo minha capacidade de tolerância para sustentar essa dúvida do limite. Não sei onde é a linha, não gravo a marca d’água... e assim, me acontece essa variação, como as marés que vão enchendo ou vazando conforme a lua.

Eu já não pensava assim em você fazia um tempo. Interessante como esse é um consenso popular do qual a gente sempre duvida – o de que com o tempo a gente vai esquecendo aquilo que acha que nunca vai esquecer – mas te confesso que o tempo tem sido realmente poderoso em passar sem me fazer esbarrar tanto nas memórias que tenho de você.

Isso me era um pouco assustador, o quanto esses fragmentos de história se espalharam em referencias diversas, sempre à espreita de tudo o que eu faço, tudo o que eu vejo ou ouço... ou gosto. De repente coisas inofensivas, como uma esquina perto de casa, me causavam uma dor desnecessária, uma nostalgia exagerada de algo que mal existiu. De repente eu estava, de novo, me torturando ao lembrar de você.

Algumas páginas de calendário depois e as coisas já não são como eram. E ontem me dei conta disso. Foi como uma epifania. Acho que por isso eu quis te ligar na mesma hora. Acho que eu queria convencer alguém, alem de mim mesma, de que aquilo tudo já não me incomodava tanto.

É um terreno argiloso esse. Fico com receio de estar preparando minha própria arapuca. Algumas coisas mudaram em mim e eu não tive o menor controle sobre elas... antes eu não chorava quase nunca. Agora, choro pelas coisas mais bobas e descabidas. Disfarço, até. Acho ridículo. E de nada ainda. Choro mesmo assim. Sem o menor controle... antes eu não tinha dúvidas. Duvidava de tudo, mas decidia rápido. Não ficava paralisada diante de situações corriqueiras, tão simples quanto ir pela direita ou pela esquerda. Antes eu indicava o caminho. Agora não sei. Não consigo decidir nada. Fico sempre esperando alguém em quem confio ir primeiro. E se tem ondas, só entro no mar se alguém me der a mão. Mas nem assim me convenço de estar fazendo a coisa certa até tudo acabar.

Por isso não sei se essa coisa de pensar em você sem dor, de imaginar sua companhia como uma coisa normal, sem fazer meu coração disparar, não sei se são indícios reais de que algo mudou ou se é mera reação ao tempo que passou.

Não sei... só acho muito ruim tudo isso morrer aqui, sem que eu tenha te dito uma palavra à respeito. Por isso eu quis ligar. Ia perguntar como vão as coisas, saber de você, do que mudou, do que continua igual. Queria mesmo saber. E depois talvez eu te contasse tudo isso.

Não tenho explicação para as coisas que deixo de fazer. Mas isso é real – há coisas que meço milimetricamente a área de segurança; penso no plano, no sentido dele, no que pode dar errado; defino o objetivo no meio do caminho (não é o certo, eu sei, mas meu processo é caótico e só funciona assim, se começar pelo meio) e arquiteto a execução de mil modos... e simplesmente não executo nenhum. Simples assim, não há um porquê. A apatia às vezes se instala em mim de maneira patológica.

Então não sei. Ontem pensei muito em você. Tinha decidido ligar hoje mas não liguei. Ainda não pude fazer nada. O dia de hoje já virou ontem também. Mais páginas do calendário avançadas. E você continua do lado do avesso. Sou obrigada a usar tempos verbais diferentes. Não sei mais escrever essa história. Toda vez que acho que chega ao fim, ela começa de novo.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Sentidos temporais

O tempo cortado em sentidos opostos, em pedaços iguais, metades de metades, quartos, quintos. O tempo sem forma nas nuvens do céu, no arco-íris dividido entre a chuva e o sol, indeciso se corre ou se arrasta. O tempo que a gente admira, que pragueja, que inspira. O tempo entre nós, não ata nem desata. Só passa. Mera referência do que fica.

Aprendiz

Hoje o dia amanheceu iluminado de cores que eu não conhecia. Cochichei no ouvido dela ‘bom dia’ e ela respondeu ‘pegue uma blusa, está ventando’. Eu ri, como sempre, do que ela dizia sem saber, sonhando talvez, sem nem ter aberto os olhos ainda. Mas ela tinha razão. Ventava lá fora de um jeito desordenado e descompassado. O sincronismo do sono, do vento e das cores não me fazia muito sentido, então deixei que ela dormisse mais um pouco e segui seu conselho antes de sair. Há coisas que ela sabe e eu não.

domingo, 10 de abril de 2011

Tempo real

O tempo é real. Acontece agora, cheio de majestade. Conduz a realeza aos seus tronos predeterminados, planejados com sabedoria, abençoados, indesejados, indiscutíveis. E a temporalidade também é única. Só faz sentido para quem sabe ver. Não se explica. Entende quem pode. Acompanha quem consegue. A realeza do tempo é frágil, cabe num relógio de areia. Num tic tac. Naquela fração que você vê e entende: 1, 2, 3, agora.

sábado, 9 de abril de 2011

A viagem da pesca artesanal

Gostava quando ficava complicado. De ter que respirar rápido porque o coração disparado pressionava o raciocínio lento. Pensava a palavra r-a-c-i-o-c-í-n-i-o de forma tão propositadamente vagarosa, atropelando as letras, tendo que voltar na frase, era um caos. Mas gostava. Era sinal de problema. O sangue circulava. O frio passava. E a preguiça perdia a briga para a isca reluzente da possibilidade.

Dependente

Você disse que eu poderia ligar a qualquer hora. Fiquei feliz. Pensei em mil coisas pra te dizer, histórias pra contar, perguntas pra fazer. Minha cabeça de repente ficou inundada de diálogos e reações. Mas não pude... não liguei. Não foi por medo, timidez ou falta de vontade. Mas... lembrei que eu já liguei antes. Várias vezes. Lembrei do quanto gosto de falar com você e de como sou eu, todas as vezes, quem começa a conversa. Não liguei... Queria que você tivesse a mesma vontade que eu, que me ligasse também, que quisesse ouvir minhas histórias, me contar as suas, que quisesse me ouvir, me ver, me ter. Se não é o caso, não funciona, não posso avançar. Não consigo fazer nada que dependa só de mim.

Instante triste

Acordei triste. Como se algo de ruim tivesse acontecido. Como se as coisas brutais que acontecem fora da minha bolha pudessem me atingir de um jeito discreto e dilacerante. Como se minha inação diante do resto fosse, não um descanso, mas uma punição. A tristeza é algo tão etéreo quanto a felicidade – os motivos não são relevantes. O instante é.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Seu bilhete meu

Acabo de pegar um livro da estante. Dentro dele havia um bilhete seu. Na verdade um bilhete meu. Meu pra você. Fico na dúvida se você leu, se entendeu o que eu quis dizer. Tão difícil às vezes te dizer o que quero. Tão mais atávico disfarçar e me fazer de louca. E agora eu faço o quê? Leio o livro ou te conto essa história?

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Incoerentes

Não eram jovens. Nem velhos demais (quanto é demais?). Não eram sérios, tampouco estúpidos. Não eram intelectuais pedantes, embora fossem um pouco pedantes. Eram simples. Complexos eram os outros. Estavam dispostos a perder tudo desde que não precisassem doar nada. Eram experientes em serem sempre virgens de alguma coisa.

O que eu te diria

As pequenas coisas... Subestimei as pequenas coisas, os indícios do que não daria certo. Desde o começo. Sim, porque essas coisas a gente logo sabe. Elas começam errado. E a gente não percebe, mas escolhe se ignora ou se para pra entender o erro. No fim não importa muito porque os caminhos acabam sendo diferentes e você pode gastar seu tempo imaginando como teria sido ir pelo outro, analisando milimetricamente o trecho percorrido, calculando os riscos ao revés mas... de verdade, nunca vai saber.

O que a gente sabe é que desde o começo, quando aquele alarme dispara dentro da gente, é possível notar o tamanho do problema. E essas coisas assustam. Eu nunca sei bem como lidar com elas. Isso acontece no momento zero, tenho quase certeza. Mas a gente está sempre muito distraído para perceber.

O mundo girando, a hora passando, e você pensando no outro caminho. Aquele, que não é o seu de agora. Aquele em que você desejava estar e como estaria feliz. Aquele em que você detestaria estar e os porquês que te fariam miserável. Outras coisas, outros motivos pra tentar justificar o porquê dos momentos serem tão fulgazes.

Você pensa no que fez, no que fizeram com você. Pensa no que estão fazendo com o mundo. Se escandaliza que as pessoas possam ser sórdidas, que a natureza possa ser cruel, que o tempo possa ser impreciso e descontrolado. Se surpreende quando há verdade, quando há pureza, quando há bondade maciça, dessas sem porquê e portanto. Você pensa nisso tudo e se perde no paradoxo de sentidos que quer dar às coisas.

Perco meu tempo com você. Me atraso nos compromissos porque fico aqui, escrevendo coisas que você nunca vai ler, esperando comentários que jamais serão seus. E nem mesmo isso a gente pode ter certeza. Fica pasmo quando acontece diferente.

Esse limbo da dúvida é difícil de vencer. É um terreno de areia movediça e você afunda só de respirar. Precisa de uma mão, claro. Precisa de um resgate. Mas quando ele não chega, você faz o quê? Morre afogado? E quem quer morrer afogado? Deve ser péssimo... você se importa?

Você não se importa. Você não sabe. Pode ser que esse papel não seja seu. Não importa eu querer que seja. Importa? Você vai considerar se eu te disser? Eu te diria tantas coisas...

Eu diria que tenho medo e nem sei do quê. Eu diria que não consigo fazer o que preciso, nem sei mais do que preciso tanto assim. Eu diria que iria adorar segurar sua mão e que isso não seria nada demais. Você poderia me dizer as coisas que eu não sei. Há tantas coisas que eu não sei... você teria que me ajudar, porque já não sei mais o que quero saber.

Eu te diria que mesmo que nada disso faça sentido, mesmo que as coisas tenham começado erradas, mesmo com todos os poréns malditos que não nos deixam em paz, que não me deixam te dizer de fato o que eu queria, eu te diria todas as palavras que moram inquietas em mim, que enchem páginas, horas, aqueles momentos fulgazes, tudo isso que não sei explicar.

Nós desfeitos

Nesta hora, em que já não sei quem sou, já não sei quem és nem porque tudo às vezes é tão enovelado, penso na rede. Em como há um jeito de jogá-la que só faz sentido se for daquele jeito senão os peixes não se deixam cair. Eles são vários e nós um nó de várias voltas, vários nós, vários sós. Vários nós em um Nós. Em nós Eu. Vários sós e eu só. Desato o desfeito a mim jogado. Nós desfeitos. Desfeitos nós.

(com a colaboração de Cristina Prochaska)

quarta-feira, 6 de abril de 2011

DESATO-ME

Nesta hora, em que já não sei quem sou, já não sei quem és nem porque tudo às vezes é tão enovelado, penso na rede. Em como há um jeito de jogá-la que só faz sentido se for daquele jeito senão os peixes não se deixam cair. Eles são vários e nós um nó de várias voltas, vários nós, vários sós.

(ao pedido especial de Cris Prochaska)

segunda-feira, 4 de abril de 2011

A trama do abraço

Ele me olhou com cara de menino e me disse ‘me deixa morar aqui’. Eu não entendi bem o que ele quis dizer e ele tentou explicar ‘eu queria morar aqui, dentro dessa blusa de lã. Se você não for sentir falta dela, eu queria ela pra mim. Queria morar nela.’ Ainda assim não entendi o que ele quis dizer. Mas deixei a blusa com ele. Ela era velha, grande, larga, cheia de bolinhas. Eu nunca mais os vi. Foram morar juntos, num abraço como todo abraço deveria ser: sem motivos fáceis.

domingo, 3 de abril de 2011

Novo de novo

Ele insistiu e eu considerei antes de duvidar, movimento involuntário de defesa. Ele riu da minha dúvida e apostou na parte rasa dela, na parte que era água, não na parte que era fog. E quando ele fez isso eu notei os movimentos lentos, ventos de chuva fraca e insistente, como dessas de hoje, que deixa o dia meio claro e branco azulado de um jeito diferente, parecendo outra cidade, parecendo outros tempos. Mas agora o tempo é este. Consideremos.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Fratura exposta

Era um sentimento dilacerante. Ardia, queimava, doía de um jeito tão cruel... era um afogamento. Estava tão obcecado, tão cego de um ódio que não imaginava caber dentro de si. Sua cabeça sabia, aquilo era tudo. Ela não queria estar com ele. Ela preferia estar com outro homem, ela devia estar dando pra outro naquele exato minuto. Então foda-se, de que adianta? Mas não adianta. Para matá-la ele precisava antes morrer um pouquinho.