quarta-feira, 20 de abril de 2011

Poeira preta e branca


Kika, bijuim, preta... essa senhora da foto era de uma única cor. Uma coisa interessante em ver um bicho todos os dias – ou em intervalos curtos e constantes – é vê-lo acumular os anos nos pelos que vão embranquecendo. Num cão preto, então, isso é brutalmente notável. Mas a constância do acompanhamento acaba por camuflar um pouco a percepção, então notar como de repente o cachorro preto embranqueceu não é uma coisa tão simples, que se faça naturalmente sem surpresa. Ao contrário: vasculhamos a cabeça por 16 anos tentando encontrar em vão aquele pedaço da história em que começamos a notar que de repente já passou tanto tempo e que agora não são mais só os bigodes, mas também as sobrancelhas e as orelhas. O cachorro preto embranquecendo. Antes reluzia de viço. Agora reluz porque é ouro, uma parte, um pedaço. Um pedaço velho e meio cansado. Um outro pedaço já. Uma coisa diferente, porque nem os bichos, nem nós, nem as pedras podem continuar iguais. Já já seremos todos poeira de estrela.

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