quinta-feira, 21 de outubro de 2010

História torta

Acordou incomodado, sem saber exatamente se por causa do som alto (um pouco impróprio para aquela hora da manhã – não que ele se importasse com isso) ou se por causa do cheiro levemente doce que invadia a casa, amarelada pela luz gentil da manhã, fresca com as janelas já todas abertas e com as cortinas balançando com o vento sossegado da primavera.

Acordou incomodado, mas sorriu ao perceber, sem precisar pensar ou ver, o que estava contecendo: era domingo, ela estava sentada no chão da sala vestindo aquela camiseta verde dos Stones, a torta de blueberry morna sobre a mesa baixinha no centro da sala, o jornal espalhado pelo chão, Warren Haynes e sua voz pigarrenta ecoando nas caixas de som.

Ele sorriu. Deu-se conta de que era mais tarde do que costumava acordar. Mas era domingo. Ela estava na sala comendo sua torta preferida com as mãos, ignorando a colher que sempre colocava no prato e depois se esquecia de usar, ignorando a ordem das coisas. Ele não precisava ver a cena para saber que era assim que ela acontecia.

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