sexta-feira, 15 de abril de 2016

monólogo memorável

sobre as conversas que não tivemos, tenho memórias rebeldes e estáticas. elas se congelam, como num ásana, e ficam tão paradas no tempo e no espaço, que já não sei o sentido que tinham.

todos os dias meu passado fica mais distante e não existem outros tempos verbais além do presente. mas como uma afronta à esta verdade, tão inquestionável e notoriamente provável, quando o dia arrefece, o futuro aparece inesperado, adiantado, à espreita do momento oportuno para importunar.

engoli todas as palavras que não consegui cuspir no último tiroteio. te matei quando acertei em cheio cada letra disparada para me despedir. mas não consegui escapar. morri também. e agora para sempre me arrasto como um vampiro faminto, a viver de sombras mesmo no mais ensolarado dos dias.

são as palavras mais amargas e sórdidas, aquelas que ninguém ousa usar, que me sobram. porque já usei todas as palavras boas, doces e amadas. elas estão escassas. não é tempo.

jamais te neguei o amor. mas minhas palavras você nunca mais vai ouvir.

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