domingo, 3 de abril de 2016

Memória Inabalável



outro dia contei essa história da máquina de escrever, que nunca foi minha. e logo eu, veja só, que vivo escapando dos encontros, driblando os desencontros, viro a página e dou de cara com sua irmã gêmea. me lembro, então, que essa história de datilografia requer talento e habilidade. enquanto penso nisso o piano e o violão se ressentem do meu desprezo e falta de nostalgia, como se a nossa história não tivesse acabado bem. não é verdade. preciso deles; preciso de todos. todas as letras, tudo junto, colorido, barulhento e organizado à minha maneira, tão caótica e ainda assim ordinária. e de um jeito ardido, como se fossem defeitos o que apenas não é perfeito. do mesmo modo que trocamos de dia, de roupa, de hábitos, e trocamos também de ideia, de conceito ideal, olhamos mais de perto o surreal e nos vemos também obrigados a trocar. é preciso. tudo precisa seguir seu fluxo. isso vem à tona, inesperadamente, nos reencontros. inevitavelmente ele carrega memórias e dores, saudades, questões que não vem mais ao caso, mas ao acaso, por acaso, ainda importam, mesmo que seja um erro. nesse movimento involuntário, entretanto, mora uma loucura que é temida e evitada. esse contato tão próximo da alma, do que dilacera, do que provoca a ansiedade de uma letra, uma palavra ou toda uma página cheia de peças que não se completam. talvez seja isso. talvez apenas não somos da mesma caixa de quebra-cabeças que nos seduziu. a fita da sua máquina é vermelha da mesma cor da bandeira da itália. na verdade eu sei que é vermelha pelo fluxo que ela tem. o verde me confunde e nessa desordem de tons eu baixo o meu para te bater com essas palavras sonoras. elas mexeram com todos os sentidos e mesmo assim não consegui dar a elas um sentido ou uma chance para que pudessem ser poesia. foi um exagero, e ele mora aqui, então às vezes precisa dar uma volta. tentamos nos esquecer de alguns detalhes, mas eles também são temperamentais. nos resta entender ou apenas lembrar sem se abalar.

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