quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

HARMONIA DA NOSTALGIA


Somos animais nostálgicos. Acumulamos o tempo em nossa existência, como todos os outros elementos do universo, mas somos mais perecíveis - apesar da superpopulação.

A cada dia tudo muda de maneira eficiente e imperceptível. E essa mudança se aloja em nossa pele, nos cabelos, nos ossos. Penetram pelos poros e complicam veias, órgãos e sentimentos. Transformam suposições em tormentos, dores inesperadas em lamentos, pequenas medidas em alegrias desmedidas, paradoxos brincando alucinadamente numa gangorra. E essa carga de história transforma nossas células, nossas feições, nossas cores, sabores, cheiros, medos, fraquezas, certezas...

Somos então animais transformados, inconformados com a elasticidade estática, estética e histérica do tempo.

Nossa natureza de acumular o tempo assim, o tempo todo, nos deixa presos ao passado, presos ao que já foi, que já passou; ao o que não é mais, ao que já não somos mais. Então as roupas não servem, chove demais ou menos do que devia, tem mais trânsito na cidade e seus olhos ardem de ver e ouvir tudo mudando de maneira tão caótica e desafinada, mas com trechos muito inspirados e harmoniosos. A beleza fotogênica do caos na fração de segundo que passou.

De repente passa-se um ano e a harmonia do caos não é mais fantasia, foto ou sonho. É só nostalgia.

Um comentário:

  1. Nostalgia pré-natalina ?
    Aquela época em que todo o passado vem à tona, retorna à cena, carimbando nosso curriculum com a rubrica "péssimos atores" ?
    ;-)

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