domingo, 27 de dezembro de 2015

aquela carta que nunca mandei

Passado tanto tempo, volto a te escrever.

Tento tirar de mim esses vultos, esse tumulto que sua presença traz. Ainda que eu evite os encontros, não consigo evitar as lembranças. Ainda que eu combata as evidências deixadas por você na minha vida, na minha casa, na minha pele, não consigo combater a febre que me invade em ondas lancinantes de dor e falta, como numa crise de abstinência. Passado tanto tempo, ainda existem esses momentos.

É que talvez eu tenha escrito tantas coisas sem sentido na tentativa desse exorcismo, que já nem acredito mais nas palavras. Encho linhas e linhas de pensamentos delirantes, que viajam a esmo na minha cabeça atordoada, cheia de memórias colocadas num baú atirado às profundezas do mar que não afunda, mas naufraga ali, junto à minha derrota na guerra de pensamentos que eu preferia não ter.

Mas não pense, porém, que te escrevo para me declarar ou pedir alguma coisa, ou nem mesmo a expectativa final de qualquer carta - a leitura. O que eu escrevo aqui com tanto esforço são palavras de raiva. Minha raiva e meu desprezo, que crescem e derramam lava quente dentro de mim. Combato mais uma vez esses sentimentos escrevendo sobre eles. Queria colocar aqui palavras nobres, duras e fortes. Mas já é muita sorte conseguir enxergar que ainda há tempo a se passar. As tardes rosas, douradas de verão, trarão esperança e renascimento.

[fevereiro, 2015]

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