terça-feira, 8 de outubro de 2013

Rita Lee e o lixeiro



Em 1980 eu tinha 5 anos e meu irmão, Marinho, 4. Éramos parceirinhos de 'fazer arte', como diria nossa exausta mãe. Enquanto eu me pendurava em todos os lugares, Marinho, mais comportado e medroso, ficava sempre vigiando. Se dava problema (e como dava!) ele corria para chamar alguém.

Um dia ele venceu o medo e me pediu ajuda para subir num tanque que havia no fundo do quintal, assim poderia ver, sobre o muro, o caminhão de lixo passar. Criamos então nosso pequeno ritual: ele sabia o dia e a hora, ficava atento ao barulho do caminhão entrando na rua e, quando ouvia, dava o alarme e saíamos correndo. Eu, mais velha e experiente, era rápida na operação de ajudá-lo a subir no tanque, que era bem alto para o nosso tamanho. Rapidamente eu subia também para cuidar dele. 

No início fomos repreendidos, era perigoso. Explicamos então o motivo e nossos pais ficaram curiosos – vocês querem subir no muro para ver o caminhão de lixo? – mas bastou observar uma vez para que eles entendessem: não existia nada mais divertido na vida do Marinho do que ver o caminhão de lixo passar... ele acenava para todos os lixeiros e ficava encantado com a operação do caminhão. Acordava cedo já anunciando “Hoje é dia de 'lixeilo!'”.

Devidamente autorizados com a supervisão da mamãe, passamos (o que me pareceu) anos fazendo isso. Na verdade devem ter sido só algumas semanas, mas eu nunca mais esqueci esse nosso momento de descobertas.

- Marinho, o que você quer ser quando crescer?
- 'Lixeilo'!
- E você, Monaliza?
- Eu quero ser a Rita Lee!

Nenhum comentário:

Postar um comentário