quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Madrugada

Cris me olhava com uma cara triste enquanto eu abotoava a camisa sentado na ponta da cama.

- Não vá embora - me diz, com voz de criança.

- Tenho que ir, já está amanhecendo.

- Então me dá um beijo de tchau. Daqueles infinitos.

Dei-lhe um beijo com gosto de ressaca, sem saber direito se eu queria ir ou se queria ficar.

Desci as escadas devagar, ainda com sono. Acendi um cigarro na porta da varanda, balançando com o vento meio desgovernado que vinha de fora, num rangido baixinho, quase tímido, talvez por ainda ser madrugada.

O céu estava daquela cor que eu adoro, de um azul intenso que só existe naquela hora, pouco antes do dia querer amanhecer. As luzes lá fora, por trás da fumaça lenta que saia do cigarro, ainda brilhavam de forma intensa.

Eu ouvia Cris respirar baixinho enquanto colocava os sapatos. Fechei a porta da varanda devagar. Aquilo já estava tornando-se um hábito e pensei por um segundo se seria uma coisa boa. O hábito surge da repetição, da maneira mais dissimulada e cafajeste possível. E a gente se acostuma com o hábito. E passa a depender dele pouco a pouco. E se escraviza sem querer, do mesmo jeito que se pisa num chiclete num dia de sol quente e adota a porcaria para sempre na sola do sapato.

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