Fazia um ano. Conheceram-se naquela viagem. Estavam sós.
Coisa rara, gente viajando só. Mas gostavam e falaram à respeito; havia valor
nas viagens solitárias, nas coisas que enxergavam com mais atenção porque viam
sem ter ninguém por perto para dividir. Viajando só, ponderaram, estavam
sujeitos a coisas nunca imaginadas, e a prova era essa: conheceram-se lá.
Estranharam-se, na verdade, quase como se não quisessem se encontrar. Não
buscavam nada, mas como ficar indiferente a um momento daqueles, com cenário
perfeito, temperatura alta, céu limpo, azul de dia e quarado de estrelas à
noite, a lua começando a sorrir, maliciosa? Encontrarem-se daquele jeito não
parecia real, parecia uma história em quadrinhos, tudo desenhado com naquim e
pintado com aquarela; um parêntesis no tempo e espaço; um conto curto e feroz,
como um soco no queixo. Um ano depois ainda era difícil acreditar que tinha realmente
acontecido.
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