Durante aqueles meses foi feliz como nunca na vida. E por várias vezes
depois disso, tentou entender como tudo acontece assim, sem que a gente se dê
conta.
Há como registrar aquele momento de um modo que ele seja repetido com
realidade toda vez que sentirmos necessidade de viver aquilo de novo? Há como
enquadrar, guardar numa caixa, num arquivo, num frame, fazer um back up?
Mas durante aqueles meses foi impossível pensar nisso. O tempo estava
inteiramente tomado. Viviam naquele ritmo frenético do piloto automático,
programado para ligar e desligar com um alarme acertado com antecedência. E
conferido.
Há na ignorância uma bênção, é claro. Não a ignorância estúpida, é
claro. Mas na ignorância de ser ingênuo; de não conhecer a profundidade dos
fatos; de ter algumas coisas como certas e não duvidar delas pelo conforto do
caminho seguro.
Há na angústia da fome a recompensa do que não se pensava ser possível,
seja isso bom ou ruim. Há na descoberta das fronteiras os perigos que não se
conhecem, as coisas desnecessárias, os erros e as adversidades. E por mais errantes
ou seguros que sejam os caminhos, nenhum deles é seguramente garantido.
Quando pensava nisso tudo e lembrava que durante aqueles meses foi feliz
como nunca na vida, às vezes desejava que nada daquilo tivesse realmente
acontecido.
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