Tinham coisas
para dizer um para o outro. Tinham história. Tinham histórias, páginas e páginas
escritas, fotografadas, documentadas. Tinham um livro inteiro, cheio de ilustrações surrealistas com as formas
de Dalí e as cores de Chagall. Tinham atravessado países, línguas, limites. Viram
de perto desertos e oásis. E outras coisas que não tinham plural, como eles e os moai da Ilha de Páscoa.
Agora de que adiantava tanta fome, tanta sede, tanta piedade? Pediram-se
desculpas mil vezes e nenhuma delas foi suficiente para perdoar. Tinham tanto a
dizer, mas não encontravam as palavras. E aquilo que já não precisava ser dito continuava
a se repetir, como num disco riscado. Num determinado momento se perguntam como
tudo aconteceu. E embora lembrem-se de cada linha da história, não sabem
explicar a bola de neve, o novelo de lã depois do nó, a borboleta que entrou no
casulo verme e saiu de lá colorida para morrer 24 horas depois. Quem se importa
com as coisas não ditas, não feitas, não vividas, não vistas? Eram como aquela
borboleta, azul como o laço de Alice.
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