Mulher impossível
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Todos os
dias ele sonhava com uma mulher sem rosto. Não sabia dizer se era loura, se era
nova, se era velha, se era bonita. Mas sonhava com ela e às vezes passava o dia
com ela na cabeça. Buscava-a em outras mulheres. Tentava transportar para o
mundo real aquela sensação boa e desafiadora que os sonhos lhe traziam na
companhia daquela estranha que, de tão constante, começava a parecer familiar e
até necessária. Desconectava-se, sem se dar conta, das mulheres que orbitavam
sua vida e disputavam sua atenção. Nenhuma era páreo ou merecia mais seu tempo
do que aquela que ocupava de maneira tão surreal seus sentidos, mesmo que
imaginários. Isso durou um tempo. Muito tempo talvez. Fez-se impossível de
tolerar. Ninguém mais entendia. Suas companhias, suas possibilidades, suas chances
de ser feliz como par de alguém de verdade… ninguém compreendia. Elas falavam e
ele não ouvia. Ele falava e não dizia coisa que lhes parecesse coisa com coisa;
logo, elas não entendiam. E ele, então, seguia sonhando. Sonhar era mais fácil
do que encarar as mulheres reais.
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