segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
31 histórias sobre o fim #30
Reflexões diárias sobre o fim do ano, o fim do mundo, o fim das histórias e o início de outras coisas em histórias ilustradas.
#30 - O último domingo
Uma coisa interessante desses dias que antecedem o ano novo é essa
sensação de pausa no tempo. Como se todos, por esse breve momento,
entrassem em comunhão. Tudo parece entoar um silêncio natural, mesmo que
haja música ou qualquer outra agitação habitual, tudo fica parecendo
diferente do dia-a-dia de todos os dias. No final, é só mais um domingo,
o último, em contagem regressiva - e lenta, como pede o domingo - para o
último dia do ano.
sábado, 29 de dezembro de 2012
31 histórias sobre o fim #27
Reflexões diárias sobre o fim do ano, o fim do mundo, o fim das histórias e o início de outras coisas em histórias ilustradas.
#27 - Enfim, o fim
O fim da estrada
o fim da linha
o fim da história, enfim.
O fim do dia, o fim da noite
o fim do amor que não finda a dor.
Enfim, a história que finda outra vez.
O fim aguardado
ou ainda o inesperado,
o fim necessário, o inevitável fim diário,
de ano, de mundo talvez.
Insistente, o fim da história mais uma vez.
O fim que nos preocupa, o fim que se escuta aproximar ruidoso,
rastejando vagaroso, o fim invejoso que se termine de vez
tudo o que insiste em começar outra vez.
31 histórias sobre o fim #24
Reflexões diárias sobre o fim do ano, o fim do mundo, o fim das histórias e o início de outras coisas em histórias ilustradas.
#24 - Nirvana
na trama de tuas cores
no laço de teu abraço
nas linhas paralelas que tendem ao infinito
ou ao caos do acaso
que se resgatam na impermanência
tão inerente à existência
que não tem consciência
início nem fim.
31 histórias sobre o fim #23
Reflexões diárias sobre o fim do ano, o fim do mundo, o fim das histórias e o início de outras coisas em histórias ilustradas.
#23 - Azul sem fim
vento fresco
água salgada
sol intenso
areia molhada
o movimento do mundo
contínuo no azul profundo
da linha de tom discreto
que num risco separa incerto
o céu, o sol, o ar
a lua, a cor, o mar.
sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
31 histórias sobre o fim (ou 21, caso o mundo acabe) #20
Reflexões diárias sobre o fim do ano, o fim do mundo, o fim das histórias e o início de outras coisas em histórias ilustradas.
#20 - Se o mundo acabasse amanhã, do que você se lembraria?
Se o mundo
acabasse amanhã, naquele flash do último instante, eu me lembraria das coisas
mais bonitas que já vi. Todos os sorrisos e olhares de cumplicidade das pessoas
que amei. Todos os lugares divinos que já conheci, principalmente aqueles para
onde pude voltar.
Me lembraria de todas as vezes em que me senti amada, talvez não todas, mas daquelas em que pude reparar no amor chegando, feito o vento bate no rosto quando andamos de bicicleta e a gente tem que fechar um pouco os olhos.
Se o mundo acabasse amanhã, seria uma pena, porque ele é lindo. Mas se acabasse amanhã, que pudesse ser em alegria, com cores de fantasia.
Se acabasse amanhã, acho que é disso que eu lembraria.
quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
31 histórias sobre o fim (ou 21, caso o mundo acabe) #19
Reflexões diárias sobre o fim do ano, o fim do mundo, o fim das histórias e o início de outras coisas em histórias ilustradas.
#19 - Fim pontual.
Não há maior símbolo de fim do que o ponto final.
Talvez apenas a súbita ausência dele
ou ainda o seu exagero no formato da exclamação!
ou das terríveis reticências...
quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
31 histórias sobre o fim (ou 21, caso o mundo acabe) #18
Reflexões diárias sobre o fim do ano, o fim do mundo, o fim das histórias e o início de outras coisas em histórias ilustradas.
#18 - Beijos infinitos
quando ele me beijou pela primeira vez achei que fosse derreter. era um
beijo incendiário, guardado para mim há muito tempo, temperado com
vontades intuídas e ousadas. achei que com o tempo aquele calor todo
iria esmaecer, como acontece com tudo quando o tempo passa. me enganei.
com o tempo seus beijos ficavam mais longos, mais saborosos, envolventes
e luxuriantes. não sabia se seria sempre assim - se os beijos ficariam
sempre melhores, evoluindo ao invés de tornarem-se óbvios e cansados.
não importava. a teoria das coisas que esmaecem com o tempo estava
derrubada. o tempo havia passado e tudo o que importava é que seus
beijos só ficavam infinitamente melhores.
31 histórias sobre o fim (ou 21, caso o mundo acabe) #17
Reflexões diárias sobre o fim do ano, o fim do mundo, o fim das histórias e o início de outras coisas em histórias ilustradas.
#17 - Nada se perde, tudo se transforma
As palavras guardam dentro de si combinações e significados infinitos.
Trabalhar com elas transcende o prazer da leitura ou o ofício da
escrita. Trabalhar as palavras é meditar sobre suas formas, conteúdos,
combinações e possibilidades. É o exercício criativo da álgebra aplicada
aos sentidos universais de cada língua, de cada signo, de cada caracter
que vai além da semiótica e se combina com outros e consigo mesmo; que
se soma, multiplica, reduz, edita, lapida. E o resultado do exercício é
enxergar além do que se pode ver.
Para entender as palavras, é preciso mais do que estudá-las. É preciso amá-las e deixar que sejam livres, ferozes, verdadeiras.
31 histórias sobre o fim (ou 21, caso o mundo acabe) #13
Reflexões diárias sobre o fim do ano, o fim do mundo, o fim das histórias e o início de outras coisas em histórias ilustradas.
# 13 - A viagem do menino de asas
O menino de asas um dia se zangou e saiu do interior de Pernambuco numa longa viagem para conhecer o mundo.
Ele não sabia muito sobre a vida e o modo como o mundo é organizado.
Descobriu aos poucos que, embora viajar seja um exercício de liberdade,
há viagens que são muito longas, difíceis e cansativas.
O mundo é muito grande e o menino voou até seu ponto mais alto. Ficou
lá um tempo meditando sobre a saudade que de repente lhe invadia e lhe
deixava triste.
Pensou no percurso que fez, no vento gelado que
sentiu no rosto quando sobrevoou Berlim, Pequim e a Noruega. Lembrou-se
do calor do Brasil, das cores fortes das festas e da música alegre do
sertão.
Foi então que o menino sentiu que aquele calor, aquelas
cores e aquela música faziam seu coração bater mais forte, ritmado, num
compasso que lhe enchia a alma de felicidade e lhe fazia sorrir.
Sua zanga então passou e de um salto o menino voltou pro sertão. Chegou
cansado, mas foi logo bagunçar com seus amigos porque saudade boa é
assim, quando chega logo ao fim.
- história inspirada na canção "Menino de asas" e publicada em 13/12/12 por ocasião do centenário de Luiz Gonzaga.
http://www.youtube.com/ watch?v=xwPUb3KIoPg
31 histórias sobre o fim (ou 21, caso o mundo acabe) #12
Reflexões diárias sobre o fim do ano, o fim do mundo, o fim das histórias e o início de outras coisas em histórias ilustradas.
#12 - A morte, segundo o Hinduísmo
Segundo a crença indiana, os elementos imponderáveis formam o suporte
da alma libertada, a qual, destituída de seus órgãos físicos, não tem
desde logo consciência de sua passagem de uma vida à outra. Mas é a
mesma alma que passa por uma série de existências: o sono sem sonho não
impede ao adormecido de ser o mesmo ao despertar.
A alma não pode perecer como o corpo.
As miragens da vida terrestre iludem o espírito humano que crê na
realidade delas. Ele se esquece de que o "fio de ouro", guia infalível
para a Unidade que o libertará de seu isolamento temporário, de sua
prisão carnal, é a única realidade neste mundo.
Om é a sílaba
sagrada, o Brama, o Absoluto, inato, Eterno, sem fim, que não morre
quando se mata o corpo; estável em meio ao instável, o grande e
onipotente Atman, todo o que o conheceu, é isento de sofrimento.
Não é pelo ensinamento que se adquire esse átman, nem pelo intelecto,
nem pela revelação abundante, mas ele adquirido pelo seu eleito.
Ou seja, é preciso escolher a libertação. O Om é a palavra que glorifica esta busca.
- trecho de 'A Morte no Hinduísmo' por Solange Lemaitre em 'O Hinduísmo' (1958).
quarta-feira, 12 de dezembro de 2012
31 histórias sobre o fim (ou 21, caso o mundo acabe) #11
Reflexões diárias sobre o fim do ano, o fim do mundo, o fim das histórias e o início de outras coisas em histórias ilustradas.
#11 - O fim
de um sonho
Sonhei que nadava entre os tubarões-baleia. Eles me levavam para conhecer as profundezas abissais, onde havia criaturas aterrorizantes. Não ficamos muito porque era muito escuro e fazia muito frio.
Além do
mais, a vida marinha é muito mais colorida (e portanto mais adequada aos
sonhos) na pouca profundidade, onde moram os chapeirões e diversos outros
grupos de corais, estrelas-do-mar e poliquetas (que eu adoro!), além de
plancton e krill (que os tubas-baleia adoram).
Quando
chegamos à superfície, eles se despediram e eu perguntei:
- Mas por
que vocês já vão?
E um deles
respondeu:
- Porque
precisamos almoçar e você talvez precise acordar!
Achei engraçado
e pensei em argumentar, mas aí acordei…
segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
31 histórias sobre o fim (ou 21, caso o mundo acabe) #10
Reflexões diárias sobre o fim do ano, o fim do mundo, o fim das histórias e o início de outras coisas em histórias ilustradas.
#10 - Segunda sem fim
Na
infinidade de dias que se sucedem semanalmente, não há um primeiro à frente da
segunda. O domingo não conta, já que tudo de um modo geral funciona a partir da
segunda.
Então
pulamos o primeiro dia como se ele fosse um prêmio e reiniciamos o cronômetro
semanal em segunda – uma partida desajeitada, em marcha mais lenta do que pede
o trânsito do mundo.
Na
infinidade das segundas que se sucedem, existem segundas chances, segundas
intenções, segunda classe e segundas opiniões – todas elas iniciando um ciclo à
revelia da primeira possibilidade.
São as
segundas que dão sequência aos ciclos. O ciclo semanal que tem a lua, por
exemplo, começa na segunda – por isso Luns (em galego) ou Lunes (em espanhol)
são sinônimos de segunda-feira, dia dedicado à lua.
Na
infinidade de ciclos que se sucedem e compõe as segundas, existem também os
segundos – espaço de tempo curtíssimo, cada um correspondendo à sexagésima
parte do minuto ou ao ordinal correspondente a dois.
Nas
infinidades relacionadas a dois, aos segundos, às segundas, aos pares, à
etimologia das palavras de duplo sentido, aos seus sentidos, lógica, contagem,
sequências… para tudo há uma ordem que mantém as coisas funcionando de maneira
binária. Ou seja, partimos do zero e do um, mas estamos tratando de dois, pois
só assim as coisas começam a funcionar.
Segundas
são complexas… e na infinidade de coisas complexas que se sucedem, as segundas
têm esse poder de parecerem infinitas só porque começam assim, com uma
infinidade de significados indiretos, quase insignificantes, excessivos,
inerentes à nossa própria existência e, por consequência, ao nosso próprio fim.
domingo, 9 de dezembro de 2012
31 histórias sobre o fim (ou 21, caso o mundo acabe) #9
Reflexões diárias sobre o fim do ano, o fim do mundo, o fim das histórias e o início de outras coisas em histórias ilustradas.
#9 - Um fim de mentira
Ah, as mentiras que ouço, que vivo, repito, duvido, engano. Ah se metade dessas mentiras não fossem mesmo as verdades que são, já que toda mentira tem sua razão insensata. A mentira da perna curta. A mentira deslavada. A mentira desleal. Tudo mentira. Um deus de mentira, um governo de mentira, um amor de mentira, uma vida de mentira. Ah, essa mentira que é o mundo, que é a humanidade que em sua essência é desumana. Pra quê tanta mentira? Ou pra quê tanta verdade? Eu confundo flerte com blefe. No fim, tudo é interpretar. É só fazer bem o papel. E cuidá-lo para não molhar. As mentiras são poderosas, mas facilmente perecíveis.
31 histórias sobre o fim (ou 21, caso o mundo acabe) #8
Reflexões diárias sobre o fim do ano, o fim do mundo, o fim das histórias e o início de outras coisas em histórias ilustradas.
#8 - Isolation
People say we got it made
Don't they know we're so afraid
Isolation
We're afraid to be alone
Everybody got to have a home
I-Isolation
Just a boy and a little girl
Trying to change the whole wide world
I-Isolation
The world is just a little town
Everybody trying to put us down
I-I-Isolation
I don't expect you to understand
After you caused so much pain
But then again you're not to blame
You're just a human, a victim of the insane
We're afraid of everyone
Afraid of the sun
I-I-Isolation
The sun will never disappear
But the world may not have many years
I-I-Isolation
quinta-feira, 6 de dezembro de 2012
31 histórias sobre o fim (ou 21, caso o mundo acabe) #6
Reflexões diárias sobre o fim do ano, o fim do mundo, o fim das histórias e o início de outras coisas em histórias ilustradas.
#6 - Hora marcada
Não é o momento. Você está atrasado. Você está adiantado. Você está descompassado. E sua falta de compromisso, de hora, de juízo, de razão são como uma maldição. Estás condenado a esperar. Pegue sua senha e vá para o fim da fila! Mas se te der a louca, jogue fora o relógio, dispense os palpites cheios de equilíbrio e opinião. Como diria o Gullar, há que se escolher – e às vezes é melhor ser feliz do que ter razão.
31 histórias sobre o fim (ou 21, caso o mundo acabe) #4
Reflexões diárias sobre o fim do ano, o fim do mundo, o fim das histórias e o início de outras coisas em histórias ilustradas.
#4 - Falta de ar
O ar dentro do zeppelin.
O ar dentro do balão.
O ar ao redor de todas as coisas.
O ar dentro das nuvens.
O ar dentro das bolhas de sabão.
O ar escondido no fundo do mar.
Filtrado pelos peixes
para poder respirar.
Se um dia faltar ar,
inspire, inspire-se,
continue a nadar!
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