Porque faz
frio, me lembro do teu calor. Da sua mão que encostou em minhas costas, me fez
pular e fez seus olhos se acenderem, como dois vagalumes, surpresos do meu
corpo quente.
Foi
estranho porque ontem era uma noite de verão, uma noite em que tive razão, fui
responsável, flertei com a possibilidade e desdenhei da minha sorte, da minha
arte em ignorar os sinais. Mas ignoro o que sei… é como se seu soubesse de tudo
antes mesmo de tudo começar, mas não visse. Sou ansiosa. É da minha natureza saber
das coisas antes – mesmo que eu não queira.
Sou bicho,
mamífero mal desmamado, animal que acha os chifres lindos. E acha ridículo que
eles remetam aos cornos de orgulho ferido. Porque nem existe feminine para
corno. As mulheres, quando traídas, snao apenas mulheres traídas. E a maioria
delas, ainda mais se taurinas, sabem de tudo antes mesmo de tudo começar.
Animal que
sou, eu sinto. Homem que sou, eu penso. Penso que não pertenço a ninguém. Penso
que ninguém me pertence. Penso que não existe animal mais aprisionado,
escravizado e domesticado do que aquele que precisa de cercas, regras e ração.
Admiro a mulher de Chico. Todo dia ela faz tudo sempre igual. E mesmo que falhe
e mesmo que erre, cuida do seu rebanho, não sabe o que fazer só, for a da cerca.
Eu não sou
esse bicho. Não sei que bicho sou, mas minha porção que sente, e apenas sente e
nada mais, às vezes sente muito. Porque bichos assim cruzam oceanos, às vezes
ficam à deriva, e não sabemos bem o porquê de terem esse comportamento.
Somos bichos
diferentes. Não só homens e mulheres. Homens isso, mulheres aquilo, ursos
pandas, marrons, polares, de óculos, the grizzly bear que não sei traduzir.
Podemos até ser de mundos diferentes, mas não somos cada um de um planeta. Rita
Lee é mais macho que muito homem e Caetano tem aquela energia estranha de
cigana bonita, mesmo sendo feio que dói. O que ele canta dói.
As pessoas
são estranhas. De repente não sabem mais quem são e acham que têm sempre razão
e que o mundo seria muito melhor se seguisse suas ordens e regras. Mas e a
cerca e a ração? Não foi Millor quem disse “prefiro ser feliz a ter razão”?
Não, não foi. Quem disse isso foi Ferreira Gullar, que você adora citar sem se
lembrar do nome. Acho que Millor poderia rir dessa piada… Mas e você? Você entenderia
minha piada?
Hoje
esfriou e seus olhos de vagalume sumiram fugindo do outono que surgiu
atrapalhado com o timing e o ajuste gradual do termostado da cidade. Acho que
eu sabia que seria assim. Mudam as estações, envelheço na cidade e minhas referências
não têm nenhuma importância.
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