Em 1980
eu tinha 5 anos e meu irmão, Marinho, 4. Éramos parceirinhos de 'fazer arte',
como diria nossa exausta mãe. Enquanto eu me pendurava em todos os lugares,
Marinho, mais comportado e medroso, ficava sempre vigiando. Se dava
problema (e como dava!) ele corria para chamar alguém.
Um dia
ele venceu o medo e me pediu ajuda para subir num tanque que havia no fundo do
quintal, assim poderia ver, sobre o muro, o caminhão de lixo passar. Criamos
então nosso pequeno ritual: ele sabia o dia e a hora, ficava atento ao barulho
do caminhão entrando na rua e, quando ouvia, dava o alarme e saíamos correndo.
Eu, mais velha e experiente, era rápida na operação de ajudá-lo a subir no
tanque, que era bem alto para o nosso tamanho. Rapidamente eu subia também para
cuidar dele.
No início fomos repreendidos, era perigoso. Explicamos então o
motivo e nossos pais ficaram curiosos – vocês querem subir no muro para ver o
caminhão de lixo? – mas bastou observar uma vez para que eles entendessem: não
existia nada mais divertido na vida do Marinho do que ver o caminhão de lixo
passar... ele acenava para todos os lixeiros e ficava encantado com a operação
do caminhão. Acordava cedo já anunciando “Hoje é dia de 'lixeilo!'”.
Devidamente
autorizados com a supervisão da mamãe, passamos (o que me pareceu) anos fazendo
isso. Na verdade devem ter sido só algumas semanas, mas eu nunca mais esqueci
esse nosso momento de descobertas.
- Marinho, o que você quer
ser quando crescer?
- 'Lixeilo'!
- E você, Monaliza?
- Eu quero ser a Rita Lee!
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