O único lugar onde a guerra pode genuinamente ser boa é na poesia. É lindo ver as palavras guerreando, engolindo-se, arriscando-se a outros sentidos. Um espetáculo de arena onde pode ou não haver feridos, já que palavras têm também esse poder, o de ferir. À despeito disso, a beleza da palavra bem forjada, dissecada com precisão de balística, no exercício surreal que é fazer poesia, nisso cabe a guerra. A paz é fácil. A guerra é difícil. E viver é guerrear.
domingo, 20 de outubro de 2013
quinta-feira, 17 de outubro de 2013
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
Palavras de raiva
eu queria poder escrever com toda a raiva que sinto
expiar as palavras com a força de esfregar a alma
até que ela ficasse alva. e de alva, com drama, fuleira,
ficasse vermelha. vermelha de sangue, de raiva, de bicho vivo.
porque vivo com fome. fome de tudo que posso e mais ainda
do que não posso. do que não devo e me atrevo. desembesto.
faço tudo o que sei e mais ainda o que não sei. faço errado.
e entre um erro e outro, acerto. conserto aos poucos um pouco
do que achei não ter mais conserto. me acerto. e é desconcertante
emendar as palavras sem medo, sem buscar um sentido certo, deixar
que elas se encontrem, que se percam, que se amem, que se odeiem.
que naveguem loucas, à deriva, sem rumo, sem remo, sem rima, sem nada.
que naufraguem, que nadem muito para se salvar, mas que sobrevivam,
que não se afoguem. que experimentem a raiva de querer estar vivo.
mas essa raiva é só minha. é só meu ego comprando briga com o texto.
as palavras se defendem como podem. se enchem de plurais, se estendem.
e eu não entendo. não entendo a guerra, nem a paz, nem a regra, nem a raiva.
expiar as palavras com a força de esfregar a alma
até que ela ficasse alva. e de alva, com drama, fuleira,
ficasse vermelha. vermelha de sangue, de raiva, de bicho vivo.
porque vivo com fome. fome de tudo que posso e mais ainda
do que não posso. do que não devo e me atrevo. desembesto.
faço tudo o que sei e mais ainda o que não sei. faço errado.
e entre um erro e outro, acerto. conserto aos poucos um pouco
do que achei não ter mais conserto. me acerto. e é desconcertante
emendar as palavras sem medo, sem buscar um sentido certo, deixar
que elas se encontrem, que se percam, que se amem, que se odeiem.
que naveguem loucas, à deriva, sem rumo, sem remo, sem rima, sem nada.
que naufraguem, que nadem muito para se salvar, mas que sobrevivam,
que não se afoguem. que experimentem a raiva de querer estar vivo.
mas essa raiva é só minha. é só meu ego comprando briga com o texto.
as palavras se defendem como podem. se enchem de plurais, se estendem.
e eu não entendo. não entendo a guerra, nem a paz, nem a regra, nem a raiva.
terça-feira, 15 de outubro de 2013
quarta-feira, 9 de outubro de 2013
poliglota troglodita
J'ai des doutes
Ek twyfel
Имам сомнежи
Tengo dudas
我懷疑
Man ir šaubas
Ek twyfel
Имам сомнежи
Tengo dudas
我懷疑
Man ir šaubas
मुझे संदेह है
Imam sumnje
მე მაქვს ეჭვი
Ako adunay pagduha-duha
Ich habe zweifel
zalantza daukat
Jag tvivlar
私は疑問がある
tenho dúvidas
em muitas línguas
menos na sua.
terça-feira, 8 de outubro de 2013
Rita Lee e o lixeiro
Em 1980
eu tinha 5 anos e meu irmão, Marinho, 4. Éramos parceirinhos de 'fazer arte',
como diria nossa exausta mãe. Enquanto eu me pendurava em todos os lugares,
Marinho, mais comportado e medroso, ficava sempre vigiando. Se dava
problema (e como dava!) ele corria para chamar alguém.
Um dia
ele venceu o medo e me pediu ajuda para subir num tanque que havia no fundo do
quintal, assim poderia ver, sobre o muro, o caminhão de lixo passar. Criamos
então nosso pequeno ritual: ele sabia o dia e a hora, ficava atento ao barulho
do caminhão entrando na rua e, quando ouvia, dava o alarme e saíamos correndo.
Eu, mais velha e experiente, era rápida na operação de ajudá-lo a subir no
tanque, que era bem alto para o nosso tamanho. Rapidamente eu subia também para
cuidar dele.
No início fomos repreendidos, era perigoso. Explicamos então o
motivo e nossos pais ficaram curiosos – vocês querem subir no muro para ver o
caminhão de lixo? – mas bastou observar uma vez para que eles entendessem: não
existia nada mais divertido na vida do Marinho do que ver o caminhão de lixo
passar... ele acenava para todos os lixeiros e ficava encantado com a operação
do caminhão. Acordava cedo já anunciando “Hoje é dia de 'lixeilo!'”.
Devidamente
autorizados com a supervisão da mamãe, passamos (o que me pareceu) anos fazendo
isso. Na verdade devem ter sido só algumas semanas, mas eu nunca mais esqueci
esse nosso momento de descobertas.
- Marinho, o que você quer
ser quando crescer?
- 'Lixeilo'!
- E você, Monaliza?
- Eu quero ser a Rita Lee!
quarta-feira, 2 de outubro de 2013
9:35
saiu de casa às 9:35. era uma hora perfeita. as formigas operárias se espremiam menos na marginal pinheiros. algumas pessoas sonham com a liberdade, mas não saberiam exatamente o que fazer com ela.
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