terça-feira, 29 de novembro de 2011
UMA VEZ SÓ
Não há silêncio possível. Não há presente que se apresente certo. Há o incerto, como uma ilha, emerso com esforço onde há pouco havia um redemoinho de dúvidas, tristezas, apatia, covardia. As ilhas, porções mágicas de terra, cheias de luz e um calor diferente dos continentes, as ilhas, quem imagina?, também têm seus dias de frio, de chuva, de vento. Não há férias todo dia, mesmo que você viva delas. Porque não há tempo demais. O tempo é tão preciso como a vida e como a morte, nem mais nem menos. E sem tempo para ensaios, vive-se uma vez só.
sábado, 26 de novembro de 2011
Júpiter e nós
Ontem à noite, vimos Júpiter da janela. Falamos do calor, da noite bonita, fresca sem vento. Uma noite larga porque a manhã parecia muito longe. Uma noite leve porque não havia o peso do mundo. Haviam estrelas, Júpiter e nós, a flutuar nos meus sonhos, como os tubarões-baleia no mar.
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
PREVISÕES
Que tortura dormir só
Quando se acostuma a outro corpo
Que loucura é dormir junto
Outro peso, outro calor, outro barulho
Outra coisa é dormir bem
Porque há vezes em que falta espaço
E há vezes em que a gente se perde na vastidão da solidão
Há vezes em que a distância é uma dor
E há outras em que ela é uma droga cara que se toma só
Coisa da alma simples e trabalhosa como a meteorologia
Tão fácil de prever e tão difícil de acompanhar
Quando se acostuma a outro corpo
Que loucura é dormir junto
Outro peso, outro calor, outro barulho
Outra coisa é dormir bem
Porque há vezes em que falta espaço
E há vezes em que a gente se perde na vastidão da solidão
Há vezes em que a distância é uma dor
E há outras em que ela é uma droga cara que se toma só
Coisa da alma simples e trabalhosa como a meteorologia
Tão fácil de prever e tão difícil de acompanhar
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
SONHO BOM
Vou dormir derrotada pelo sono atávico, pelo cansaço irrelevante, pelos motivos mundanos. Minha rotina, minha história, minhas contas, livros, discos e sapatos, a maioria dos meus amigos, aliás, a maioria das pessoas, vivem neste mundo de 24 horas, de segunda a sexta, nos intervalos de sábado, domingo e feriado. Eu não sei bem onde vivo, mas pensar sobre derrotas me fez lembrar o limbo, onde vivem os derrotados. Não gosto do limbo. Venço o sono e aí me entrego a ele como gosto, com prazer.
Eu falo baixo
Eu falo. Mas você não ouve minha voz. Não houve o esforço necessário. Meu, de falar mais e mais alto? Ou seu, de às vezes ouvir, às vezes não ouvir e estabelecer um espaço tão pequeno entre as duas coisas que às vezes entendo e muitas vezes não entendo.?
terça-feira, 22 de novembro de 2011
Vivendo com gosto
Eu vivo com gosto. Gosto quando o sabor das coisas me faz sentir como um bicho, que precisa conter a fome às custas de razão e compaixão. Eu vivo com fome. Meu apetite variável, porém, me distrai, me confunde, porque o mundo vegetariano, ayurvédico, oriental e estranho me é tão bom quanto um t-bone mal passado ou algo simples como misto-quente, principalmente se o queijo puder ser palmira. Ou qualquer outro queijo, mesmo que o minas não me emocione. Eu penso sobre o gosto das coisas. Sobre como o sangue tem gosto de ferro. E o suor às vezes é salgado como a água do mar. Eu penso sobre o cheiro do mar e como posso sentí-lo se fechar os olhos e respirar com cuidado e atenção. Mesmo que esteja em São Paulo, num dia confuso de sol, ventania, calor e chuva de verão, mesmo que ainda seja uma primavera chorada, de mais flores amarelas no chão do que nas árvores da cidade. Me dá gosto sentir que essas coisas me atingem. Me ajudam a ver o tempo passar com uma precisão que antes eu não via. Me avisam, com mensagens simples, que algumas coisas parecem lentas, mas não adianta ter pressa. O gosto da pressa às vezes é doce e às vezes amarra, como as jabuticabas que só existem no Brasil. Gosto de sentir que me apego aos detalhes, mesmo que este apego não dure, mesmo que ele seja volátil como o álcool das coisas que flambam. Eu vivo com gosto, sim. Gosto mais quando as coisas me surpreendem e me tocam como eu não imaginaria ser possível. E gosto – e gosto tanto – de voltar em lugares, em pessoas, em bancos de praças, bancos de ônibus, bancos de metrô, como o metrô de Londres, que um dia me disseram que tinha um cheiro todo próprio e quando conheci, achei que próprio era um termo muito apropriado. Incrível como as coisas têm um cheiro próprio, um gosto próprio e nós, nossas maneiras mais loucas de nos apropriarmos disso. Eu vivo com meu próprio gosto e meu jeito confuso de gostar de coisas diversas. Diversos gostos. E há gostos amargos, como o da Guinness. Mas nem sempre tão bons. Há gostos que não são bons. O coração às vezes manda e às vezes obedece. O nariz também. A boca, então, nem se fala! Os gostos mudam. O importante é prestar atenção no gosto da mudança e não esquecer que a fome e a pimenta são temperos de dosagem delicada. Somos animais ingênuos, mas sofisticados. Vivem melhor os que vivem com gosto.
(texto inspirado no blog inspirador de Nicolla Raggio: http://vivendocomgosto.blogspot.com/)
(texto inspirado no blog inspirador de Nicolla Raggio: http://vivendocomgosto.blogspot.com/)
Doses novas
Sensações novas aos olhos, aos pés, aos cabelos que voam com o vento, que molham com a chuva, que crescem sem eu perceber. Emoções novas como primaveras novas, onde plantas florescem e perecem desavisadamente, como se fosse época sem ser. As novidades disfarçadas na rotina do todo dia, de segunda a sexta, ou no excesso de feriados ou na escassez de descanso. Ou ainda nas faltas que nada disso pode preencher.
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
ÚLTIMA SEXTA
Choveu uma chuva miúda mas molhou. Esfriou. Não é mais inverno mas hoje, não fossem as árvores verdinhas e o asfalto agora forrado de flores amarelinhas, nem seria notável a primavera. A verdade é que o tempo anda meio louco. Aliás, parece que todo mundo anda meio louco. As pessoas parecem não ter mais a mesma certeza. O tempo não parece mais ter a mesma firmeza. E as chuvas de verão agora chegam antes da hora.
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
Palavras sem palavras (em cem palavras)
Palavras faltam
Palavras sobram
Palavras transbordam
Como chuva
Como lágrimas
Como o que não podemos conter
Palavras dizem
Palavras mentem
Palavras sentem
O que às vezes não podemos dizer
O que não quiséramos mentir
O que poderíamos omitir
Palavras permitem
Palavras inspiram
Palavram imprimem
Transformam ideias e sentidos
Transformam sonhos e ideiais
Transformam pessoas
Palavras aproximam
Palavras afastam
Palavras entregam
Coisas que não posso explicar
Coisas que você não pode entender
Coisas que não podemos mudar
Palavras se perdem
Palavras enganam
Palavras encantam
Como cores
Como olhares
Como a lua
Quando nasce
Quando cresce
Quando morre
Quando cala
Sem palavras
Palavras sobram
Palavras transbordam
Como chuva
Como lágrimas
Como o que não podemos conter
Palavras dizem
Palavras mentem
Palavras sentem
O que às vezes não podemos dizer
O que não quiséramos mentir
O que poderíamos omitir
Palavras permitem
Palavras inspiram
Palavram imprimem
Transformam ideias e sentidos
Transformam sonhos e ideiais
Transformam pessoas
Palavras aproximam
Palavras afastam
Palavras entregam
Coisas que não posso explicar
Coisas que você não pode entender
Coisas que não podemos mudar
Palavras se perdem
Palavras enganam
Palavras encantam
Como cores
Como olhares
Como a lua
Quando nasce
Quando cresce
Quando morre
Quando cala
Sem palavras
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
Argueiros
Você se pergunta como chegou aqui. Pensa na resposta que já deu mil vezes - nunca uma igual à outra. Você se pergunta como acumulou tanta coisa, tanta história, tanto absurdo, tanto sonho, tanto dado. Você se pergunta como pode caber tanta memória se sentindo tão pequeno. E você se esquece que qualquer coisa no universo é feita da mesma matéria que a nossa, de poeira, partículas, argueiros.
Amanhã
Tudo fica para amanhã. Porque hoje é só mais um daqueles dias de eclipse. E a gente se esconde atrás da sombra da lua ou do sol, põe a culpa no tempo, na história, nos genes, no cosmo, mas de nada adianta. Hoje, amanhã, será ontem.
domingo, 6 de novembro de 2011
sábado, 5 de novembro de 2011
FELIZ
Fico triste que existam tantas canções tristes. Fico triste com os finais infelizes. E com pessoas infelizes. Fico triste que as coisas acabem. Fico triste com as árvores podadas. Fico triste com os tubarões que vão deixar de existir. Tanta coisa triste, tanta coisa para se entristecer, tanta tristeza no mundo… mas hoje estou feliz.
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