domingo, 19 de junho de 2022

prólogo

outro dia surpreendi as pessoas usando a palavra "prólogo". não foi intencional, como nunca é - as palavras pulam da minha boca como se estivessem vivas, e eu não consigo segurá-las - e para minha enorme surpresa, algumas pessoas não sabiam seu significado.

as pessoas não lêem Sheakepeare nem Oscar Wilde nem Machado de Assis. as pessoas não sabem quem foi Bukowiski, Dostoievski, Maiakovski.

que mundo pobre e absurdo esse do terceiro milênio.

há uma herança cultural em xeque. guardar as palavras é se eximir da responsabilidade de disseminá-las. por mais arrogante que elas soem.

sexta-feira, 5 de julho de 2019

tons de universo

no momento em que desejo movimentar as camadas de ar paralisantes que me levam à beira do abismo, atiro-me à gravidade dos fatos mas, na iminência da queda, a gravidade me ata ao solo, como se meus pés fossem raízes, e eu inteira árvore, dessas que dançam conforme o vento e ficam ainda mais poderosas sob os efeitos das tempestades.

meu desejo infantil pelo sol, se reflito, não é nada além de instinto de sobrevivência. o universo, porém, eu sei, é tão mais amplo, obscuro e apaixonante. reagir aos seus estímulos não precisa, sempre, de reflexão. não precisamos mais nadar contra a corrente o tempo todo.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

estranhos



não me importa a distância
a presença é maciça

mas me dói saber que agora somos estranhos
não nos conhecemos mais, nos esquecemos

não me importa seu desejo
a ausência é palpável

dezembro
teus beijos
nunca mais

teus beijos
nunca
mais


domingo, 18 de novembro de 2018

Morte obrigatória



Ando mansa
Mas minha fama
De briguenta
Me rende dividendos
Sou culpada e cúmplice
Vítima ou vampira,
Como diria a canção
Sou barbaramente ingênua
Resistindo a tudo que sei
Duvidando de tudo o que não sei
Desafiando o tempo, a vida
E a morte
Obrigatória


sexta-feira, 2 de novembro de 2018

acabo de reparar


acabo de reparar que

autossatisfação

e

autossuficiência

agora são juntos e têm dois esses.

terça-feira, 24 de julho de 2018

A grande escapada

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Tudo isso que eu queria te dizer
Existem palavras para isso?
Missspelling datilografado, grafado com dor
Como posso apagar, corrigir?
Há erros que não têm conserto
Riscos que corremos, sentenças inteiras rasuradas
Coisas pesadas e frágeis, esculturas de vidro, esmeraldas
Pepitas de ouro impossíveis de carregar nos bolsos
Há lastros valiosíssimos, mas eles nos levam para o fundo
É preciso ser leve para continuar a nadar
Me desculpe ser um peixe de sangue frio e sem memória
Teu aquário partido há muito está seco e esquecido
Não nos serve mais

O passado ficou aos cacos
Com o tempo os fragmentos ficam menores
E uma hora hão de desaparecer
Até lá, o exercício é desculpar e esquecer
É preciso encontrar novas correntes e seguir
Nadar contra ou a favor, mas seguir, sobreviver

Desde então eu navego a esmo
Para onde o tempo parece mais favorável
Nem sempre a direção é confortável
Tampouco segura, mas viver tem dessas
Grandes ondas inevitáveis de emoções
Apenas jamais deixar de navegar

O destino se apresenta aos marinheiros
Tolos, loucos, livres e sós

Nunca mais



E nessa briga, eu, contra eu mesma, não sei quem ganha e quem perde
Nesta briga de te querer e, mesmo sabendo o quão impróprios somos,
Me encontroneste emaranhado improvável, quase indescritível
As palavras se pegando, erroneamente, quase à força, como fazíamos...

Nada nunca mais foi igual
Daí meu medo e recusa
De tentar repetir