segunda-feira, 18 de agosto de 2014

sol frio

sobre aquelas letras na parede, ele alega que é inocente.
sobre aquela cerca que se ergueu de repente, não sabe.
alega que o que vemos é o que sempre existiu, nada novo.
então por que eles olham tudo com tanta surpresa e alarde?
por que tudo arde diante de nós e os peixes se afogam?
há de restar alguma coisa real, algo além de carnal e imoral.
há de existir algo mais além de rimas tão fáceis e inocentes.
há de haver alguma inocência, um verso sem ponto final
há de haver um dia em que as palavras se bastem, se abracem,
se perdoem neste mar infinito de vírgulas e interrogações.
sobre tudo aquilo que não puderam dizer, nem explicar,
sobretudo por aquilo que viram ruir, eles agora se riem, num
riso frouxo, sonso, buscando o brilho do sol num dia frio.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

silêncio de nada

o silêncio é uma arma transparente
de aparência translúcida, imune
aos impunes e sonoros absurdos.

o silêncio é uma pluma colorida,
de cheiro doce, carregada pelo vento,
orientada pelo norte, sem saber do rumo.

o silêncio derreteu a noite de meia lua,
saiu pela rua, se esvaiu em vontades sutis,
fechou os olhos e nunca mais disse nada.

[um dia o silêncio acabou. ou será que ele nunca existiu?]