quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

os dias que não existem

29 de fevereiro de 2012. dia que não se repete. dia que se despede com noite quente, de céu estrelado e lua que sorri feito o gato. dia de sorrir feito o gato, sonhar como alice, esquecer o que não existe, comer gelatina com gosto de beijo. lembrar das coisas boas, coisas que a gente marca como orelhas em algumas páginas para ler de novo depois.

o dom da sinceridade


por que custa tanto às pessoas acreditarem na honestidade?

Alison

Well, it's so funny to be seein ya after so long girl
by the way look, I understand
that you are not impressed
I heard you let that little friend of mine
take off your party dress
I'm not gonna get too sentimental
like those other sticky valentines
cuz I don't know if you were lovin somebody
I only hope it wasn't mine

Alison
I know this world is killin you
oh, Alison
my aim is true

well i see ya got a husband now
but did you leave your pretty fingers
lying in the wedding cake
you used to hold him right in your hand
but it took all he could take
sometimes I wish that I could stop you from talkin
when I hear the silly things you say
I think somebody better put out the big light
cuz I can't stand to see you this way


Alison
I know this world is killin you
oh, Alison
my aim is true

Alison, Elvis Costello

welcome note

neste blog não há verdades e mentiras. nem meias palavras, exceto quando elas dizem mais do que todas as outras palavras juntas. não há regras nem restrições.

porém só é bem vindo quem é bem vindo. se esse não é o seu caso, por favor, não volte.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

punching lessons

there are things that are just too tough to learn.

NADA


Senti-me esvaindo-me de cores, diluindo com movimentos escorregadios e imprecisos como fractais. Queria sentir dor, saudade, apego, mas não sentia nada. Tornei-me nada.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

COISAS ÚNICAS



Não há dias com dois meio-dias, mas há dias em que há duas meia-noites. E noites em que ela é engolida pelo verão. Há anos em que fevereiro não tem dia 29 e há anos bissextos, que têm. Sempre me pergunto o que acontece com quem nasce nesse dia... Há coisas que parecem únicas, até que de vez em quando não são.

quando me canso

sou incansável. me esgoto e começo de novo. sou insistente, me recuso a ser desistente daquilo que ouso conquistar. mas desisto, erro o tempo, descompasso do tempo certo. há talentos que tenho e outros que jamais terei.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

SEXTA-FEIRA DE CINZAS





A mim só interessa o amor que me é dado, sem recibo ou acordo de troca. O amor recebido como ele tem que ser, leve e feliz, natural como a luz do dia ou a escuridão da noite.

A mim só interessa amar quem quer ser amado. Quem me recebe sem combinar, sem esperar, que pode pecar por excessos ou faltas, mas que, como eu, peca porque são homens, animais lindos, burros e arrogantes, temerosos do próprio poder, seres confusos com obrigação e prazer, meros personagens que esquecem que escrevem a própria história e alimentam o próprio monstro.

A mim só encanta o que toca minha alma ou algo que eu não sei definir, mas sinto no peito sob a pele e os ossos com o pulsar da minha vida.

Para mim só vale a pena o que é bom porque o que é mau não me serve e dá muito trabalho. Então tem que ser bom, mesmo que esse conceito seja tão elástico e sujeito ao DNA de cada um.

A mim não interessa mais o que é ruim ou faz mal. Existe o carnaval, os dias limpos e os (poucos) dias sujos, a alegria no meio da tristeza que cantam os sambas e os blues. Existem os dias cinzas e os dias azuis, os dias que passam, cada um de uma vez, cada vez de um lugar ou direção. A eterna construção da vida que navega imprecisa em busca de precisão.

SEMÁFARO EM TRÊS FASES


Aquela fração de momento, em que você se pega observando todas as coisas atentamente, seus porquês e seus senões, todas elas esperando o que vai acontecer primeiro, mesmo que a ordem não necessariamente tenha importância. É complexo ver-se nessa posição, entre o que virá por si só se você souber esperar e o que nunca será se você não o fizer.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

meninos e meninas


http://www.youtube.com/watch?v=zHWurhDGLio

invade meu carnaval, é expulso, excluído. e ainda assim insiste, permanece, não desiste. está gravado até os ossos, no disco rígido que já nem existe mais, num pesadelo distante.

que animais somos nós? incapazes de esquecer a mordida no porco espinho a ponto de nunca mais querer sentir seu doce sabor?

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

OUTROS CARNAVAIS


Quando acaba o amor, sobram aquelas coisas que não fizemos, que não dissemos, que não pudemos um pelo outro. Acaba-se o perdão, a paciência a indulgência em se aceitar aquilo que não pode mais ser aceito. Acabam-se as possibilidades, os sonhos do que podia ser e não foi, sossega-se o frenesi, o encantamento, as chances e os momentos. Não restam nem mesmo as lembranças, porque elas também precisam ser apagadas, esquecidas, deixadas para trás, como se o passado já tivesse a distância suficiente que o tempo (que não cura) esmaece com outros aconteceres. Quando o amor acaba, uma estrela se apaga, ou duas, ou várias... algumas flores murcham, outras se incendeiam... e o universo se reorganiza, mesmo entristecido, para que outro amor possa nascer.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

afortunados

fortuna é a gente se achar muito mais perto de ter a melhor vida do mundo do que de ter a pior.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

ALGUM JEITO DE PENSAR


Pensamento inquieto, que se move como o fogo e a fumaça, se espalha sem que eu tenha controle, se alastra, devasta, devaneia. Pensamento perdido, iludido e distraído, alheio aos gols, aos sons, ao que acontece fora e ao redor. Pensamento louco, copiado, roubado, cheio de referências e citações. Pensamento que não cria, apenas copia algum jeito de pensar.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

SOBRE FINAIS E RECOMEÇOS


Estranho é a gente se sentir estrangeiro na própria cidade, desconhecido na própria pele, errático no caminho escolhido por escolha própria. Somos predadores que se protegem sem necessidade, por antecipação em vão. Quem procura o fim, o encontra fácil; e quem se prepara para ele apenas dirige um caminho mais longo e talvez mais rico ao seu inevitável encontro.

DE PERTO E DE LONGE


Um dia a tristeza que morava nos olhos dela encontrou a tristeza que morava nos olhos dele. Se entenderam desde o primeiro instante, fizeram amizade, se esqueceram do vazio que morava neles, quase invisível, mas que viam e que se viam, um nos olhos do outro. Aquele buraco negro que não sabiam o que era, não sabiam o que existia nele, naquele vácuo que estava ali, na infinidade do olhar de ambos. Se esqueceram disso porque se olharam muito de perto, viram outras coisas, se esqueceram do resto, se perderam no entorpecimento que trazia a companhia. Mas a tristeza não tem amigos e só se lembraram disso quando olharam para lados diferentes e distantes.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

PENSAMENTO DE DOMINGO

Domingos são necessários. Não há atrasos no domingo. Tomamos café preto como chá inglês, lemos o jornal infinito e suas infinidades de absurdos mais estranhos que a ficção. Temos preguiça da cidade que garoa em seu verão surreal e previsível, quente e escorregadio, molhado de suor e frio como uma febre. O samba está mais para bossa, a bahia longe, o rio perto, aqueles olhos que mudam de cor com o tempo perdidos no compasso vagaroso do domingo, que dura uma semana inteira para cansar e descansar. E depois tudo eternamente outra vez.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A curva do seu sorriso

Existe um momento de tumulto, de barulho e insanidade. E existe um momento de calma e silêncios vastos, tão quietos que parecem mais raros do que realmente são. Eu curto prestar atenção na mudança entre um momento e outro, aquele instante curto e fugaz que escapa quando estamos distraídos. Quando foi a última vez que você chorou? E a última vez que você sorriu? Eu curto o segundo da mudança, aquele frame que tem movimento e você imagina a emoção a partir do instante congelado. Minhas imagens são cheias de luz e sombras. Meus quadrinhos cheios de balõezinhos, porque eu gosto de muito texto, e eles seriam cheios de som e fúria, porque nascem da poesia que eu tenho na memória e uso com cuidado, quase sem pensar no instante que mudou.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Too old to rock n’roll. Too young to die.

Com a vida toda errada, eu vivo dos romances de 140 caracteres que se criam em minha cabeça de imaginação fertile, infantil, quase adolescente. Não me preocupa muito o mundo real, onde os homens envelhecem, enriquecem, trabalham como as formigas, esperando pelo inverno que às vezes é longo e chuvoso, com neve, às vezes algo que nunca vivi bem, mas que imagino como se fosse real, como se eu não precisasse me cortar para saber que dói. Me dói saber da vida errada como anda, mas me acostumo à ela, aprendo essa dor como se não houvesse jeito, como se eu já fosse velha demais para o rock n’roll e nova demais para o fim de tudo, como já diria aquela canção que não gosto.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

sol que queima

a planta sem flores é mais resistente mas também mais dependente do sol inflamável.

Mau humor e mau olhado


Combato o mau humor e o mau olhado sendo eu mesma, com minhas rezas, crenças, desculpas e proteções que nem sei explicar, mas que me salvam, me desobrigam de fazer o que não quero, me fazem forte e livre para escolher queimar à perecer, experimentar e errar ao conforto do acerto fácil e sem emoções. A pessoa é para o que nasce e não nasci para ser só isso, para ser só aquilo. Eu quero a confusão das escolhas. Quero vencer o limbo da dúvida porque qualquer das escolhas leva ao mesmo destino se você escolhe com coração e mente em acordo, mesmo que eles não possam estar equilibrados sempre. A vida do equilíbrio tem uma retidão sensível e impossível de ser padronizada, decorada, certeira. Ela se move como as nuvens e as bandeiras, como as estradas e as marés. A benção contra qualquer mau ou mal está onde você vai buscá-la, com a consciência de que também está em você.

PANTONE

Algumas cores e formas, mesmo únicas, não esqueço. Mesmo que não as veja, fecho os olhos e vejo. Não esqueço a textura do seu cabelo. Não esqueço a cor confusa dos seus olhos que mudam de cor. São como aqueles tons que você às vezes vê no céu num dia de tempo quente e instável, ou num mar distante e transparente, mas cheio de cor, cores que te conquistam no primeiro instante e você nunca mais vai esquecer.

Muitas vozes


Muitas Vozes

Meu poema é um tumulto:
a fala que nele fala
outras vozes arrasta em alarido.
(estamos todos nós cheios de vozes
que o mais das vezes mal cabem em nossa voz:
se dizes pêra acende-se um clarão
um rastilho de tardes e açúcares
ou se azul disseres pode ser que se agite
o Egeu em tuas glândulas)
A água que ouviste num soneto de Rilke os ínfimos
rumores de capim
o sabor
do hortelã (essa alegria) a boca fria da moça
o maruim na poça a hemorragia
da manhã
tudo isso em ti
se deposita
e cala.
Até que de repente um susto
ou uma ventania (que o poema dispara)
chama esses fósseis à fala
Meu poema
é um tumulto, um alarido:
basta apurar o ouvido.

Ferreira Gullar

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

A DISTÂNCIA DO TEMPO


É um pouco estranha essa sensação de já ter passado um tempo. Como se o afastamento quase (ou inclusive?) de toda a tensão, todo o excesso, de repente escoasse também os efeitos colaterais. Então por isso é estranho, porque depois de um tempo, a partir de certa distância, tudo passa a ser um detalhe na imensidão. Um mero detalhe, como os picos nevados do Everest, do Cho Oyo e do Kanchenjunga, que você só vê alinhados a partir de um determinado ponto do Himalaia, mas que seria só um horizonte bonito se você não soubesse que são as maiores altitudes do planeta. Subir às alturas, descer às profundidades… como medir o diâmetro de um amor e sua distância diametral necessária para que ele se prove possível e longevo?

FRESTA DE MOMENTO


O que se sabe do passado, mesmo passado há pouco tempo, é importante para se construir o que ainda não se sabe do futuro. Por isso o melhor tempo é o presente, o momento puro em que não se pode mudar o que já foi, tampouco impedir que o que ainda não foi deixe de ser. É confuso o momento presente – esse instante resoluto e indefinidamente curto, encravadinho na fresta da muralha entre o que já foi, o que ainda é ou ainda será.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

PEDIDO DE DESCULPAS


Compartilharam por um ano um caderno verde. Nele, bilhetes, declarações, desenhos, reclamações, pedidos, desabafos... Era uma coisa ridiculamente adolescente, como só uma paixão adolescente pode ser. Dessas que todo mundo deseja sentir um dia, quando as coisas importantes do mundo perdem importância, pois a notícia mais relevante do dia estava escrita em tintas coloridas no caderno verde.

Ela era Lalá, ele era Xuxú. Adoravam serem isso um para o outro. Não havia mais nenhum outro personagem importante nas histórias registradas ali naquele caderno. Os outros eram meros figurantes, satélites sem luz no pequeno universo do caderno verde.

Tinham 19 e 17 anos, mas em momentos distintos daquele ano ambos completaram 18 e celebraram com declarações e odes à maioridade. Tudo devidamente registrado no caderno verde. Momentos importantes da vida ali, escritos à quatro mãos – embora fossem ambos destros.

Anos mais tarde, por conta desses amigos que conhecem amigos e se conectam a outros amigos do jeito fácil que hoje as pessoas se conectam, se encontraram novamente. Muito da vida já tinha passado, mas sentiam, cada um em seus novos cadernos, que muito ainda havia por vir.

Lalá fez aniversário antes de Xuxú, como sempre. E lá foi ele, depois de tantos anos sem vê-la e nem saber muito dela, lá foi Xuxú dar os parabéns para Lalá com um pequeno presente embrulhado embaixo do braço: o caderno verde! E todos os seus registros de sinceridades e devaneios que haviam trocado naquele ano que antes parecia tão longínquo e agora parecia ter sido ontem.

Lalá ficou emocionada com o presente. Levou pra casa e resolveu ler aos poucos, com tempo, de maneira desordenada. Sentia que às vezes os “posts” no pequeno caderno de capa dura (que ainda nem poderiam ser considerados posts, mensagens, e-mails) eram como conselhos de um horóscopo, com reflexões filosóficas e esperançosas ou catastróficas, como só adolescentes ou apaixonados sabem escrever. Ela ria das aflições que hoje pareciam pequenas, e também das coincidências que mostravam que a vida é mesma feita de ciclos e, tal como as estações do ano, eles se repetem, mas nunca do mesmo jeito.

Na última manhã de janeiro Lalá abriu o caderno à esmo e procurou o que estaria reservado ali para sua mensagem do dia. Riu-se da coincidência com os fatos presentes:

Lalá querida, este é, oficialmente, UM PEDIDO DE DESCULPAS. Sei que devia ter te ligado ontem, mas sei lá... estava triste e sem vontade de falar. Não consegui prestar atenção numa única aula... minha cabeça rodando, sentindo-se oprimida por tanta coisa que transborda no meu coração.

Mas nesse pedido de desculpas, queria te dizer que não estou triste com você. Pelo contrário! Você só me faz sorrir! Você é meu sol particular.  E só de te escrever isso sinto que o dia será mais feliz amanhã e o sol vai iluminar aquela rua que você gosta, cheia de flores amarelinhas pelo chão. Te amo, Lalá! Não se esqueça!

Beijos,

Xuxú

Lalá fechou o caderno e olhou pela janela o dia iluminado lá fora. Existem desculpas que perdoamos eternamente. Ela teve vontade de registrar isso no caderno verde, mas não o fez. Aquele ciclo já pertencia à um verão passado e agora já era um novo verão. Um verão cheio de chuva, mas hoje o dia brilhava lindo, como previsto no seu pequeno oráculo particular de capa verde.