sexta-feira, 22 de julho de 2011

SENTIDOS

não dormi todas aquelas noites, esperando.
não tinha sono, nem sede, nem fome.
nada fazia sentido naquela espera.
nada fazia sentido.
mas eu esperei.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Nada importa, ele me ama

estava aqui, pensando bobagens.
então o flávio me ligou pra dizer oi.
no final da conversa, como sempre, ele disse:
- não esquece, eu te amo. e quando um idiota te contrariar, diz pra ele: nada importa, ele me ama!

COMENTÁRIO

seu sarcasmo me devasta. mas se não por ele, como é que eu vou gostar de você?

terça-feira, 5 de julho de 2011

INFINIDADES

há coisas prosaicas que são reconfortantes, como a infinidade das estrelas e das palavras. 

BOLAS CURVAS

racionalizar os sentimentos é como entender o baseball e a delicada arte de rebater bolas ruins com boas tacadas.

SILÊNCIOS

Digo com todas as letras o que você teme ouvir e recebo de volta o silêncio, cheio do que você não tem coragem de me dizer. 

domingo, 3 de julho de 2011

roubado de um mural

"The only way of knowing a person is to love them without hope" - Walter Benjamin

PALAVRAS DELES

Era um dia típico de inverno. Cedo demais para o que ele desejava fazer. Tarde demais para convidá-la para o que ela já devia estar fazendo. Mas ela não saiu naquele dia. Olhou para o início da tarde pela janela e sentiu um misto de dúvida entre ir e ficar, fazer ou deixar que fizessem por ela. Parar de pensar e apenas deixar que as palavras dele ficassem perdidas no ar, desintegrando sem maiores interpretações, como faz o tempo com as coisas que a gente não dá atenção.

sábado, 2 de julho de 2011

QUANDO ACREDITO

tenho muitas dúvidas. não encontro nada que seja mais certo ou radicalmente errado. me deslumbro e me desaponto com a mesma facilidade. e frequentemente com as mesmas pessoas.

acontece, porém, em vezes espaçadas, inesperadas até, de eu acreditar. e há uma beleza nessa crença que é imensa. e me pergunto se é disso que as pessoas têm tanto medo.

não é uma crença no amor, do qual nunca duvidei. não é uma crença religiosa, porque sempre achei que o universo independe disso. mas quando você me ouve ou me diz alguma coisa, mesmo que cada um diga coisas diferentes, eu acredito.

gosto de acreditar em você. gosto de te dizer apenas verdades. de tentar, verdadeiramente, ser alguém melhor porque você me lembra que isso é importante.

e quando acredito, nada é mais importante que isso.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

em 1985 era estranho comer sushi

em 1985 eu tinha 10 anos. tinha certeza que meu time era o palmeiras e iria amá-lo pra sempre, embora o menino corintiano tentasse me fazer mudar de ideia. por isso numa festa junina, no elevador, eu dei o primeiro beijo na boca de um menino são paulino - eu não estava nem aí para o time dele nem ele para o meu. estávamos interessados em beijar. adorei. tinha gosto de quentão! naquele dia, além beijar, aprendi a gostar de quentão.

meus irmãos eram mais novos e eu mais ou menos tinha que cuidar deles. então a gente jogava bola, andava de bicicleta e via tv à tarde em casa. cada um tinha seus amigos, seus horários, mas às vezes as coisas se misturavam. era divertido com eles. e também sem eles, porque em 1985 eu tive minha primeira turma de amigos mais velhos.

eu tive sorte em 1985. as meninas da minha idade, do prédio ao lado, gostavam de ouvir menudo. na minha casa, meu pai ouvia várias coisas que eu gostava e nada parecia com menudo, então eu não conseguia gostar de menudo. uma menina que morava no meu andar e tinha uns 14 anos parecia saber mais das coisas. ela era mais velha, um pouco estranha e também não gostava de menudo. ela tinha uns discos parecidos com os do meu pai. e foi assim que começamos a ouvir genesis e yes. e ensaiamos uma coreografia de "owner of a lonely heart". naquela época eu cantava esse refrão com minha própria versão, algo parecido com "only with on the rocks", que para mim fazia todo sentido do mundo.

nesse ano eu vi essa mesma menina estranha dar uma bofetada em outra maior que ela. sonhei com essa cena por anos. nunca esqueci o barulho do tabefe. sem perceber, na época, desejei aquela força pra mim se algum dia precisasse dela. a força da coragem de dar uma bofetada em alguém. nunca precisei da bofetada, mas precisei da força. e também acho que tive mais sorte do que juízo por isso. seja como for, nesse ano, 1985, aprendi o significado de várias coisas, inclusive o da bofetada.

me lembro também que em 1985 meu pai teve um dodge azul. um carro lindo e barulhento. o motor tinha um ronco que eu nunca esqueci. era tão especial que um amigo do meu pai, um pianista que eu adorava, fez uma música para ele. "dojão azul". nessa época meu pai teve também um landau, que eu gostava ainda mais. não me lembro qual veio primeiro, se o dojão ou o landau. só me lembro que o landau era hidramático e tinha o banco emendado, gigantesco. e me lembro de imaginar que estávamos num avião quando andávamos naquele carro.

em 1985 me lembro de ter estudado a guerra fria na escola. foi o ano em que acabou também a ditadura militar no brasil. foi um ano de grandes mudanças sociais e econômicas no mundo inteiro. eu tinha só dez anos e tinha medo da guerra, dos militares, embora tudo isso ainda não fizesse muito sentido para mim. eu tinha medo dos caras do kiss, também. mas deles eu curtia ter medo.

eu não fazia a menor ideia do que seria minha vida dali pra frente. eu tinha vontade de ser astronauta, de ter uma moto e de viajar o mundo todo pegando carona. eu tinha vários sonhos contraditórios já em 1985. eu ainda não tinha comido sushi, mas já sabia que gostava de ostras porque um dia, na praia, para contrariar minha mãe, eu aprendi a comer o molusco viscoso e... foi legal.

é curioso parar de vez em quando e viajar até uma época remota da sua história. você descobre vários detalhes, momentos, pessoas e coisas marcantes na própria memória. algumas coisas nem são tão legais de lembrar. mas até isso, até os momentos difíceis são interessantes quando os colocamos assim em perspectiva. diz muito sobre a pessoa que somos agora. e talvez também diga muito sobre as pessoas que queremos ou não queremos ser.

hoje pensei em 1985. e em como era estranho comer sushi, falar com pessoas distantes, viajar e ter estabilidade financeira naquela época. não que eu pensasse muito sobre isso na época. mas em 1985 eu achava que estava começando a entender as coisas...

BEM OU MAL

Não sei que mal há em querer estar mais perto. Não sei no que isso te faz mal. Não sei porque você se afasta. Não sei porque eu dou um passo para frente e você dá um para trás, como num balé às avessas, um filme do David Lynch. Nossos lábios fora de sinc, dizendo coisas ao contrário, atraídos e desencontrados. Não sei porque isso funciona. Eu diria que não me importo, mas não é verdade. Funciona, mas não me faz bem.